F1 A ‘polícia invisível’ da F1 - Julianne Cerasoli Skip to content

A ‘polícia invisível’ da F1

Às vezes aliados, outras nem tanto

Mesmo nos anos de domínio da Mercedes, a guerra fria entre as equipes foi forte nos bastidores. Que o diga a Ferrari, que enfrentou uma série de questionamentos de Mercedes e Red Bull por quase três temporadas inteiras até que a FIA conseguiu entender o que havia no sistema de combustível do motor italiano que explorava uma área, no mínimo, cinzenta do regulamento. Curiosamente, contra a Ferrari, as atuais rivais estavam juntas apontando o dedo para Mattia Binotto na tensa reunião em Abu Dhabi no final de 2019 que foi o golpe de misericórdia para as chances da Scuderia de lutar pelo título tão cedo.

Os dedos continuam em riste, mas agora apontando em outras direções. Fazia tempo que a Fórmula 1 não vivia bastidores em tamanha combustão como neste ano em que a Mercedes perdeu terreno com as regras aerodinâmicas e a Red Bull cresceu. 

Muita gente questiona como a FIA controla todas as minuciosas regras que impõe, e na verdade eles confiam muito neste tipo de rivalidade. Todas as equipes estão tentando explorar os limites do regulamento o tempo todo, e na mesma intensidade em que estão de olho no que os rivais estão fazendo, e esta desconfiança acaba sendo uma ótima forma de controle de baixo custo para a federação.

Mas eles também acabam ficando no meio do fogo cruzado. Tem sido raro ver o pessoal com a camisa branca e a calça azul marinho da FIA andando tranquilos pelo paddock neste ano. Eles sempre parecem estar resolvendo alguma briga, ora se reunindo com a Red Bull, ora recebendo alguém da Mercedes com um calhamaço de papéis na mão. Se tudo o que foi discutido nestas a portas fechadas realmente virasse protestos, estaríamos falando em desclassificações decidindo o campeonato por aqui.

Mas no final é tudo guerra fria, pressão por poder, intimidação.

Nada disso é novidade. No final dos anos 90, para ficar em um exemplo não tão longínquo, era normal ver pilotos de equipes inglesas trabalhando contra a Ferrari. Pilotos da Williams, por exemplo, segurando Schumacher na pista para ajudar a McLaren. Isso mesmo usando motores diferentes e sem nenhuma outra relação se não a nacionalidade.

Em 2021, a temporada já começou com a sala da FIA cheia no Bahrein, com Mercedes e, principalmente, Aston Martin, reclamando do processo de mudança de regras, uma vez que já teria ficado claro nas reuniões ano passado que os carros com rake baixo sofreriam muito mais com mudanças que visavam, na verdade, tornar os carros mais lentos para proteger os pneus. Mas a Mercedes correu com o DAS o ano todo, e a Aston escapou de uma punição maior pela, digamos, grande inspiração no carro da Mercedes em 2020, e ficou por isso mesmo.

Coube à Mercedes, então, tentar achar algo de errado na Red Bull. A asa traseira era o mais visível, mas a regra que não permite que peças aerodinâmicas tenham movimento é um vespeiro em que, eles logo perceberam, é melhor não mexer. “Se vocês protestarem nossa asa traseira a gente protesta a dianteira de vocês”, dizia a Red Bull. Na sexta-feira em Baku, dava para sentir a tensão no ar, até que ambos recuaram, mantendo a disputa na pista. Como as asas dianteiras continuam se movimentando bastante até hoje, é fácil entender por que há quem diga que poderíamos ter tido desclassificação do campeonato se a briga tivesse continuado por vias legais.

No fim, os testes mais pesados nas asas traseiras não diminuíram a velocidade da Red Bull, iniciando uma outra briga, relacionada à maneira como a Honda está usando a energia em sua nova unidade de potência. Pelas declarações de Hamilton sobre o assunto, a suspeita seria de que os japoneses encontraram um jeito de reproduzir o “modo festa”, banido ano passado. Esse é um ponto interessante para seguirmos na segunda metade da temporada, já que a grande vantagem em uma volta lançada e na primeira volta da corrida desapareceu em Silverstone e na Hungria (ou até onde pudemos ver). Coincidência ou não?

Teve também a briga dos pit stops, que vão mudar a partir da Bélgica (ainda que sem aquele nonsense de tempos mínimos para cada fase da troca de pneus, inicialmente proposto pela FIA). Isso começou depois que os rivais perceberam que os mecânicos da Red Bull não acionavam nenhum botão para que o “semáforo” liberasse o piloto – neste caso, o dedo duro parece ter vindo da McLaren.

Isso sem falar em reclamações relacionadas ao teto de gastos: primeiro foi a barganha por mais dinheiro para aceitar as sprint, com um meio termo sendo obtido após meses de negociação, e mais recentemente a barganha para que os rivais arquem de alguma forma por danos de acidentes, o que parece bem distante de qualquer praticidade. 

E assim será até o final do ano: uma guerra fria fora das pistas que pode ser decisiva para o campeonato.

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