F1 Garantir dinheiro dos pilotos pagantes ou apostar em pontos para o Mundial? - Julianne Cerasoli Skip to content

Garantir dinheiro dos pilotos pagantes ou apostar em pontos para o Mundial?

Há pouco tempo, era fácil: o piloto pagante trazia o dinheiro; o “assalariado”, o talento. E as equipes poderiam escolher pelo caminho mais fácil a curto prazo, de ter a grana em caixa e se virar com o Zé Mané, ou apostar no talentoso e tentar financiar-se por meio do dinheiro trazido por mais pontos no campeonato, como vimos no post de ontem, e pela publicidade positiva em ter bons resultados, atrair patrocinadores, etc.

Notadamente após a saída das montadoras, ao final de 2009, o cenário se tornou muito mais complexo. Tanto, que pilotos que não levam patrocínio, como Kamui Kobayashi, viraram raridade no meio do pelotão. Enquanto, nos times de ponta, grandes pilotos atraem grandes patrocinadores, do meio para o final do grid, pilotos com patrocinadores ganham as vagas.

Isso porque as empresas logo perceberam que a melhor forma de vender suas marcas era associando-se a uma jovem promessa e, com isso, automaticamente ganhando espaço de luxo nos carros do meio do pelotão a um preço bem mais acessível.

Assim, nascem fenômenos como Perez e Maldonado. Por mais que o venezuelano tenha mostrado uns parafusos a menos nestas duas primeiras temporadas, é difícil enquadrar um campeão de GP2, vencedor de GP e que colocou a Williams no top 5 no grid por quatro vezes em 2012 na velha definição de pagante braço duro. O mexicano, então, nem se fala. Além de ter arranjado vaga na McLaren, ainda abriu caminho para Gutierrez, que venceu três corridas em sua temporada de estreia na GP2.

Em escala muito menor, Nico Hulkenberg leva seu dinheiro da Dekra, mostrou consistência e, não coincidentemente, é um nome forte no mercado e parece acertado com a Sauber. Os suíços seguiram a nova cartilha à risca: fizeram uma escolha acertada com Perez em 2011, apostando em um menino então com 21 anos e muita grana por trás, gerando condições financeiras de fazer um bom carro em 2012. Com isso, Perez respondeu na pista e fez com que o time ganhasse duplamente, brigando atualmente pelo quinto lugar no campeonato – e por mais dinheiro. Assim, tornou-se o melhor lugar para um piloto de meio de pelotão mostrar serviço, atraiu mais gente talentosa, ganhou poder de barganha. Logo, hoje pode unir dinheiro e talento em sua dupla e seguir em linha ascendente.

Dependendo da situação da equipe, há outra fórmula interessante: quando a distância para os rivais é tão grande que mais vale o dinheiro de um e a experiência de outro – que vai ajudar no desenvolvimento e para cavar as oportunidades que aparecerem. É o que Caterham e Marussia vêm fazendo ao manter os “assalariados” Glock e Kovalainen ao lado de pagantes. E, ao menos por enquanto, Glock deu um baita lucro à equipe com o 12º lugar de Cingapura, que garante, no momento, cerca de US$18 milhões a mais aos cofres do time! Porém, não seria de estranhar que essas equipes apostassem em dois pagantes com certa experiência para dar aporte financeiro a seu crescimento.

O caso da Williams

Endinheirado ou não, apostar em um jovem é sempre um risco, como percebeu a Williams. O time vinha tentando uma estratégia de meio termo, com o talento de Rosberg e o desconto que Nakajima trazia dos motores. Ia de mal a pior financeiramente até que chegou Maldonado com o gordo cheque da PDVSA. Em um ano, a equipe estava no azul, conseguiu organizar-se para fazer um bom carro e, ainda assim, contratou um segundo piloto pagante. Contudo, não há muitos Perez por aí e faltaram os resultados para dar o passo seguinte.

Dá para imaginar que a Williams tem carro para lutar com a Sauber pelo sexto lugar entre os Construtores, ou seja, levando em consideração os números do ano passado, poderiam estar ganhando cerca de US$10 milhões a mais do que pela atual oitava posição. E, acreditem, ainda entram na conta das equipes prejuízos com batidas e na imagem. Calcula-se que Maldonado leve cerca de US$ 30 milhões/ano; Senna, mais US$ 12 milhões. Será que, agora que o dinheiro venezuelano e brasileiro já ajudou o time a sair do buraco, continua valendo a pena?

Tudo indica que eles mesmos se perguntam isso, a julgar pelas recentes declarações do diretor-executivo Toto Wolff, de que “tem de pesar as opções a curto e a longo prazo e às vezes  o que é melhor agora pode não ser o melhor no futuro”. Afinal, uma saída para a Williams seria dar chance ao promissor Valtteri Bottas – que também traz patrocínios, mas não do mesmo nível de Bruno Senna – na tentativa de unir fundos e talento.

O problema é dar um passo maior que a perna, como a Force India descobriu, ao apostar todas as fichas na luta pelo quinto lugar entre os Construtores e ficar devendo no desenvolvimento inicial do carro deste ano. Com uma dupla competente, recuperou-se nesta segunda metade, mas provavelmente não a tempo de reaver o sexto lugar de 2011. Resultado: para 2013, volta a leiloar uma vaga ao lado de Di Resta, ainda mais com os negócios extra-F-1 de Mallya indo de mal a pior.

9 Comments

  1. Julianne,

    Será que não teria sido uma escolha mais sensata, a Williams ter mantido a dupla do ano passado com o Barrichello e Maldonado, unindo a experiência com a velocidade do novato? Lembrando que o Barrichello também estaria trazendo patrocinadores, além do histórico de se envolver em poucos acidentes.

    Abs.

    • Em retrospecto, acredito que sim.
      O patrocínio do Rubens não era comparável ao do Bruno e o time era dirigido pelo Parr, um advogado sem qualquer vínculo com a F-1 que recebeu carta branca do Frank Williams para tirar a equipe do buraco. Hoje, ele não está mais por lá e será interessante observar a postura que eles tomarão para 2013. Certamente, o cenário é diferente de 2010.

  2. Juliana, vc é ótima jornalista, parabéns, pelo sempre “pulo do gato”do artigo. Acho bem possível duas possibilidades na Wiliams:

    1- Bruno Senna e Pastor Maldonado e o Bottas na GP2 ou Renault, porque ja falou que não tem dinheiro , só velocidade jovem….

    ou

    2- Pastor Maldonado na Force India, e Bruno Senna e Bottas na Wiliams.

    Vc acha que qual possibilidade é maior??

    AHHHHH esse Holandezinho ai o Frinj ( nao sei bem como escreve) , esse jogou o Bianchi pra fora igual o Senna fez com o Prost no tri… esse nunca vai precisar pagar para correr…

  3. Julianne seguindo sua linha, vc acha que o Bruno Senna seria uma ainda uma aposta valida ?
    Ele nunca foi campeao de nada , nao ganhou de seus companherios de equipe na F1 , nao bate, mas tambem nao classifica bem , nao seria o caso de investirem num garoto mais novo e com um historico vitorioso ?
    Seguindo no tema Williams, vc ve uma movimentacao clara para o Bottas chegar , chegando , como vc ve a equipe tecnica deles entendo que sem um piloto lider, nao digo que seja experiente a Williams nao vai ter os resultados que poderia apesar de todo o $$$ do Chaves e do Eike Batista.
    Outra coisa, como vc ve a Lotus, que contrata um Campeao Aposentado e um Destruccion Derby Driver e esta la em cima na tabel quase batendo a Mclaren ??

    Te agradezco de antemano, como sempre vc sempre responde a minhas perguntas e eh uma das melhores que temos ahi falando de F1.

    • Pensando em todo o cenário complexo que expus no texto, não acredito que Senna seja o melhor piloto para a Williams no momento. Na verdade, talvez nem o Bottas seja.

      Eles estão organizados financeira e tecnicamente e precisam de resultados, mas de qualquer forma seria um risco. Bottas vai demorar muito para se adaptar? Senna, em seu segundo ano, conseguiria melhorar em classificação? E Maldonado, limparia os erros sem perder a velocidade? Quem seria esse outro piloto mais “garantido”?

      É difícil falar de fora, mas a impressão é de que há uma indefinição e possivelmente grupos dissidentes dentro da própria equipe.

      Deixei a Lotus fora do texto de propósito porque é um caso à parte. Correram o maior risco de todos no grid, é de certa forma incrível que tenha dado tão certo. Falarei mais sobre eles em breve!

      • Estranho o Adrian Sutil não parecer como candidato, pois em ritmo de corrida ele parecia um piloto mais “garantido”. Tá certo que ele se envolveu em confusões extra pista, mas o Hamilton também vive até hoje se metendo em confusão…

      • Julianne,

        Já que na Ferrari não é mais possível, Campanha Kobayashi na Williams. O povo japonês, que gosta tanto de F 1, deveria apoiá-lo maciçamente.

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        Julianne,

        Já que na Ferrari não é mais possível, Campanha Kobayashi na Williams. O povo japonês, que gosta tanto de F 1, deveria apoiá-lo maciçamente.

  4. Ju, vendo seu post, fico à me perguntar o quanto essa F-1 ainda muito dependente da aerodinâmica dificulta a garimpagem dos bons valores, afinal se uma equipe não possui um bom túnel de vento, fica difícil fazer milagres na pista…Na realidade, por mais genial que seja Newey, fico imaginando o que será em 2014, com novos motores e carros menos dependentes da carga aerodinâmica…Penso que seria salutar vermos carros mais dependentes de chassis/motores para podermos ter brigas entre pilotos, e não apenas entre engenheiros…Tudo ainda está tão inflacionado que corremos o risco de não ver pilotos combativos feito Koba fora da disputa! Algo está errado na F-1!


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