“Em que posição você poderia ter chegado hoje sem as punições, Max?”
“Acho que na frente nas Mercedes. Mas aí o Lando teria vencido a corrida”
Uma resposta simples, mas que diz muito sobre a mentalidade de Verstappen no momento. O comportamento de sua Red Bull melhorou com a atualização de Austin, mas não o suficiente para que ele deixe de estar na posição de olhar mais para o espelho retrovisor do que para frente nas corridas. Mas ele tem uma vantagem ainda considerável no campeonato, pode se dar ao luxo de zerar uma corrida, por exemplo.
Não é um luxo que Norris tem, tanto pelo campeonato de pilotos, quanto pelo de construtores, agora que a Ferrari aproveitou dois circuitos bons para seu carro para passar a Red Bull e ficar a 29 pontos da McLaren do inglês.
E quem tem menos a perder que todo mundo é Carlos Sainz. Se a Ferrari não ganhar o campeonato por algum exagero dele, tudo bem, está de saída mesmo e logo não terá nada a ver com isso. Se ganhar…
Todos esses elementos estiveram presentes em um GP da Cidade do México muito mais animado do que em anos anteriores. E nem precisou nem de Safety Car (ok, houve um Safety Car, mas a corrida não foi boa por isso), nem de chuva.
Como Sainz se tornou o nome da corrida
Sainz conseguiu uma pole position que nem mesmo a Ferrari esperava. Os carros vermelhos se adaptaram bem ao circuito Hermanos Rodriguez e suas curvas de baixa velocidade e necessidade de alta carga aerodinâmica por conta da altitude. Mas sempre sofrem em colocar temperatura no pneu, o que atrapalha a classificação. Mas não dessa vez.
Sainz tinha Verstappen ao seu lado na primeira fila, em outra classificação muito boa do holandês, e perdeu a posição nos primeiros metros, algo que é até esperado no México pela longa distância até a primeira freada e a curva para o lado oposto da posição do pole. Norris se manteve em terceiro, com Leclerc em quarto e Hamilton passando Russell logo atrás. Perez e Piastri? Esses tinham sido eliminados ainda no Q1, e o mexicano seria punido por queimar a largada.
A prova foi neutralizada por seis voltas após um acidente na largada entre Tsunoda e Albon. O japonês espremeu o francês, que ficou sem ter para onde ir, com carros dos seus dois lados.
Em duas voltas, Sainz pegou o vácuo de Verstappen, que reclamou que sua bateria não estava carregada, e mergulhou por dentro na primeira curva, conseguindo retomar a liderança e deixando Verstappen na mira de Norris.
A disputa entre Norris e Verstappen
Na volta seguinte, foi Norris que mergulhou para passar Verstappen, desta vez tendo a vantagem na tangente, e depois viu seu espaço acabar, espremido pelo rival. Desta vez, a curva não era de Verstappen e ele não tinha o direito de fazê-la como se Norris não estivesse ali.
Mas Norris passou, saindo da pista e tudo, e quatro curvas depois viu Verstappen se jogar sem qualquer condição de fazer a curva, indo para fora da pista e levando Norris, cuja prioridade era não bater, junto.
Ele conseguiu a ultrapassagem assim, fora da pista, e levou duas punições: 10 segundos por forçar outro piloto para fora e outros 10 por sair da pista e ganhar vantagem.
Como já havia acontecido em Austin, a grande vantagem foi de Leclerc, que passou os dois enquanto eles se estranhavam. As Ferrari estavam sumindo na frente e Norris não conseguia outras oportunidades de passar Verstappen, mesmo tendo mais ritmo.
Seria uma corrida de uma parada, com pneus médios e duros, então demoraria para Verstappen sair da frente de Norris e pagar suas punições. Na volta 26, quando Verstappen foi o primeiro dos ponteiros a parar, Sainz já tinha 12s de vantagem para Norris e Leclerc, 7s.
Norris vai à caça de Leclerc
Mas a Ferrari não tinha um ritmo muito melhor e venceria de qualquer jeito? A lógica antes da corrida apontava para isso, mas o dia mais frio e nublado no domingo estava ajudando a McLaren. E uma das Ferrari, de Leclerc, perdeu rendimento com os pneus duros.
O GP da Cidade do México, por conta da altitude, sempre tem o elemento da administração das temperaturas e do combustível. E era isso o que Leclerc estava fazendo, com o chamado lift and coast. Isso tira a temperatura dos pneus, porque você freia menos, e o monegasco chegou em uma situação em que os pneus saíram da janela de funcionamento e nunca mais voltaram.
Isso aconteceu a partir da volta 50, quando Norris começou a se aproximar. Eram quatro segundos de distância. Em 10 voltas, Norris tinha chegado e, no final da volta 53, Leclerc perdeu a traseira do carro, escapou da pista, e viu a McLaren assumir a segunda posição.
A McLaren poderia ter vencido?
Faltavam só oito voltas para o fim, Sainz tinha uma folga de 7s na liderança e viu a vantagem cair para menos de 5s no final, mas sempre mantendo o controle para vencer pela segunda vez na temporada.
É difícil cravar que a história seria diferente sem o tempo que Norris perdeu com Verstappen. Mas ele não teria Leclerc para passar e poderia fazer seu ritmo o tempo todo.
Esse ritmo do final animou a McLaren. Afinal, eles esperavam que a Ferrari fosse muito forte na Cidade do México e conseguiram acompanhá-los com seu carro mais atualizado (Piastri não tinha a asa dianteira e o assoalho).
No final, saíram quase todos felizes ali. Sainz pela vitória, Norris por ter descontado 10 pontos de Verstappen, que chegou em sexto, e o próprio Max por acreditar que, mais uma vez, conseguiu tirar pontos de seu rival com sua agressividade. Ninguém disse que a tarefa de vencer o tetra com, efetivamente, o terceiro melhor carro em todo o último terço do campeonato seria simples.
Perez é último em casa
No restante do pelotão, Perez teria um encontro com seu possível substituto Liam Lawson com direito a toque, danos em seu sidepod, e dedo do meio mostrado pelo neozelandês, que depois ouviu do mexicano que deveria ser mais humilde.
Mas ambos terminaram bem longe dos pontos. Andando bem novamente e comprovando que a atualização de Austin funcionou, as duas Haas marcaram pontos, com Magnussen conseguindo inclusive se manter à frente de Piastri, que escalou de 17º para oitavo. E Pierre Gasly conseguiu capitalizar sua ótima classificação e foi décimo com a Alpine.
1 Comment
Excelente análise, como sempre.
Parece que o Max sabe mais o que precisa para ser campeão que o Norris.