Quando Button chegou à McLaren para fazer dupla com Hamilton, uma das questões levantadas era qual o impacto que dois estilos de pilotagem tão diferentes teriam no desenvolvimento do carro. Os que defendiam a união dos então únicos representantes britânicos do grid diziam que, se havia uma equipe que poderia dar conta do recado, seria a McLaren. Agora, observando que, pelo segundo ano em sucessão, o time parece perdido com seus upgrades, é de se imaginar se os críticos teriam razão.
É difícil precisar qual a valia do piloto no desenvolvimento do carro. Em tempos de testes reduzidíssimos – e quantidade de jogos de pneus restrita nos finais de semana de corrida – ele tem pouco tempo dentro do carro para dar seu aval às novidades. À primeira vista, portanto, os mais experientes e de reconhecida informação técnica precisa não teriam mais lugar. No entanto, vemos Trulli, Barrichello e Schumacher na ativa, sendo elogiados pelos chefes justamente por isso – e, ao que parece, Newey não quer nem saber em ficar sem Webber, mesmo que ele “insista” em não se comportar devidamente como segundo piloto. A justificativa é de que eles ajudam a nortear o time, são capazes de dizer quais caminhos não tomar – e isso economiza tempo.
Nem Hamilton, nem Button são famosos por isso. Na verdade, o último carro dominante (ou que pelo menos se revezava nesse “cargo” com a Ferrari) da McLaren, que se desenvolveu bem do começo ao final do ano, foi o de 2008 que, por sua vez, representava a continuidade de um bem guiado projeto de 2007, quando o time também tinha seu piloto de reconhecida informação técnica. E outra: será que Jenson e Lewis dão o mesmo feedback?
Há uma aparente falta de direcionamento técnico na McLaren desde o GP do Canadá, quando a equipe começou a introduzir peças que logo eram retiradas do carro. Isso tem se tornado mais comum em tempos de restrição de testes e pode revelar outro problema: falta de correlação entre dados do túnel de vento e da pista.
A Ferrari viveu isso no início do ano e a própria McLaren teve de passar por uma recalibragem em seu túnel de vento em 2009. Não seria de se espantar que encontrassem o mesmo problema novamente. Mas o que intriga é que não podemos esquecer do salto que este mesmo carro, neste mesmo túnel de vento, deu dos testes de pré-temporada para a primeira prova. Mas também não se pode ignorar que, no ano passado, McLaren e Hamilton chegaram a liderar o campeonato na primeira metade do ano e um fenômeno semelhante aconteceu exatamente neste mesmo ponto da temporada.
Outro aprendizado dos tempos sem testes é que a melhoria da performance por meio do trabalho com acerto de um mesmo pacote pode ser até maior do que a introdução de novas peças. A Hispania, por exemplo, não tinha upgrades em seu carro e, mesmo assim, melhorou 4% em relação aos líderes da primeira à última classificação em 2010. A Mercedes, a partir da metade da temporada, parou de colocar novidades no carro e se também aproximou dos líderes.
Então por que todo mundo continua trazendo upgrades? Não dá para saber qual o limite dos ganhos com o acerto, portanto é preciso um equilíbrio entre continuísmo e melhorias. E é nesse campo que a Red Bull tem acertado em cheio: depois de construir uma ótima base em 2009, quando houve a última grande mudança de regras, foi evoluindo seus conceitos, sem nunca ter recomeçado do zero. O RB7 é uma evolução do RB6 que, por sua vez, nasceu do RB5.
O mesmo não pode ser dito dos MP4-24/25/26. Até pela própria dinâmica de divisão de equipes de trabalho em Woking – a cada ano, o time de um projetista é o responsável, algo que parece ter sido abandonado de vez com a saída de Pat Fry ano passado – os projetos pouco dialogam.
Na F-1, nada costuma ser preto no branco. Mas, tendo em vista os sinais – que já vimos ano passado – destas últimas três provas, parece haver algo que não está funcionando no processo de desenvolvimento na McLaren. Uma pitada de falta de continuidade ali, uma dificuldade em obter a correlação túnel de vento-pista aqui, dois pilotos de estilos muito diferentes acolá. Os prateados têm muito trabalho pela frente.
5 Comments
Bom, os argumentos são fortes, mas não deixam de estar dentro do campo da especulação (aliás, concordo com o texto). Já vimos a mesma McLaren com pilotos de estilos diferentes ter sucesso, com Senna e Prost e Alonso e Hamilton. Claro que são outros tempos, outros engenheiros e chefes, mas com uma equipe do porte dessa que tem a fama de remodelar um carro mal nascido e colocá-lo na disputa novamente não duvido que já na próxima corrida esteja de volta aos bons resultados.
Matéria que resgata o histórico de desempenho de forma assertiva, um bom argumento e visão do potencial que a McLaren pode vir a demonstrar… Lembrando também que é uma equipe que não possui uma montadora como gestora e por isso, podemos multiplicar os méritos dos engenheiros e projetistas.
Legal Ju!
Carro bom é aquele que atende às mudanças em sua acerto não importando o estilo dos pilotos.
E na McLaren, quando o carro não é bom eles simplesmente o melhoram até ser capaz de vencer corridas.
“(…) o último carro dominante (ou que pelo menos se revezava nesse “cargo” com a Ferrari) da McLaren, que se desenvolveu bem do começo ao final do ano, foi o de 2008 …”
“(…)representava a continuidade de um bem guiado projeto de 2007”
A Ferrari deu uma “mãozinha” em 2007, não? e o de 2008 começou do “zero”?
P.S – Assíduo no Total Race e postando a 1ª vez por aqui – Parabéns pelo blog, em especial o texto paralelo sobre as transmissões das corridas.
Bem lembrado, Moisés! Estava me referindo mais ao desenvolvimento do que ao projeto em si, mas ficou provado que aquele carro de 2007 (e, aqui, vejo sim uma continuação em 2008) tinha “colaboração inimiga”.