Lá nos idos de 2010, eu comecei um blog totalmente independente. Minha ideia era escrever coisas que eu gostaria de encontrar na internet, mas não conseguia. E não é que tinha mais gente com a mesma “sede” que a minha? Não demorou para o Faster F1 ser notado por profissionais da área e, no final do ano, Luis Fernando Ramos, o Ico, me convidou para escrever um texto no blog dele. E logo depois ele e o Felipe Motta me chamaram para fazer parte do time do TotalRace. Quase dez anos depois, chegou a hora de eu retribuir. Selecionei 12 textos entre as dezenas que me mandaram e espero que curtam o material que vai ser publicado até meados de janeiro por aqui.
Por Aline Mariño
A Fórmula 1 estabeleceu metas e planos para uma das suas próximas ambições: Tornar o esporte menos poluente. A intenção é, até o ano de 2030, reduzir as emissões de carbono para zero, eliminando os poluentes produzidos nos carros e nas atividades ao redor das pistas. O CEO da F1, Chase Carey, disse que é a primeira vez que o esporte tem uma estratégia de sustentabilidade.
Essa estratégia consiste em desenvolver um motor híbrido de combustão interna com produção de carbono zero, que funcione a partir de biocombustíveis desenvolvidos para poluírem menos. Nesse aspecto, o fim repentino e sem justificativa plausível para a parceria da Petrobras com a McLaren, promovido pelo atual governo, fecha as portas de uma ótima oportunidade para o Brasil estar entre esses desenvolvedores. Falta de visão, no mínimo. Seguindo o plano da Liberty Media, que administra a F1, a segunda parte do plano consiste em focar nas questões ao redor e fora das pistas, ou seja, respectivamente na logística entorno de cada Grande Prêmio e nos transportes envolvendo todo o circo da F1.
A maior parte da emissão de carbono vem exatamente desses dois últimos segmentos e não do próprio carro de corrida. Na verdade, é pífia a porcentagem que a máquina produz em relação aos outros processos. No entanto, para um grupo de pessoas a imagem que fica é a de que a Fórmula 1, com seus carros com motor movidos a hidrocarbonetos, são um retrato do atraso. O interessante é que a categoria sempre ignorou qualquer ação nessa direção mais sustentável. Então, convém analisar mais a fundo esse recente movimento.
O impulso dado nessa direção menos agressiva ao meio ambiente ocorreu em meio às seguintes circunstâncias: primeiro cenário é que o mercado automobilístico na Europa como um todo está mudando. Um após o outro, vários países do velho continente estão aprovando medidas para que, nas próximas duas décadas, não haja mais carros que não sejam movidos por fontes limpas. É uma tendência europeia, mas até virar uma realidade global são outros quinhentos. O segundo cenário é a Formula E recebendo os holofotes oriundos dessa onda mais consciente e é ai que dói mais no calo da F1.
Hoje a principal categoria de automobilismo tem seu grid formado somente por dez equipes, das quais apenas três também são fornecedoras de motores, e passa por dificuldades para encontrar outras equipes que se interessem em fazer parte do seu universo. Já a FE, em seu sexto ano de campeonato, já tem doze times e potencial para seguir expandindo esse número. As equipes estarem mais interessadas pela FE não é só devido a um custo bem mais reduzido em relação a F1, mas é também uma jogada de marketing e um alinhamento das marcas à tendência do mercado de “ser mais verde” e serem bem vistos aos olhos de uma parcela do público.
A Fórmula 1 está em um momento de certa fragilidade, já que conta com poucas opções de equipes, sendo ainda recorrentemente assombrada pela incerteza quanto à permanência de algumas delas. Certas marcas até estudaram se juntar a F1, mas optaram pela FE. O novo regulamento de 2021 virá para ajudar a reduzir custos e igualar um pouco as coisas dentro da pista. Isso tornaria mais agradável as variáveis financeiras para atrair novas montadoras, mas ainda não causaria nenhum impacto à imagem da F1 quanto à questão da sustentabilidade.
Está no DNA da F1 ser uma categoria de experimentações e testes de novas tecnologias para depois vê-las aplicadas no dia a dia. Logo, embarcar nessa “onda verde” pode não ser apenas um passo na direção certa em termos de imagem, mas um ponto crucial para a sobrevivência a longo prazo (juntamente, é claro, com o advento do novo regulamento). Dizer que a FE irá substituir a F1 ou que ambas poderiam se fundir parece ainda uma visão bastante nebulosa, visto que a FE ainda precisa avançar quanto a sua unidade de potência e ao seu consequente descarte, dentre outras coisas. O futuro a médio prazo está mais para uma coexistência separada dessas duas categorias, testando e desenvolvendo suas peculiaridades tecnológicas, e a Fórmula 1 caminhando para o uso dos biocombustíveis menos poluentes possíveis e com a meta de criar a nova unidade de potência prometida pela Liberty Media.
Discordando da fala do Greg Maffei, chefe-executivo da Liberty, que afirmou segundo o site RaceFans ser puramente questão de estar na moda a ocorrência da popularidade dos carros à energia, o sucesso e crescimento do grid da Fórmula E provam o contrário disso, assim como as medidas aprovadas pela Europa. Quanto à Fórmula 1, resta esperar o prazo para ver se toda essa mudança prometida sairá realmente do papel com ações claras (coisa que até o momento não aconteceu) ou só serviu para dar um breve retoque na imagem da principal categoria do automobilismo.
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Deixem todos os hidrocarbonetos para o esporte a motor (entretenimento), e os outros carros elétricos (comuns) taokey. Uma viagem NY >> Tokyo de 777 gasta mais combustível do que toda a temporada de F1. F1 é esporte, velocidade, barulho e tecnologia