F1 De piada a potência: Os méritos da Red Bull - Julianne Cerasoli Skip to content

De piada a potência: Os méritos da Red Bull

Eles eram a piada do paddock. Um carro mediano, marcado pela falta de confiabilidade, e ações de marketing que não combinavam com o ambiente sisudo da Fórmula 1. Cinco anos depois, conquistariam os títulos de pilotos e construtores. A trajetória da Red Bull na categoria mostra como o sucesso no esporte depende de uma série de fatores – e de timing.

A equipe optou por comprar a estrutura da antiga Jaguar e Stewart e iniciou seu projeto em 2005. Foi uma barganha: pagaram US$ 1 pelo time falido e assinaram um compromisso de injetar US$ 400 milhões nas três temporadas seguintes, troco de pinga para quem vende mais de 4 bilhões de latas de energético ao ano.

A estratégia com os pilotos foi contratar um experiente e usar o segundo carro para promover alguém com identificação comercial com a empresa. O primeiro ano foi até melhor que o esperado: sexta no mundial, com resultados bem melhores que a Jaguar. Mas ainda faltava muito para escalar até o topo.

Faltava, por exemplo, motor – e a equipe trocou o Cosworth pelo Ferrari em 2006 e pelo Renault em 2007 – e um forte corpo técnico – e contrataram Adrian Newey, na época tido como ultrapassado após alguns carros ruins na McLaren. Quando chegou à equipe, o inglês encontrou uma obra em andamento:

“A continuidade é muito importante. Quando a Red Bull correu pela primeira vez em 2005 era, na verdade, uma Jaguar pintada de azul. Depois houve uma ascensão no desenvolvimento da cultura, com muita gente chegando. Foi um período de mudanças rápidas e demorou para nos ajeitarmos e desenvolver uma maneira de trabalhar e ferramentas como o túnel de vento e os simuladores. São coisas que não se compra em lojas de departamento.” – Adrian Newey.

Fazer e desenvolver um carro de F-1 não depende apenas das ideias vindas da prancheta de um mago. Tudo tem de ser bem planejado e executado. As três temporadas seguintes serviram para arrumar a casa. Quando todo o processo funcionava bem, veio a chance do grande salto da Red Bull: um regulamento totalmente diferente, que colocava as poderosas McLaren e Ferrari em pé de igualdade. Organizada, com pessoal competente em todas as áreas e ótimo orçamento, a Red Bull surgiria como equipe grande em 2009.

“Demorou quatro anos para que as coisas se acalmassem e a grande mudança no regulamento de 2009 ocorreu em um bom momento para nós, pois coincidiu com o ponto em que começamos a trabalhar bem juntos, algo que tornou o grupo mais coeso e, ao manter isso, a equipe continua crescendo.” – Adrian Newey

De certa forma, a história da Red Bull se confunde com a de seu grande astro. Sebastian Vettel deu seus primeiros passos na F-1 em 2005, testando pela Williams. Desabrochou entre 2008 e 2009, teve um ano vitorioso e errático, assim como a equipe, em 2010 e hoje luta pelo terceiro título com ares de veterano.

Sentados no sofá, reclamamos da estratégia de um, do carro de outro. Parece tudo simples. Mas a trajetória da Red Bull mostra como não dá para personificar o sucesso na Fórmula 1.

20 Comments

  1. Êta pinga cara! E que vale exatamente o quanto tonteia.

  2. Julianne
    Nesta história o que eu acho mais engraçado, é que para correr em 2008 a RB queria o Fernando Alonso, mas ele acabou optando correr pela Renault. O dono da Red Bull chegou a oferecer o dobro de salário para o espanhol…hoje eu acho q. o Alonso correria de graça…kkkk.
    PS.: O mais engraçado sao os comentéarios das pessoas achando q. ele (Alonso) ir pra RB naquele época seria um desperdício….kkkk
    Como é a vida 🙂
    Link com a reportagem de 2008: http://esportes.terra.com.br/automobilismo/formula12008/interna/0,,OI2734108-EI10882,00.html

  3. Muito bacana a RedBull bancar uma equipe de F1.

    Mesmo sendo “apenas” uma ação de Marketing, ainda assim é muito mais bem sucedida do que outras no passado.

    Até mesmo montadoras de grande nome no mercado e que injetaram quantias absurdas de dinheiro em suas respectivas equipes, padeceram devido uma gerência inepta e ficaram pelo caminho em meio à crise financeira na Europa.

    A RedBull, cujo negócio principal não tem nada a ver com carros, conseguiu criar um time de primeira com uma estrutura fantástica e está há alguns anos passando o rodo nas equipes tradicionais e poderosas.

    Quando Alonso disse que lutava contra Newey apenas, ele nos dá a medida exata de seu desespero e passa uma idéia totalmente equivocada do quanto é complexo o caminho do sucesso na F1.

    Espero que outras empresas se contagiem com o êxito da RedBull na F1 e sigam seu exemplo, que já nos premiou com atuações fantásticas, como a de Yas Marina e outras absurdas, como Vettel e Weber batendo um no outro!

    Isso é Formula 1.

  4. Julianne: “US$ 400 milhões nas três temporadas seguintes, troco de pinga para quem vende mais de 4 bilhões de latas de energético ao ano”
    Investir 10% do faturamento de uma grande empresa é MUITA coisa, é considerando um investimento de ALTO RISCO. Foi uma grande tacada que deu certo. Lembre-se que $4B/ano não é lucro, é faturamento.
    Abs.

    • São 4 bilhoes de latas de energeticos por ano, e não de faturamento, que é maior que isso, e o investimento na f1 é 400 milhoes em 3 anos, ou seja aproximadamente 133 milhoes por ano.

      • Esse povo que sabe ler, mas não entende…

  5. Eu de novo. Fazendo uma analise mais profunda seria um MASTER HIGH RISK este investimento. Pois $400milhoes foi o investimento inicial, em algo que – baseado em experiencias anteriores – tinha tudo pra dar errado, alias em uma epoca onde o faturamento da Red Bull era menos do que 4B/ano.
    Foi investido este montante sabendo que nos proximos 2 ou 3 anos só teriam prejuizo. Até 2011 a Red Bull já tinha investido $1B na categoria. Com o dinheiro que “ganham” na F1 este valor ainda nao foi revertido. O q acontece sim é o ganho da ação de Mkt que um investimento tao pesado e com sucesso na F1 gera: penetração e consolidacao em mercados antes inexistentes: toda a Asia e America Latina(base do crescimento mundial nos ultimos anos e nas proximas decadas).

    • A questão do faturamento da Red Bull e de suas estratégias de marketing é um assunto à parte. Eles têm uma postura de focar em marketing indireto bastante peculiar, questionada por muita gente do meio. Infelizmente, não consegui localizar os dados, mas o investimento é absurdamente maior do que outras empresas e raramente é aplicado em mkt direto. Aí entra tudo, de inúmeros esportes radicais a times de futebol. Imagina o quanto não ganharam com o RB Stratos, por exemplo?
      Note que são 4 bilhões de latas de energéticos, e não de faturamento. E que a equipe não se mantém apenas com dinheiro da própria Red Bull. Aqui vão mais alguns números: http://www.totalrace.com.br/blog/juliannecerasoli/2011/02/25/patrocinar-uma-grande-equipe-e-um-otimo-negocio/

      • Uow, faturamento global RedBull 2011: $26B! Subestimei os caras.
        Quanto ao artigo “Patrocinar um Grande Equipe …” eu já tinha lido e é ótimo!

  6. O que impreciona nesses caras é o trabalho enxuto e pontual, ao contrário dos anos dourados da Ferrari de Shumacher que torrava muito para vencer, ao passo que hj requer-se resultados e corte de gastos…Impreciona como uma “produtora de energéticos” tenha um túnel de vento perfeito, ao passo que uma “mítica” produtora de automóveis não possua um túnel de vente calibrado (incompetência pura)!!!

  7. Hehe, imprecionado com 2 ss, kkkkkkk

  8. Olá Julianne,

    Agora olhando para a outra extremidade do Grid.

    O que leva uma empresa a investir numa HRT ? Qual o benefício em andar na última posição, não ter quase nenhum patrocinador e só ser lembrada quando os pilotos fazem alguma besteira na pista?

    Abs.

    • Ricardo, desculpe a intromissão, mas a lógica é que o patrocínio pode ser lido até mesmo porque está vendo a corrida no autódromo, tamanha a falta de velocidade dos carros.

      • Ricardo, eles basicamente não têm patrocinadores, apenas os trazidos por seus pilotos. Em relação à empresa que estaria comprando a equipe, vejo um caso semelhante à Genii, guardadas às devidas proporções: um grupo de investimento compra um negócio por uma barganha apenas para tentar vendê-lo a um preço maior. E deve ser justamente o caso dos donos atuais, que compraram praticamente uma equipe fantasma (fábrica alugada e praticamente cada peça sendo feita por uma empresa terceirizada) e estão vendendo algo muito mais bem organizado e centralizado, com sede própria.
        Acho a estratégia da HRT interessante: note que eles buscam pilotos em mercados emergentes e no último ano fizeram a aposta – no meu ver, acertada – de não apenas vender assentos, mas também contar com o De la Rosa para terem uma base confiável tecnicamente.

        • Julianne,

          Faz todo o sentido o que você diz. Provavelmente os donos atuais são um fundo de Private Equity, são investidores que compram um negócio pequeno, estruturam e vendem por um valor muito maior.

          Eles devem ter aproveitado naquela época o convite do Max Mosley de iniciar a equipe pagando uma taxa muito menor e coincidência ou não, eles acabaram de se mudar para a nova sede.

          Ou seja acabaram de estruturar o negócio e é hora de passar para frente com lucro. No fundo eles não são tão bobinhos assim.

          Abs.

  9. Julianne,

    Realmente, poucos apostavam na Red Bull como equipe. Seja jornalistas, dirigentes ou pilotos.

    Ah, e os pilotos… lembrei de dois casos.

    Conforme bem citado pelo pelo JL acima, a Red Bull ofereceu um contrato à Fernando Alonso para a temporada de 2008. O espanhol que depois que se separou da McLaren, limitou-se, apenas, em conseguir um lugar na Ferrari.

    Lembro que um ano antes, a Red Bull sondou Juan Pablo Montoya para temporada de 2007, o colombiano que vivia as turras com Ron Dennis, não aceitou o convite, sair de uma equipe grande para uma equipe média, assim como fez Coulthard… citou na época.

    Montoya foi parar na Nascar, e na minha opinião, esse sim, foi um verdadeiro desperdício.

  10. Eu lembro do início da Red Bull na F-1. No primeiro ano não levei muito a sério, mas quando eles anunciaram a contratação de Adrian Newey em 2006, eu vi que a coisa era séria. Se fosse só pra aparecer, tentaria algum piloto famoso em fim de carreira pra isso. Mas contratar um dos melhores, senão o melhor, projetistas da F-1?!
    Óbvio que o trabalho não renderia já no primeiro ano, mas eu sabia que era um trabalho de longo prazo, que agora colhe frutos fartos.
    A mim o sucesso da RBR não surpreende em nada. Quem fez piada com a RBR em 2006 é que deve rever conceitos de planejamento, pois era um tanto óbvio que daquele mato viria coelho.

  11. Ótima visão. E me faz pensar as vezes em qual teria sido o sucesso da Fittipaldi se a nossa paciência fosse igual a deles.

  12. A Red Bull é o que é não somente por causa do dinheiro, mas sim por ter investido em pessoal altamente competente e em estrutura. E também teve paciência com os fracassos iniciais, principalmente nos 3 primeiros anos.

    Não sei se é regra, mas o imediatismo não deve ser algo comum ao povo austríaco. Se tivessem desistido lá em 2009 e, sei lá, vendido a equipe para um qualquer, acho que seria só mais uma equipe de meio do grid.

    Acho que a Red Bull vai longe e nem falta muito para completar 10 anos na F1, o que chega a ser surpreendente para uma fábrica que não tem qualquer produto diretamente voltado para o mundo automotivo.

  13. Rodrigo Rocha:
    Adrian Newey foi chamado à F-1 pela primeira vez em 1980 pra desenhar os carros da equipe Fittipaldi. Em 1982 a Fittipaldi fechou as portas. A “demora” por bons resultados espantou patrocinadores e a equipe agonizou nos últimos anos. Imediatismo nosso? Sim, mas a Red Bull não teve só paciência, como também $$$ pra se sustentar à vontade até os resultados aparecerem.


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