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As fragilidades da Red Bull e uma prova de fogo para a Aston: análise do GP da Arábia Saudita

Temos que agradecer a Sergio Perez após o GP da Arábia Saudita por lutar tanto contra o domínio de Max Verstappen nesta temporada. Ele sabe, e já disse com todas as letras, que tem de ser perfeito para ter qualquer chance contra o companheiro. E sabe que ser perfeito em 23 corridas é quase impossível. Mas quando teve a oportunidade de vencer em Jeddah, brigou e provocou algo que não vimos no Bahrein: as Red Bull tiveram que andar no limite. E isso nos fez aprender algumas coisas.

Primeiro ficamos sabendo que a dobradinha do Bahrein não foi tão tranquila quanto pareceu.

“Tivemos sorte de ter vantagem lá. Caso contrário, se tivéssemos que forçar, provavelmente não chegaríamos ao final”.

Sergio Perez

Red Bull trocou elementos da UP e câmbio

O que isso quer dizer exatamente ainda não está claro. Parece haver uma fraqueza na transmissão, que afeta o câmbio. Mas também é verdade que a central eletrônica do carro do mexicano terminou o Bahrein travada, e a equipe ainda não desvendou por que (haverá reuniões nesta semana na Inglaterra com a FIA para tentar entender o que está acontecendo).

Além da central eletrônica e da bateria, Perez também teve o câmbio trocado antes dos treinos de sexta-feira. E mesmo assim enfrentou problemas mecânicos que mudavam o comportamento do carro ao longo da volta por toda a sexta-feira. De sexta para sábado, a Red Bull trocou o câmbio de Verstappen também. Na classificação, o eixo de transmissão do carro do holandês quebrou, e a equipe voltou a usar o primeiro câmbio, indicando uma troca por precaução.

Chega a corrida e Verstappen, largando em 15º justamente por conta do problema, foi lentamente (se compararmos à atuação monstruosa da Bélgica) escalando o pelotão. Até ser ajudado pelo Safety Car causado por Lance Stroll, que parou sua Aston Martin com um problema no sistema de energia do motor. Lance estacionou o carro em um lugar seguro, mas a primeira imagem, mais fechada, não deu essa certeza ao diretor de prova que, em uma pista perigosa como a de Jeddah, decidiu não correr riscos.

Parar na volta 18, colocando-se exatamente na mesma tática, e tirar a vantagem que Perez vinha construindo colocou Verstappen na briga pela vitória. Na relargada, ele passou Russell e Alonso, e estava a 5s do companheiro. Perez não tinha tido uma corrida tão tranquila como esperava. Perdeu a primeira posição para Fernando Alonso na largada, e o passou na pista três voltas depois.

Em condições iguais, Perez andou no ritmo de Verstappen no GP da Arábia Saudita

Nas mais de 15 voltas em que Perez teve Verstappen em segundo e liberado para atacá-lo, a diferença entre os dois se manteve relativamente estável, na casa dos 5, 4s. Tanto, que o mexicano logo julgou que seria pouco producente para a Red Bull seguir liberando os dois pilotos com todas as preocupações que tiveram antes da corrida. “Com um décimo para cá e outro para lá, estava claro que não ia mudar”.

O problema é convencer Verstappen disso. Há uma diferença entre alguém razoável e alguém que foi programado para vencer absolutamente tudo o que puder. Max só parou quando passou a sentir um ruído na parte traseira. Faltavam 12 voltas. Vendo a distância e calculando os riscos, decidiu que era hora de aliviar.

Perez também disse ter sentido algo estranho na traseira. Em ambos os carros, nada de errado foi percebido pela equipe. Mas veio a recomendação de ritmo em 1min33s0. Que Max seguiu, até a última volta, quando foi atrás do ponto da volta mais rápida. Perez não respondeu, não imaginou que isso aconteceria.

Tudo isso é o desenho de uma vitória ao mesmo tempo perfeita para a equipe e cheia de nuances. Quando eles têm de forçar, o ritmo está lá. A diferença foi perto de 1s em relação aos rivais mais próximos. Mas isso também expõe as fraquezas do equipamento e de uma dupla de pilotos que não transpira exatamente confiante, e não é de hoje.

A disputa entre Aston, Mercedes e Ferrari

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Como aconteceu no Bahrein, o ritmo de corrida de Fernando Alonso foi o segundo melhor da corrida, mas não chegou tão perto da Red Bull quanto nos treinos livres. Então já sabemos que a simulação deles é feita com menos combustível, algo que vai variar de acordo com o procedimento de cada time. A Aston claramente está mais próxima de Mercedes e de Ferrari do que da briga pela vitória no momento.

Na verdade, as três equipes estiveram igualadas em termos de ritmo, ou pelo menos até a Ferrari colocar os pneus duros. Os dianteiros superaqueciam, principalmente andando perto de outros carros (não é à toa que Leclerc sofreu mais que Sainz). Em uma pista em que não é fácil ultrapassar sem uma diferença de performance considerável, a classificação acabou sendo importante para o resultado final.

Nela, Leclerc, a única Ferrari que está andando alguma coisa, já que Sainz não consegue lidar tão bem com o carro mais arisco, saiu de contenção pela punição. Ele vinha tendo uma boa recuperação com o pneu macio, mas parou duas voltas antes do Safety Car. Sainz tinha parado antes, respondendo a Lance Stroll, que abriu as paradas na turma da frente e contra quem brigava por posição. À medida que as voltas foram se somando, o carro foi ficando cada vez mais temperamental com C2, e os ferraristas tiveram de se contentar com o sexto e sétimo lugares.

Alonso poderia ter aberto 10s, se soubesse

https://twitter.com/TracingInsights/status/1637819232418144256?s=19

Lewis Hamilton largou em sétimo e vinha bem com seu plano de uma estratégia inversa, começando com o duro e terminando com o médio. Mas o risco disso era que um Safety Car saísse cedo, e isso aconteceu na volta 18. Na relargada, ele até tinha ritmo melhor que todos ao redor mas, assim que os pneus dos demais, que estavam com duros, entraram na temperatura correta, essa vantagem se esvaiu.

Enquanto isso, Russell tentava começar seus stints um pouco mais lento para atacar Alonso no final. Mas toda a confusão da pune, não pune o espanhol no final mostrou que o bicampeão tinha o controle. A última volta dele, tendo que forçar para abrir 5s, foi apenas 0s3 mais lenta que Verstappen, que também estava tirando tudo pela volta mais rápida.

Aliás, dá para entender a felicidade de Alonso, mesmo com toda a controvérsia do pódio que era dele, foi para Russell, e depois voltou ao espanhol. A Aston gera muito arrasto e Jeddah tem muita aceleração plena. Mas mesmo assim ele teve o segundo melhor carro da corrida, o que é uma ótima notícia para o restante da temporada.

Balde de água fria para Alpine e McLaren no GP da Arábia Saudita

A Alpine prometia entrar nessa briga, e Ocon até se classificou à frente de Hamilton, mas ficou claro que o ritmo de corrida deles é o quinto no momento. E Magnussen conseguiu o último ponto, suado, após uma disputa com Tsunoda que durou boa tarde da prova. Ele conseguiu passar o japonês, que ficou bastante chateado consigo, com pneus de quase 40 voltas.

Falando nisso, Oscar Piastri passou Logan Sargeant na última volta com um pneu que trocou no final da primeira volta. Isso, depois de passar boa parte da prova assistindo de camarote o companheiro Lando Norris tentar fazer a manobra no americano. Foi um final de semana forte de Piastri, em uma McLaren que sofreu para andar de reta e teve azar com um toque no australiano e detritos (do mesmo toque) atingindo o carro de Norris.

(o texto ficou menos completo que o normal porque a FIA, sempre ela, ainda não publicou os dados que uso para contar com mais precisão a história da prova)

5 Comments

  1. Cacetada mulher, QUE MATÉRIA ESPETACULAR! Eu assisti a corrida e vendo tua análise aqui, fico mais empolgado ainda com a temporada. Esse detalhe do tempo de volta do Alonso para o Verstappen no final é INCRÍVEL! You always do a really well done job!

  2. A direção de prova estragou a corrida com o SC. No máximo era para ter um SCV curto, que ajudaria quem estivesse perto dos pits. Nem achei que era para SCV. A partir daí, quase nada aconteceu.
    A RedBull sobra e por mais que falem que o Perez é a única esperança de briga pelo título, daqui a pouco o Max vai abrindo vantangem. Mas se ele for ficando em segundo, demora mais para abrir uma grande vantagem.
    De resto a Aston vai estar constantemente no pódio. E a Ferrari, mesmo sendo melhor, vai penar para bater a Mercedes.
    PS: O Var da Fia consegue ser pior que do futebol brasileiro. Atrapalharam até os jornalistas.

  3. Acredito q a inteligência de Alonso não permite ver o real desempenho da Aston Martin em corrida. Logo depois de Perez passar ele ficou bem próximo não pq ele via chances de passar Perez mas só para abrir para Russel uma vantagem confortável. Quando isso aconteceu ele passou a andar bem mais lento. Depois que Verstappen passou foi a mesma coisa, osta novamente abrir de Russel. E no fim ele ficou só a 0.3s de Verstappen pq precisa ter os 5s. Ou seja, o carro é sim bem melhor q Mercedes e Ferrari em corrida. Só q ele sabe q não precisa forçar o carro pq o limite é o TOP3. Talvez em uma pista ou outra ele vai sentir q pode brigar com a Red Bull, nesse momento saberemos o máximo q esse carro pode dar.

  4. Como sempre, um excelente texto, Ju. Parabéns.
    Gostaria, se vc concordar, de ler sua analise sobre a segunda metade do grid, considerando uma metade formada por Red Bull, Aston Martin, Mercedes, Ferrari e Alpine e outra metade formada por Haas, Alfa Romeo, Williams, Alpha Tauri e McLaren (nao necessariamente nessa ordem).
    Ultima questão sobre a corrida da Arabia: se nao houvesse o SC na pane do STR, vc acredita que VER teria chegado em P2 a frente de ALO ou a vantagem construída pelos dois primeiros na pista (PER e ALO) seria muito grande para ser alcançada?
    Abs

    • Julianne Cerasoli

      Oi Ricardo, eu geralmente falo do grid todo (ou dos destaques lá da frente e de trás), mas sem os tais documentos da FIA com o volta a volta fica difícil, já que a transmissão não foca neles. Esses documentos atrasaram desta vez.
      Os modelos de estratégia apontam que Verstappen chegaria em segundo de qualquer forma. E Stroll teria chegado brigando com as Ferrari e atrás das duas Mercedes.


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