Lá se vão mais de três meses do acidente – que até hoje parece surreal – de Jules Bianchi no GP do Japão. O legado da batida de maiores proporções na Fórmula 1 dos últimos 20 anos começa a tomar forma. E deixa muito a desejar.
Nesta semana, tivemos duas notícias indiretamente relacionadas ao acidente que me chamaram a atenção: a Pirelli cobrando que as equipes se movimentem para um teste representativo com pista molhada e os organizadores do GP da Austrália garantindo a largada de sua prova para as 17h.
Lembremos que um dos motivos apontados para que Sutil e Bianchi aquaplanassem naquele 5 de outubro foi a insistência em permanecer na pista com pneus intermediários desgastados mesmo com o aumento da chuva. Como Sebastian Vettel chegou a comentar na época, isso se tornou regra entre os pilotos devido à fraca performance dos pneus de chuva da Pirelli: a preferência é assumir o risco de aguentar ao máximo com os intermediários.
Como de costume, a tradicional impossibilidade das equipes trabalharem para o bem comum trava essa questão dos testes da fornecedora de pneus há anos. E não há solução em vista a curto prazo, mesmo que o item esteja na lista de recomendações da comissão que avaliou as causas do acidente de Bianchi.
No caso dos australianos, a manutenção da largada no horário mais propício para vender a prova na Ásia e, principalmente, na Europa, passa por cima de outra diretriz da comissão. A indicação é de que a largada não ocorra a menos de 4h do pôr-do-sol – que costuma ser por volta das 19h30 na cidade de Melbourne em março.
Dá tempo? Claro, se tudo correr bem. Mas é mais um indicativo de que o fator inicial que desencadeou o aumento de risco do GP do Japão de 2014, cujo horário não sofreu nenhuma alteração mesmo com a previsão da chegada de um tufão, ainda pode se repetir.
Resta saber se a terceira recomendação mais importante – e única que, até agora, virou regra – vai funcionar: o Safety Car Virtual. Pode ser que demore um pouco para vermos a novidade em ação, uma vez que ela será acionada com as bandeiras amarelas duplas, mas a medida tem tudo para cumprir seu papel. Afinal, será controlada da mesma forma que a velocidade em períodos de Safety Car, por meio da central eletrônica, que envia um delta de tempo de volta mostrado no display do volante. Pelo menos, se infelizmente tivermos outra situação como a de Suzuka, não vão poder culpar a falta de prudência do piloto.
2 Comments
Todos fatores expostos por você Ju, contribuíram em maior ou menor grau para essa fatalidade, mas me lembrando do grande Carlos Drummond de Andrade, vemos que sua poesia é atemporal e e abrangente:…”no meio do caminho tinha uma pedra, oops, um trator”…talvez o maior demonstrativo de incompetência por parte da direção de prova em um piso “escorregadio”. Penso que foi uma fatalidade evitável!!!
Os pilotos, no cockpit, estao por conta própria!! Imaginava que algum tipo de ‘lei Bianchi’ fosse criada banindo a entrada de tratores na pista, já que deixar o carro acidentado no local da batida apresenta menor risco que colocar um trator no ambiente que os carros estao correndo.