F1 Abu Dhabi nas TVs espanhola e inglesa: “tínhamos tudo previsto, menos isto” - Julianne Cerasoli Skip to content

Abu Dhabi nas TVs espanhola e inglesa: “tínhamos tudo previsto, menos isto”

A transmissão da espanhola La Sexta começa quase em clima de reza. “Agora todos vamos fechar os olhos, respirar fundo e nos preparar para essa corrida que pode nos dar o título”, pede o narrador Antonio Lobato, que fica em silêncio por alguns segundos. Não estão sozinhos. Na Globo e na BBC, a aposta é também pelo título de Alonso, que “tem a força mental a seu lado”, para Galvão Bueno. Para o comentarista inglês Martin Brundle, “a prova deve ser uma mera formalidade”.

Parte da expectativa sofre um baque já na largada, quando Button passa o espanhol que, “já contava com isso”, segundo seus compatriotas. “Button fez o trabalho das Red Bull”, salienta Galvão. O narrador da BBC, Jonathan Legard, empolga-se tanto que já coloca as McLaren “em 1º e 2º”, esquecendo-se daquele que viria a ser o protagonista do dia, Vettel. A animação também tem a ver com o fato de, claramente, Legard e Brundle torcerem para Webber, a todo momento fazendo as contas para determinar o que o australiano teria que fazer para ser campeão.

A “mera formalidade” em que tinha se transformado a 1ª decisão entre 4 pilotos na história acabou tendo outra virada espetacular no final

Hora dos espanhóis começarem a torcer para… Hamilton? Sim, Lobato até berra para a McLaren acelerar no pitstop do inglês algumas voltas depois, quer de todas as maneiras que ele passe Vettel e faça de Alonso campeão. Ainda mais depois da grande colaboração da Ferrari para que isso não acontecesse…

Não é o que Brundle percebe logo que Webber para e é marcado com ambas as Ferrari. “Acho que Hamilton e Vettel também têm que parar porque o ritmo com pneu duro é muito bom. Será fascinante ver Alonso e Webber abrindo caminho juntos.”

Não em Abu Dhabi. E o muro imposto pelos pilotos que já haviam parado, ignorado pelo comentarista inglês e pela Ferrari, é percebido na hora pelos espanhóis. “Logo Webber vai chegar no tráfego e não será mais tão rápido”, o comentarista Jacobo Vega avisa antes de Alonso fazer a parada suicida. “Ele não pode parar agora. Ele tem que esperar abrir 22s para Rosberg”, Lobato vê com clareza. “A Ferrari está entre a cruz e a espada. Precisa decidir se marca Webber ou Vettel”, observa Marc Gene, piloto de testes da Scuderia. E decidiram marcar, digamos, a subida de um Puyol ao ataque com seus 2 zagueiros, deixando Messi livre.

No Brasil, ficamos sem saber se alguém cantaria a bola. No momento crucial da corrida, os microfones falham e a narração vai para Luiz Roberto, que se limita a dizer “como o som do F1 é bonito”. O narrador ‘oficial’ logo volta à ativa, mas foge da discussão da estratégia. Prefere alfinetar Alguersuari, que faz sua corrida contra Webber. “O Rubinho já reclamou muito dele e agora ele complica a vida do companheiro de equipe” e a pergunta que vem novamente à cabeça é: e a lisura esportiva?

No cair da noite, deu blackout na cabeça dos estrategistas da Ferrari

Logo depois, a alfinetada básica em Hamilton, durante uma comunicação via rádio com a equipe. “Deve estar reclamando. Ele anda reclamando de todo mundo”, observa o narrador brasileiro.

Enquanto isso, Brundle tenta se redimir, já percebendo o erro estratégico. “O ritmo do pneu macio tinha caído no momento que Webber e as Ferrari pararam, então fazia sentido. Mas agora eles voltaram a funcionar. Que reviravolta! Tivessem esperado 3 ou 4 voltas…” O repórter Ted Kravitz avisa: “Os líderes só vão parar quando abrirem o suficiente para voltar à frente de Kubica”. O polonês largou de pneu duro e é apontado desde o início da corrida na BBC como peça chave para a estratégia dos líderes porque fatalmente demoraria a parar, fato que é ignorado no Brasil – Galvão até faz sua propaganda costumeira pró-Kubica, ressaltando “como ele faz o pneu mole durar” – e na Espanha.

Quem está fazendo o pneu macio – esse sim! – durar de maneira impressionante é Button. Segundo Kravitz, a McLaren acha que ele pode lutar pelo 2º lugar, para desespero de Legard. “Eles têm que dar prioridade ao Hamilton. E se alguma coisa acontecer com o Vettel?” Brundle, que também é chegado numa propaganda, essa pró-Button, discorda. “Eles viram a oportunidade de vencer a corrida e estão apostando nela.”

E Gené tenta se equilibrar entre mostrar a realidade ao telespectador espanhol – que, ao contrário do que geralmente acontece no Brasil com os pilotos nacionais, foram muito bem informados da situação complicada o tempo todo – e manter o emprego na Ferrari. “Foi uma série de circunstâncias. Não esperávamos o Safety Car, pois aqui há muitas áreas de escape, e a degradação dos pneus moles deveria ter sido maior”. E tira qualquer esperança de ultrapassagem em cima de Petrov. “O Massa está numa configuração com muito menos carga aerodinâmica. Se ele não consegue passar o Alguersuari, o Fernando tem ainda menos chance. Configuramos o carro dele para defender, não atacar. Pensamos mais na classificação. O Petrov tem a 3ª melhor velocidade máxima, enquanto ele é o 13º. E ainda por cima trabalhamos com a 7ª marcha muito curta, então ele chega no limitador antes de conseguir pegar o vácuo. Está complicadíssimo”, não cansa de repetir. “Tínhamos tudo previsto na Ferrari, menos isto”.

E dá a entender, como também acontece na TV brasileira, que, estivéssemos no Brasil, a corrida seria diferente. Na Globo, até sugere-se que, se Alonso perder, pode colocar a culpa em Hermann Tilke. E toda a vantagem da força mental em nada ajuda agora. “Com um carro melhor é sempre mais fácil. Ele tem a pressão da decisão e um carro ruim nas mãos”, observa Luciano Burti, o que nos leva a lembrar de Webber, que “teve um final de semana quieto. A pressão foi demais”, como observa Brundle. Lobato, como de costume, vai mais longe. “Eu não queria estar na pele dele, sendo usado como isca”, provoca. “O problema é a Ferrari ter mordido”, Vega cai na real.

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Os espanhóis tentam manter o ânimo. “A Ferrari se apaixonou por Fernando e Fernando se apaixonou pela Ferrari. Eles sabem o piloto que têm na mão e, ano que vem, com um carro melhor, sabem o que esperar”, Lobato prevê. Galvão também fala em 2011, em como Schumacher “prometeu que vem com tudo e eu aprendi a acreditar nele” e como “Massa sentiu a pancada (qual delas?) de não terem deixado ele ganhar, mas ano que vem começa tudo do zero.”

A parada de Kubica, como observam os ingleses, confirma o título de Vettel. “O clima é de segunda-feira negra na Ferrari. Chris Dyer (responsável pela estratégia) não tira as mãos da cabeça. Eles não precisavam ter feito aquilo”, reporta Kravitz. “Depois de uma série impressionante de vitórias e pódios, um Safety Car e a degradação dos pneus tira o título de Alonso. Achei no momento que seria uma ótima decisão, poderia ter dado certo”, Brundle não desiste. “Tá voando o título de Alonso, mas não tenho nada contra ele”, Galvão tem essa estranha obsessão de opinar sobre a índole de quem não conhece. “É um piloto excepcional, mas só não queria que o campeonato fosse decidido por aqueles 7 pontos.”

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Brundle é outro que não esconde sua antipatia, mas por Vettel. “Ele teve sua chance ano passado, mas cometeu muitos erros. Esse ano também parecia que ia desperdiçar a oportunidade mas, de alguma maneira, sua velocidade, confiança, comprometimento e talento foram suficientes”, afirma o inglês. “Apesar dos erros, Vettel é muito rápido e o carro é muito bom”, Gené é sintético. “Vitória de uma equipe que limitou-se a vencer na pista e no esporte. É uma atitude desportiva que deveria servir de exemplo para a Ferrari”, Galvão salienta, logo após afirmar que a Red Bull certamente estava satisfeita porque seu “queridinho” havia ganhado.

16 Comments

  1. Que inveja da Espanha, que tem os insights diretos do piloto de testes da equipe de seu principal piloto…

    • Até o ano passado, quem comentava era o De la Rosa, que também era muito bem informado. Por isso que eu digo que a transmissão espanhola é melhor que a nossa: o narrador força a barra e torce bastante, como aqui, mas eles dão muito mais informação.

      • Legal…
        Fico me perguntando porque não fizeram isso com o Razia. Mesmo sendo de uma equipe pequena, poderia enriquecer as transmissões. Mas, por outro lado, como a Globo muitas vezes transmite as corridas do Brasil, tendo apenas a Mariana ou o Gil in loco, fica mais complicado fazer a transmissão junto com um piloto de testes.

  2. Seria uma boa ideia ter o Razia, mas é difícil uma emissora que falava em RBR até pouco tempo atrás dar um mole desses pro cara ficar falando da Virgin.
    Aliás, deve ser um dos motivos pelos quais eles são os únicos que têm um piloto de testes comentando. Estou lembrando do Brundle na BBC (que já teve James Hunt e Mark Brundell), do Anthony Davidson na Radio 5 (o melhor comentarista de todos, ao lado do melhor narrador, o Crofty), do Lauda na RTL, do Alesi na Rai, Prost e Laffite na TF1…parece que os pilotos de teste não andam bem cotados por aí.

  3. Gostei do comentário do Felipe Motta na Jovem Pan:

    – Cê tá loco Alonso? Cê tá loco?
    – O que o Petrov fez?
    – Vai passear cara!!!!
    – A sala de imprensa gargalha do Alonso…!

    • O Martin Brundle disse algo mais ou menos no mesmo estilo: “get real, son”.
      Eu não falo nada porque sei que teria a mesma reação. Frustração pura.

  4. Ju, como tinha ti falado anteriormente, ficamos reféns destes narradores parciais! aquele acontecimento do shumacher com o hill, por exemplo, com a narração da globo em 94, jurava que o alemão havia abalrroado o inglês, e após anos de experiência e senso crítico, dá para ver uma disputa normal de corrida! no meu entender, menos uma pecado para o alemão! certo que ele voltou para atrapalhar a willians mas, a fechada, foi normal, para quem defendia a posição! podemos ver, com uma narração tendenciosa pode INFLUENCIAR NEGATIVAMENTE!!! vimos muito bem pelo seu post, que são pouquíssimos os que fazem seu trabalho com a devida IMPARCIALIDADE, colocando ao espectador as estratégias em tempo real! em abu dhabi, achei no primeiro momento, a parada da ferrari muito cedo! pensei que a apatia de webber fosse contra a equipe mas, depois de algumas postagens e debates no blog da priscilla bar, cheguei à uma conclusão: – a apatia de webber, deveu-se ao jogo de equipe! imagine se o australiano batesse com alonso! abriria o caminho para as mclarens atacarem vettel e hamilton ser campeão! bastaria ao inglês ser 1º e vettel 3º, com button em segundo! isso tive que deduzir pois, os caras da nossa GRANDE GLOBO, PREOCUPADOS COM EGOS E DEVANEIOS, NÃO CONSEGUEM LER A CORRIDA PARA O ESPECTADOR! SERÁ QUE SÃO PROFISSIONAIS?

    • Não sei se a ideia é não complicar o “produto” que estão vendendo, mas o fato é que não é coincidência que a percepção geral sobre F1 aqui no Brasil fique muito na superfície. Falta conteúdo.

  5. “Galvão tem essa estranha obsessão de opinar sobre a índole de quem não conhece.”
    Se há uma coisa que sempre faço questão de criticar é esse aspecto do narrador. Eu tenho lá meus problemas com ele, que não são de hoje. Eu tenho a mesma implicância que ele, mas no caso faço por querer. Porém o que mais me chateia nem são seus comentários irrelevantes, mas é não substituí-los pelo que realmente interessa, relamente é importante.

    • Perfeito. É o que venho dizendo. É pedir muito que uma transmissão trabalhe com FATOS?

    • o mais engraçado Manu, é , se fosse novato, principiante! olhe quantos anos de janela!!! as vezes é irritante quando os rádios estão abertos e ele fala por cima!!! HAJA CORAÇÃO!!!

  6. O Galvão no passado colocou em xeque a carreira do Schumacher:

    “Ele vai dar muito prejuízo Briatore, quem mandou tirar o Roberto Pupo Moreno”

    Esculachou o Hakkinen no início na Mclaren, colocando palavras em sua boca:

    “Olha seu R.Dennis, eu vou acelerar, vou vencer corridas, mas vou lhe dar um PREJUÍZO!!!”

    Com Alonso profetizou um show de besteirol:

    “É Alonso, correr quando não tem o dever de chamar a RESPONSABILIDADE é uma coisa, agora que precisa, a coisa complica, eu sou mais o Trulli!”

    Todos eles deram pelo menos dois títulos a equipe! Galvão agora começou a pegar no pé do Hamilton e PRINCIPALMENTE do Vettel, será que a nacionalidade alemã tem alguma coisa com isso?

    “Olha lá Reginaldo, o Vettel errando de novo, eu já disse, EU SOU MAIS O WEBBER que erra menos, O VETTEL NÃO MERECE FICAR ENTRE OS CINCOS DEDOS DA MÃO!!!”

    “Vettel errou de novo, o alemão é muito imaturo, vou TORCER PARA O WEBBER”

    É ou não é, um Show de besteirol? O Galvão sabe o que é força mental? Bom, deve saber no banheiro não? Acho que ele não se lembra da temporada do Senna em 89, detalhe, Senna já tinha boa experiência, 6 anos de F1, mesmo assim fez uma temporada horrivel cometendo erros bizarros, já tinha acontecido em menor escala em 88 nos GPs de MON e ITA! Em 89 foi surreal, Senna errou no BRA/FRA/ING/ITA/POR/AUS…muitas vezes errando ou por afobação ou por avaliar mal a situação, como aconteceu em POR ao se chocar com Mansell de bandeira preta! Sua briga era com Prost, não tinha nada que comprar briga com Mansell! Na ITA forçou tanto o carro(era líder) que explodiu o motor, Prost que vinha “devagarinho” economizando equipamento, venceu fácil. E nessa época todos sabiam que tinha que economizar carro, principalemente em Monza que é giro alto o tempo todo, Senna tinha mais de 2o segundos de ventagem, final de prova, era só tirar o pé até a bandeirada, mas não preferiu fazer voltas + rápidas, ficou a pé. Essas coisas o Galvão nunca lembra…

    Errar em início de carreira é até normal, mas já campeão com 6 anos de experiência como o Senna…tenha dó!

  7. ops, corrigindo…vantagem

    • concordo com você Mac! no passado torcia por senna mas, era inocente! acontece que para a globo apenas pilotos de outros países erram! por errar senna deixou de ser gênio? não, mas acho que o senhor galvão não sabe que errar É HUMANO, SERVE PARA QUALQUER NACIONALIDADE! apesar de torcer por alonso, sei que ele não é santo, nem por isso deixa de seu bom piloto! também não gostei da atitude da ferrari! agora, querer colocar o caráter à prova porque o cara discutiu? vamos ser sinceros! quem conseguiria ficar sorridente, após perder um título ganho? não justifica mas, fazer o cara ser o diabo por um deslize? em um esporte tão estressante, as vezes o limite do bom senso é ultrapassado!

  8. Excelente texto Ju, perfeito mesmo.
    A cada dia fico mais fã desse blog.

    Com relação à cobertura da TV Globo, não há muito o que dizer, não mudou nada dos anos 80 pra cá. Só adicionaram o Burti, cujo papel principal é traduzir o rádio das equipes.

    Ter na equipe de comentaristas uma pessoa de fato ligada ao mundo da F1 é fundamental pra a cobertura. Mas isso não acontecerá tão cedo na TV Globo.

    Obrigado mais uma vez pelas informações.


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