Não dá para negar a economia que a F-1 fez com o fim dos testes ilimitados durante a temporada, em 2009. As regras agora permitem poucas brechas, de ensaios em linha reta e até “filmagens promocionais” algumas vezes usadas com outros objetivos. Mas o trabalho de pista é basicamente restrito à pré-temporada, na qual cada piloto tem direito a seis dias no carro antes de ir para a pista pra valer em Melbourne.
Assim, ao mesmo tempo em que sobrevivem no grid novatos de 2007, como Lewis Hamilton, Heikki Kovalainen, Adrian Sutil, Sebastian Vettel e de 2008, representado por Timo Glock, dos 14 pilotos que estrearam desde o fim dos testes durante a temporada, apenas sete estão confirmados para o ano que vem – sendo que quatro fizeram seu primeiro ano em 2011. São eles Grosjean, que tem uma rara segunda chance, Kobayashi, Perez, Maldonado, Ricciardo, Di Resta e Hulkenberg.
Entre os que foram ficando pelo caminho ou ainda lutam por um lugar ao sol em 2012, não há um padrão. Desde os apadrinhados e abandonados pelo programa de jovens pilotos da Red Bull Alguersuari e Buemi, passando pelos endinheirados Petrov e D’Ambrosio. Juntos de Senna, Di Grassi e Chandhok, gravitam em um universo muito mais amplo que o número de vagas disponíveis.
A falta de testes e a consequente perda da validade do emprego de piloto de testes, função que costumava cair bem aos novatos no passado, diminui as possibilidades do jovem mostrar serviço. E a tradicional falta de paciência da F-1 com quem não está rendendo tão bem quanto o esperado acaba queimando promessas que mal passaram dos 20.
Além disso, com as dificuldades de financiamento que cada vez avançam mais no pelotão – a ponto da quinta colocada no Mundial de Construtores se valer de um pagante por dois anos – promovem a carnificina do “quem pagar mais, leva”. Isso acaba tirando as vagas daqueles cujos atributos não podem ser calculados no lucro mensal, assim como diminui a possibilidade do próprio pagante mostrar serviço e permanecer depois de “pagar a conta”, já que é cada vez mais comum a união de talento e dinheiro em um único pacote.
É difícil saber o que garante permanência. Nem se uma empresa investe milhões na formação de um piloto significa algum escrúpulo a mais na hora de pensar sua carreira. O exemplo de Alguersuari, de 21 anos, é o mais recente: jogado no fogo na pior situação possível – novo demais, aos 19, sem um quilômetro sequer na F-1 (sua maior experiência era de F-3, portanto, havia pulado um degrau), no meio da temporada, com um carro longe dos mais equilibrados – mostrou clara evolução, principalmente em sua segunda temporada completa, 2011. Foi dispensado da Toro Rosso no meio de dezembro, de surpresa, dificultando suas chances de conseguir uma vaga.
Enquanto isso, outro espanhol, que passou dos 40 e não faz uma temporada completa desde 2002 tem sua vaga garantida. Sintoma claro que de há algo de errado.
A decisão particular da Toro Rosso pode até ser compreendida. A função da equipe é servir como teste para alçar pilotos à Red Bull. E isso também significa descartar – e a aposta pelos gabaritados Ricciardo e, principalmente, Verne (que além de tudo, é francês, país em que a marca tenta se reerguer depois de um banimento de 12 anos) é justificável. Mas quanto tempo será que um piloto precisa para amadurecer nesta F-1 de maneira suficiente para que seus chefes possam avaliar se ele tem potencial ou não para ser campeão? E o quanto será que isso realmente importa para uma equipe de meio de pelotão?
Talvez um bom indicativo seja a volta de Raikkonen. Se a dificuldade de Schumacher é vista por alguns como relacionada à idade, o retorno do finlandês deve indicar o quão difícil é pegar ritmo de jogo sem ao menos fazer rachão durante a semana.
4 Comments
Acho que o pior de tudo é que, exceto as qautro grandes, as demais equipes dependem do dinheiro que o piloto traga, a ponto de um piloto como Barrichello, de capacidade reconhecida, precisar correr atrás de patrocínio para tentar concorrer à vaga na Williams contra outros pilotos já com dinheiro na conta. Será que essas equipes são incapazes de contratar um gerente de marketing que possa buscar contatos e possíveis acordos, deixando essa tarefa a cargo dos pilotos, que, além disso, ainda precisam pilotar, sua verdadeira função? Será que só o dinheiro que Maldonado traz não é suficiente para a Williams, eles precisam de outro piloto pagante?
A Fórmula 1 precisa de gente com a visão de Tony Fernandes. Até Franck Williams está entrando na ciranda.
Post perfeito.
O próprio Schumacher disse que a falta de testes dificultou sua re-adaptação… e olha que estamos falado DO SCHUMACHER! Os caras tinam é que repensar a categoria, cada dia mais preocupada com ostentações desnecessárias… Piloto tem que testar, piloto tem que correr …
Desse jeito em muito pouco tempo a categoria acaba pois serão 3 ou 4 talentosos e um monte de cabeças de bagre com patrocínio … Quem irá pagar (caro!) para ver um troço desses???
Disse tudo! A F1 virou negócio e politica há algum tempo… E infelizmente alguns talentos acabam pagando por isso. Estou mt feliz pela volta de Kimi e de Hulk, mas temo mt que a falta de testes p/ a readaptação dificulte muito as coisas. Afinal, assim como vc disse, por um lado a falta de testes e, por outro, a falta de paciencia pela busca de resultados. Vamos ver no que tudo isso vai dar, mas torço p/ que se saiam bem!
É um grande paradoxo, um esporte de alto rendimento não poder ter treinamento, é irracional! Certo ou errado, algo está errado! Jovens talentos sempre surgem, mas não seria o caso de privilegiar a disputa, e “diminuir” a utilização da eletrônica para cortar custos?