Quer entender por que o GP de Mônaco é especial? Veja a classificação no sábado. A corrida em si, como bem apontou Fernando Alonso, só se movimenta na hora dos pit stops. “Dessa vez, não teve pit stop, e por isso não teve nada”.
Isso aconteceu porque Kevin Magnussen não tirou o pé quando a pista ficou mais estreita na subida do cassino, Sergio Perez manteve sua linha e os dois coletaram Nico Hulkenberg pelo caminho, em um acidente de grandes proporções em termos do estrago para as duas equipes.
Bandeira vermelha acaba com estratégia de Mercedes e Verstappen
Com a bandeira vermelha, houve um estrago também na corrida. Principalmente para quem tinha arriscado largar com o pneu duro – no top 10, George Russell, Max Verstappen e Lewis Hamilton – e agora teria que fazer o resto da corrida com os médios.
Até porque, mesmo com os duros, ir até o final com o mesmo pneu só seria possível com muita administração, que acabou ficando ainda maior justamente porque Russell estava com os médios.
Não, não foi exatamente uma corrida. Foi mais uma prova de regularidade em que o líder Charles Leclerc tinha que ser deliberadamente lento para não permitir que seus rivais diretos tentassem algo diferente.
Lá na frente, Leclerc fez bem as duas largadas, manteve a ponta, e viu seu companheiro Carlos Sainz ter sorte com a bandeira vermelha da primeira volta. Quando há uma bandeira vermelha, considera-se a posição em que os pilotos estavam quando passaram na linha de SC, que fica perto da saída dos boxes.
Naquele momento, ele ainda estava na terceira colocação, antes de ir reto no cassino, com danos pelo toque com Oscar Piastri na Ste Devote. Piastri também tinha danos, que não eram possíveis de serem reparados nem na bandeira vermelha, mas o ritmo seria tão lento que isso nem fez diferença.
Então, eles relargaram na mesma posição que largaram, mas com pneus invertidos: Leclerc, Piastri, Sainz, Norris com duros; Russell, Verstappen, Hamilton com médios; Tsunoda, Albon, Gasly (depois de ter sobrevivido a uma tentativa de ultrapassagem kamikase de Ocon, que abandonou) com duros.
Corrida não foi lenta só por conta dos pneus
Foram se formando três trens. Com suas próprias batalhas durante a prova. Leclerc tinha que impedir que uma diferença de mais de 20s abrisse, o que permitiria que as McLaren parassem para tentar algo diferente. Não que uma parada mudasse totalmente o cenário, já que seria difícil ultrapassar mesmo com uma diferença grande de performance. Mas pelo menos isso garantiria que nada iria acontecer.
Russell liderava o trem que tentava levar o médio até o final, e adotava um ritmo bastante conservador, o que também obrigava Leclerc a frear todo mundo lá na frente.
Yuki Tsunoda fazia o mesmo que Leclerc lá na frente: segurava o pelotão que vinha atrás para que ninguém tivesse espaço no pelotão para parar.
Parada de Hamilton libera os demais
O único a movimentar o cenário foi Hamilton, que não tinha nada a perder. Com uma parada gratuita (sem perder posições), ele voltou ao jogo de pneus duros da largada. A Red Bull respondeu com Verstappen na volta seguinte, e a Mercedes se surpreendeu quando viu o holandês defendendo a posição. Hamilton ficou irritado, reclamando porque a equipe não pediu para ele forçar na outlap. Segundo Toto Wolff, isso aconteceu porque os engenheiros erraram na previsão do quão rápido Verstappen poderia ser na sua inlap.
Isso fez com que Russell tivesse que aumentar o ritmo, e liberou Leclerc para acelerar também, até porque, nas voltas finais, a preocupação da Ferrari era mais com um Safety Car.
No final das contas, foi uma Mônaco mais monótona do que o normal até porque os pilotos estavam lentos demais para que algum acidente virasse tudo de cabeira para baixo. A chuva não apareceu, deu para contar as ultrapassagens nos dedos da mão.
Mas era tudo o que Leclerc queria: uma corrida sem grandes acontecimentos para que ele pudesse converter sua terceira pole em Mônaco na primeira vitória em casa.
O que aconteceu com a Red Bull em Mônaco?
Sergio Perez estava disputando com as Haas porque foi eliminado ainda na primeira parte da classificação, em mais um final de semana em que a Red Bull não se encontrou. Não é de hoje que eles perdem rendimento quando as pistas reúnem zebras, ondulações e mudanças de cambagem – e os três cenários estão presentes em Mônaco. A diferença é que os rivais estão mais próximos.
“Ano passado, eles tinham quatro ou cinco décimos de vantagem. Agora, mesmo em Miami, ficamos a um décimo deles o tempo todo”, observou Fred Vasseur. Ou seja, quando a Red Bull não estiver confortável por conta das características da pista, ao invés de ganhar por uma margem menor, eles correm agora o sério risco de perder.
Mas por que o carro não lida bem com ondulações? É possível que não tenha nada a ver com a aerodinâmica, mas também é possível que as suspensões duras estejam cobrando mais o seu preço agora que os carros estão ficando mais rápidos (ou seja, agora que a aerodinâmica está funcionando de maneira mais eficiente). Em Mônaco, os pilotos foram 1s mais velozes neste ano, então é mais carga nas suspensões, e elas não pareceram gostar disso.
Vai ser sempre assim? É muito provável que não. Mas, mesmo quando chegarmos em Barcelona, o primeiro circuito “normal” pela frente, a diferença estará menor e a Red Bull será colocada mais sob pressão. Mônaco não é a regra do campeonato e, em vários sentidos, ainda bem que não é.
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