Foi a preocupação com os gastos dos testes de pista que deu o empurrão que faltava à era dos simuladores na Fórmula 1. Hoje, é tão preciso o trabalho feito fora dos circuitos que a margem de erro do acerto do carro, de asas ao mapeamento de motor, é menor que 1%, mesmo antes de entrar na pista.
Isso é algo que deve ficar claro quando falamos em simuladores na F-1: eles nada têm a ver com joguinhos de videogame e não servem para treinar os pilotos – no máximo, ajudam a relembrar os traçados. “Se o jogo fosse 100% real, seria tão difícil que quase ninguém conseguiria sair do lugar”, explicou Bruno Senna, que teve de se preparar via Playstation para o GP dos Estados Unidos de 2012.
Para se ter uma ideia da precisão, as equipes chegaram ao Texas sabendo detalhes como o consumo de combustível por volta, velocidades e marchas em cada curva e até qual o tipo de configuração aerodinâmica mais adequado. Isso, em uma pista em que apenas havia sido feita uma apresentação, com a Lotus.
Os dados da pista são coletados com antecedência. “Quando vamos para um circuito novo, por meio de fotos de satélite e plantas fazemos um modelo do circuito e cada equipe tem o seu programa de simulação que é capaz de reproduzir exatamente a volta de um piloto”, explica o engenheiro brasileiro Ricardo Penteado, chefe de motores da Renault na equipe Lotus. “Há um catálogo gigantesco com todas as peças do carro. Você monta o seu carro nesse programa de simulação e cada peça do carro está modelizada, então você sabe qual é a influência de cada peça no conjunto final do carro. Quando você lança isso no simulador, ele analisa qual o máximo de aderência, qual o máximo de torque de motor que ele vai poder passar para a roda – o que vai resultar na posição do pedal do piloto.”
Assim, os pilotos não usam os simuladores apenas para aprender o traçado, mas também trabalham com um acerto bastante semelhante ao que usarão na pista. Porém, eles mesmos reconhecem que a tecnologia não dá conta de tudo. “Quando chegamos, buscamos saber qual o nível de aderência que teremos e observamos como são as zebras”, revelou Felipe Massa.
Nesse contexto, dá para interpretar as recentes declarações de Kimi Raikkonen, para quem o novo simulador da Lotus não fará muita diferença, como o padrão Kimi de não cultivar expectativas. Porém, se o finlandês, cuja capacidade de aprender pistas novas é particularmente impressionante, não se animar em ir a Enstone dar umas voltas para acertar o carro e prever o comportamento com peças novas, o piloto de testes o fará. E certamente a equipe ganha com isso. Sempre haverá aqueles que se sentem mais confortáveis testando o máximo possível – como Fernando Alonso, que deu 300 voltas na pista texana antes de pisar em Austin – e aqueles que preferem descansar para chegar às provas com baterias recarregadas. Questão de estilo. Mas podem ter certeza que o simulador não ficou parado.
Mas seria possível tornar-se um piloto treinando apenas no simulador? Esse assunto fica para amanhã.
7 Comments
Jú, o que eu gostaria de saber é se todo o desenvolvimento dessa tecnologia tenha saído mais barato do que os testes em pista.
Sim, é mais barato porque não é um investimento contínuo como o teste de pista (transporte dos equipamentos, despesas com pessoal e peças – imagine que são mais motores, câmbios, pneus, etc.).
Julianne,
Muitíssimo obrigado por abordar este assunto pelo qual tenho grande interesse de saber, pois sou de uma geração bem mais velha e não tenho lá essas intimidades com o fantástico mundo virtual de hoje, sendo apenas usuário básico de computador e internet (mas me sinto em excelente companhia ao saber que Adrian Newey ainda começa as suas maravilhas na prancheta, rsrsrs). . .
Essa primeira parte já dá uma ótima idéia de quão sofisticados e avançados são esses simuladores. A segunda parte, que você promete já para amanhã, vai responder ainda mais e melhor à minha curiosidade, diante dos casos Mardenborough e Ordonez, e também a saber se é verdade o que muitos jovens afirmam, de que certas manobras que se vê nas corridas de F 1 são facílimas de fazer, com base na experiência que eles tem nesses games vendidos no mercado. Eu penso que na vida real não é tão fácil assim – em especial no traçado de urgência, circunstância em que se lida com peso de verdade, que se desloca de acordo com as Leis da Física, além da força G atuando em cima do piloto.
Abraços.
Hehe, caro Aucam, acrescentaria também a “força da sobrevivência”, rsrsrsrs, afinal manobras como Grosjean fez em SPA beiram a irresponsabilidade!!!
Ju, vendo a precisão desses simuladores, aliando-se a isso um regulamento continuísta, temos uma categoria muito próxima e extremamente competitiva!
Julianne, imagino que você vá comentar amanhã o tal programa que dá a chance ao vencedor de um campeonato mundial de videogames (acho que playstation) de participar de campeonato de endurance e de fazer parte de uma academia de pilotos, certo?
Julianne, li seu artigo e fiquei imaginando como seria um simulador desse. Pela sua descrição parece que esses simuladores da Formula 1 sejam tão detalhados quantos os simuladores de pilotos de aeronaves. Coloca-se o “carro” em algum tipo de plataforma para os movimentos (subidas, descidas, curvas, etc), volante, freios e acelerador, marchas, etc, simulando a operação real desses elementos (seu eu fosse sugerir algo para simular a força G, diria para por a plataforma num tipo de centrífuga, como a NASA faz). Mas voltando da “viajada”, tendo a “máquina” pronta então é coloca-la para “correr” nas pistas. Penso que o sistema do simulador dividido em máquina e pista facilita atualizações como novas características aos “carros” ou acrescentar novas pistas. Imagina conseguir “brincar” num desses deve ser uma experiência e tanto, será que a Redbull não tem alguma promoção desse tipo?