Ao contrário da onda que se criou, especialmente na imprensa brasileira, Bruno Senna nunca esteve em posição de ocupar a vaga de Robert Kubica na Renault. Usando uma declaração do chefe da equipe, Eric Boullier, no lançamento do carro, de que o brasileiro seria o piloto reserva, muita gente se esqueceu – ou fingiu esquecer – de que o acidente de Kubica criava uma circunstância extraordinária: alguém teria que assumir a liderança da equipe desde o 1º GP até, provavelmente, o fim do campeonato.
E, assim, as declarações de Boullier de que o time precisava de um piloto experiente e que Bruno só andaria para testar o carro eram ignoradas, na tentativa de inventar uma notícia que não existiu. No final das contas, mais um episódio de afobação e falta de discernimento, que acabou marcando a cobertura do acidente do polonês desde o início – mais alguém notou a tom do “Kubica volta à UTI”, nas manchetes do final de semana, como se isso não fosse um procedimento normal após a cirurgia?
E Bruno não pode ser responsabilizado por esse carnaval feito em cima de seu nome. Esperou alguns dias para se pronunciar e, quando o fez, pelo twitter, se limitou a desejar melhoras a Kubica. “Desejando ao Robert recuperação completa e rápida, para que ele possa continuar mostrando o grande talento naquilo que ele mais gosta! Correr”. Enquanto Heidfeld estava no carro, salientou que não havia uma luta pela vaga. “Animado para o teste de amanhã e espero ajudar a equipe no desenvolvimento do carro.” Mas isso não vende, claro.
Chegado o “dia do vestibular”, Bruno andou, assim como Paffett na McLaren e Hulkenberg na Force India, para citar alguns exemplos, para dar informações ao time e manter-se um pouco na ativa, numa categoria em que as oportunidades de se treinar são escassas e o termo “piloto de testes” não faz muito sentido.
No final das contas, a tabela dos melhores tempos pode mostrar que Bruno foi 1s mais lento que Heidfeld – como também 1s mais rápido que Vitaly Petrov, o outro piloto titular da equipe – mas não haveria valor algum em colocá-los frente a frente, exatamente nas mesmas condições. Afinal, já que não há uma disputa pela vaga, o que importa à Renault neste momento é desenvolver o carro, testar seus componentes e avaliar o rendimento dos diferentes compostos dos pneus Pirelli combinados aos distintos níveis de combustível com os quais terão que andar nas corridas.
De acordo com os engenheiros da equipe, o brasileiro ficou a 0.2s do tempo de Heidfeld andando sob circunstâncias similares e só perdeu um pouco no quesito consistência, em que, diga-se de passagem, o alemão foi excelente. Depois de 2 saídas de checagem de sistemas, mandou ver 1:21.933, 1:21.849 e 1:21.898, em sequência, logo de cara, e em vários outros momentos mostrou lidar muito bem com o desgaste dos pneus (veja os tempos na íntegra aqui). É isso que a Renault espera dele.
Enquanto isso, Bruno fez o papel de um piloto reserva, o que o brasileiro nunca deixou de ser na equipe. Esse, aliás, foi apenas seu 2º teste na F1 (o outro havia sido com a Honda, uma vez que a Hispania não treinou). Sua verdadeira ambição não tem nada a ver com o lugar de Kubica, mas sim em mostrar em cada chance que tiver de entrar no carro que pode fazer um trabalho melhor que o inconstante Petrov para, apostando numa maior independência financeira da equipe, lutar por uma vaga como titular em 2012.
O próprio piloto adotou o tom político e apoiou a decisão de não lhe dar um cockpit agora. “Só tive um dia no carro e foi bom, mas para se preparar você precisa muito mais que isso – eles precisam de um piloto que esteja pronto”, reconheceu. E é nisso que ele tem que trabalhar.
7 Comments
Vamos ser sinceros, essa imprensa brasileira é mesmo engraçada, afinal colocando pilha na galera, acaba jogando Bruno na fogueira. Inconscientemente, acaba sugerindo o piloto como “incapaz”, por criar uma expectativa que parecia não existir, ao menos por agora. É como passar o carro na frente dos bois. Nesse caso, o sensacionalismo acaba criando falsas expectativas sobre um piloto que precisa se firmar, perante torcida e patrocinadores. Falta objetividade.
Pode-se dizer que foi seu primeiro contato com um F1 contemporâneo de verdade. Antes ele havia penado no Honda de 2008 e na Hispania. E me surpreendeu se saindo muito bem.
E essa percepção que vai, vai, vai… é uma coisa ao meu ver muito direcionada ao espectador médio, aquele que apenas assiste as corridas aos domingos, e faz julgamentos superficiais.
O Bruno está sendo inteligente, apenas agindo da maneira que se espera que faça, nada de colocar a carroça na frente do jumento, pilotos ” trabalhadores ” também conseguem ser campeões, vide Damon Hill, e na minha opinião Bruno Senna se enquadra nesta categoria.
Neste caso em particular, o culpado assobia para o ar, como quem não quer a coisa. Desresponsabilizou-se, digamos assim. O silêncio do Bruno ao longo dos dias disse tudo: ele nunca foi considerado para primeiro piloto da equipa, pois não tem aquilo que tem Nick Heidfeld. E claro, certa imprensa tentou “corrigir o tiro” – cada vez pior, diga-se – dizendo que era um “jogo de cartas marcadas”. Não era um jogo ou um “vestibular” porque tal coisa nunca existiu.
E mesmo que o Heidfeld não mostrasse nada do que mostrou, muito provavelmente o Boullier iria pensar no Pedro de la Rosa, pois sei que ele chegou a falar com ele. quem sabe em Barcelona, ele pode ter uma chance de rolar no carro. Em suma, a unica coisa que o Bruno fez foi marcar uma posição ao Vitaly Petrov. E espero que o Boullier lhe dê mais tempo de testes, para pressionar mais o russo.
Não li a imprensa internacional. Mas me pareceu que o Boullier foi muito dúbio e ambigüo e nem fez questão de desfazer a ambigüidade.
Você é realmente muito educada na sua avaliação de quanto é baixa a qualidade das coberturas jornalísticas em geral no Brasil.
Obviamente, pela sua delicadeza e pela ética que deve manter como profissional você não disse isso, explicitamente…
Não é só na F1 que imperam os “jornalistas torcedores” e ” jornalistas juízes”, com veredictos, sentenças e verdades absolutas.
Sobre a escolha da Renault permita-me reproduzir um comentário que fiz, dias atrás.
– Creio que as ponderações da jornalista procedem, entretanto, a escolha por Bruno(se houver)deve ser por Bruno e não por Bruno Senna, o que seria apenas alimentar os delírios das já conhecidas ” viúvas”.
Em relação ao conjunto dos pilotos da F1 de hoje e do passado, não tem nenhum “fraco” ali. Os fracos sequer conseguem a super licença. Nenhum fraco entra numa curva na velocidade que entram, nenhum fraco consegue patrocinio para pagar para correr.
Fraqueza definitivamente não combina om F1. Isso é conceito de torcedor…
Bruno andou bem, o carro é bom, equilibrado e responde às mudanças. Isso torna as coisas mais fáceis pro piloto. Mesmo pra alguém sem tanta experiência.
O problema é que Senna já não é tão novo a ponto de poder esperar demais por uma vaga decente na F1.
Contar com a inconstância de Vitaly Petrov ou com a saúde financeira da equipe é um cenário muito incerto.
Mas é com o que Bruno Senna pode contar nesse momento.
O importante é que ele aproveitou bem sua chance de mostrar que é um bom profissional e sobretudo me pareceu ter tido uma postura digna em relação ao acidente de Kubica.
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Haverá sempre um jornalista sórdido, capaz dos atos mais abjetos, apenas para vender mais jornais.