A Red Bull tem Adrian Newey. A Ferrari tem Pat Fry. A Williams tem Mike Coughlan. A Mercedes, ao que tudo indica, terá Paddy Lowe a partir de 2014. Em comum, os quatro têm papéis de liderança no corpo técnico de suas equipes – e uma longa passagem pela McLaren. Tudo bem que o fluxo de profissionais técnicos entre as equipes de F-1 é grande, mas que a McLaren tem histórico de perder grandes engenheiros, que se tornam chefes em equipes rivais, ninguém duvida. Isso levanta uma série de questões, desde os motivos pelos quais o time de Woking não consegue manter suas estrelas até o quanto disso tem a ver com o período de relativa seca de títulos, com uma conquista nas últimas 13 temporadas.
Sim, a McLaren se mantém disputando títulos, fazendo carros competitivos e vencendo corridas. Porém, parece que faltou aquele algo a mais, ainda que não esteja necessariamente apenas no corpo técnico, como também no campo administrativo e operacional.
É como se a McLaren fosse o Arsenal da F-1. Economiza ao contratar e formar Fábregas e Van Persies da vida, joga um futebol bom o suficiente para manter-se entre os classificados da Champions League, mas título que é bom, nada.
Haja vista a declaração do diretor administrativo da McLaren, Jonathan Neale, de que Lowe foi atraído por uma proposta salarial “de número de telefone”, tamanho o montante, a resposta para o êxodo de estrelas pode estar na maneira como a equipe se organiza.
O time é montado de maneira horizontal, sem alimentar o domínio de grandes estrelas, o que pode servir de argumento para os rivais atraírem os engenheiros. Isso foi importante na saída de Fry, descontente com o pouco espaço entre Tim Goss e Lowe. O atual diretor técnico da Ferrari, inclusive, levou consigo nomes importantes como Promodou e Iley ( e vale lembrar que os carros são projetados por Tombazis e o trabalho no simulador, a partir deste ano, é realizado por Pedro de la Rosa, ambos também ex-McLaren). A partir do ano que vem, é possível que o mesmo aconteça com a ida de Lowe para a Mercedes.
Por outro lado, o próprio Lowe, em declaração do início do ano passado, garantiu que a McLaren forma tantos engenheiros que “poderia perder 20 por ano por 10 anos e ainda assim não faltaria qualidade”.
De fato, a equipe é conhecida por isso, o que evidencia a maneira diferente como busca sua sobrevivência. Afinal, apesar dos projetos recentes de supercarros, ainda não pode tomar ares de montadora, como Ferrari e Mercedes, assim como não tem as garantias financeiras de uma Red Bull. Sua estratégia é semelhante à da Williams, que presta serviço em diversas áreas. Foram projetadas na McLaren, por exemplo, as bicicletas usadas pela equipe britânica de ciclismo nos Jogos Olímpicos de Londres.
Essa estratégia de diversificação de atividades para formar engenheiros de vários níveis unida com organização descentralizada acaba servindo como um escudo contra o maior poderio econômico dos rivais diretos.
É como se a McLaren constantemente se blindasse para perder seus talentos, o que diminui o impacto de uma saída como a de Lowe, responsável pela renovação da estrutura de simulação da equipe na primeira década dos anos 2000. Para o lugar dele, foi promovido Goss, projetista de alguns dos carros recentes da equipe e “pai”, inclusive, do MP4-23, que deu o último título para o time, em 2008. É como se eles sempre tivessem um Alexandre Pato no banco. Mas é inegável que, assim como constantemente recorrer aos reservas atrapalha o esquema tático e o ritmo de jogo de uma equipe, ficar cobrindo buracos no corpo de engenharia é um obstáculo a mais para formar uma base sólida e vencedora.
10 Comments
Sem contar a questão continuidade. O que estava na cabeça de um engenheiro pode não estar na cabeça do próximo, muito menos de outro sucessor futuro.
Mas agora a saber: Se a declaração do Lowe for verdadeira, como a Mclaren consegue formar ou recrutar tantos engenheiros assim?!?! De onde tira esse povo todo?!?!?!
Não exatamente, haja vista que, ao tirar o poder de uma só pessoa, o conhecimento/projeto é disseminado entre mais pessoas, e as ideias surgem em mais intensidade e, teoricamente, qualidade. Então, no caso da saida de um dos responsaveis, é mais simples apontar um novo gerente para o projeto.
Grande número de interessandos em cursos de engenharia, ensino prático nas instituições (e não apenas teórico), parcerias com universidades, incentivo a estagios. Ai o RH faz sua parte e pesca os melhores.
O pior de perder um profissional capacitado, é exatamente transferir esta capacidade de criação para a concorrência.
Por mais que seja coerente ter uma estrutura independente de “estrelas” é inegável que deixar estrelas como Newey e Hamilton irem embora, é uma baita burrice.
A Mclaren faz parte do cerne da F-1 e, na atualidade, por tradiçao, com Ferrari e Willians, formam a tríplice coroa do esporte. Sobre a capacidade de renovação, não é de se estranhar, afinal as indústrias aeroespacial/automobilística são poderosas na Inglaterra, daí haverá sempre demanda, sem se falar em suas universidades, educação,…Como não se lembrar do primeiro chassi em fibra de carbono! Ju, uma coisa que acho muito interessante na forma de trabalhar dos Mclarianos, é sua decentralização controlada, afinal todos fazem parte de uma imensa engrenagem, e a saída de um, não para o processo, como aconteceu com a saída de Rory Byrne da Ferrari, deixando uma lacuna incomensurável…A RBR trabalha com uma hierarquia a la italianos, imagina quando Newey faltar…
Bem interessante este post, Julianne. E é interessante como a McLaren se renova e se fortalece cada vez que perde um desses alicerces. E isso vem desde o início dos anos 90 quando perdeu John Barnard para a Benetton.
Um abraço.
Julianne,
Ron Dennis, moldou a McLaren ao seu jeito, e creio que seja difícil mudar essa cultura a curto prazo…
Eles são fortes e consolidados, e apesar da falta de títulos, creio que as saídas Lowe e Hamilton, ou qualquer que seja, não afetará a equipe, basta notar que os ingleses logo acharam os substitutos.
Eu particularmente gosto do modus operandi da McLaren, em não concentrar o trabalho e o esforço em apenas uma pessoa, o conhecimento é compartilhado por todos os engenheiros e projetistas da equipe.
O carro campeão com Lewis Hamilton em 2008, foi o MP-4/23.
Abs.
Acho que na McLaren quem realmente faz falta são as mãos de Ron Dennis. Ele precisa voltar a po-las na massa, para a equipe recuperar seu Norte. Apenas o sorriso Mona Lisa Style de Whitmarsh não tem se mostrado o suficiente.
Até o Ron Dennis teve fase ruim. Vide de 92 a 97. A Mclaren era sofrida e mal conseguia chegar num pódio. E para ganhar o primeiro campeonato após o Ron assumir a equipe demorou 5 temporadas. Calro que não acredito que o Whitmarsh tenha todo o talento do Ron, mas é necessário dar-se o tempo correto ao cara, até porque ele sempre teve carro bom pra competir. Eu sou a favor da continuidade do trabalho para manter a identidade da empresa e a qualidade nos serviços. E só pra mencionar outra coisa, a equipe tem o recorde atual de pit stop. Erraram e deram uma senhora volta por cima.
Minha humilde opinião.
Mas o recorde de pit stop não apaga um campeonato perdido por falhas mecânicas no carro e nos pit-stops.
Verdade seja dita são é uma estrutura inigualável, tem sofrido a sangria que tem tido mas sempre se mantém no topo da F1.