A primeira oportunidade que tive de ser lida por um público maior do que eu conseguia atingir com meu pequeno blog que tinha começado alguns meses antes foi quando o Luis Fernando Ramos convidou três produtores de conteúdo que ele gostava de ler para escrever um artigo para o blog dele. Foi lá no final de 2010. Lembro até hoje de onde estava e como as ideias foram surgindo para o texto.
Foi um tijolo na história que me levou à F1, mas um tijolo importante por me dar confiança. É como se alguém que estava dentro do barco me visse tentando embarcar e puxasse minha mão. Venha, você pertence aqui.
Então já faz um anos que tento retribuir isso e convido o pessoal para me enviar textos sobre F1. Aqui estão os 10 selecionados de mais uma temporada do Blog Takeover
Com o lançamento recente da série Senna e o filme F1 chegando em 2025, fiquei tentado a falar sobre outras produções audiovisuais com temática de Formula 1. Assim, posso reunir duas grandes paixões da minha vida, automobilismo e cinema.
Aqui vão 3 filmes interessantes sobre Formula 1.
Lembrando que o texto se baseia na minha humilde opinião, estou sempre aberto a diferentes pontos de vista. 🙂
Grand Prix (1966)
Em 2025 teremos o lançamento de F1, o filme ambicioso estrelado por Brad Pitt e dirigido por Joseph Kosinski, o diretor de Top Gun: Maverick (2022). A proposta do longa é criar uma história fictícia da Formula 1 com uma equipe e pilotos também inventados, mas utilizando, como apoio, imagens e personagens reais das temporadas de 2023 e 2024 da F1. Até mesmo os pilotos da Formula 1 ‘atuam’ no filme, vimos, por exemplo, Charles Leclerc e George Russell dividindo o pódio e a pista com Brad Pitt para as gravações de F1.
Essa, porém, não é uma ideia exatamente nova, John Frankenheimer dirigiu Grand Prix em 1966 seguindo o mesmo princípio: contar uma história fictícia com o apoio de cenas e personagens reais da temporada de 1966 da Formula 1. O resultado é uma produção extremamente fidedigna em quesitos técnicos, poucos filmes vão mostrar ao espectador coisas como o circuito de Spa-Francorchamps no seu layout original, o trecho do túnel de Mônaco na época que não havia túnel ou uma corrida no oval de Monza, tudo isso sem utilizar computação gráfica.
Um pequeno adendo, é muito legal observar como é descrita a pista de Mônaco no filme: “Uma pista muito difícil de ultrapassar”. Isso em uma época em que a pista não tinha chicanes. Observe, ultrapassar em Mônaco atualmente não é difícil “só” porque os carros são grandes, a pista sempre teve essa característica.
Todas as virtudes técnicas de Grand Prix renderam ao filme três Oscar’s: Oscar de Melhor Montagem, Oscar de Melhor Mixagem de Som, Oscar de Melhor Edição de Som. Porém, é necessário lembrar que estamos falando de um filme, e não um recorte da temporada. O longa é lento, com um problema grave de ritmo que pode, quem sabe, ser atribuído à época em que foi produzido.
Mesmo se a lentidão do filme for ignorada, sobra uma história fraca, com personagens apáticos e mal escritos – principalmente as mulheres, que são tratadas praticamente como objetos que um piloto pode adquirir -, além de atuações que deixam a desejar em vários aspectos. Algo interessante, é observar como a vida valia pouco na Formula 1 da época, um acidente grave acontece e é só mais um no meio de vários em um esporte de risco.
No geral, Grand Prix é um filme interessante para entender como funcionava a Formula 1 nos anos 60, mas não espere 3 horas de muita diversão.
Rush – No Limite da Emoção (2013)
Avançamos quase 50 anos no tempo e chegamos no lançamento de Rush (2013), que ganhou o subtítulo “No Limite da Emoção” no Brasil. O longa conta a história da rivalidade entre James Hunt e Niki Lauda nos anos 70, com ápice em 1976.
Rush também é um filme tecnicamente lindo, claro que este utiliza de computação gráfica para reconstituir pistas e cenários da época, mas o faz com maestria. Ron Howard faz um ótimo trabalho na direção ao escolher muito bem quando a computação gráfica é utilizada e quais ângulos de câmera mostrar para sempre dar a impressão de que a gravação está acontecendo mesmo naquela pista, mesmo que não esteja. Esses erros são comuns em outras produções, como Gran Turismo (2023).
Gosto, também, de como a história é contada, sem tomar lados, já que tanto Lauda, como Hunt, são personagens principais da história. É fácil produções sobre automobilismo tomarem alguns pilotos como heróis e outros como vilões, vide Ford vs. Ferrari (2019) e Senna (2024). Aqui, vemos as falhas e virtudes dos personagens, e como eles são pessoas e pilotos completamente distintos. Tudo, suportado por magníficas atuações da dupla principal, nada supera o Niki Lauda de Daniel Brühl e o James Hunt de Chris Hemsworth.
O roteiro inventa algumas situações, exagera outras, o que pode incomodar os mais atentos, mas é algo comum em produções baseadas em histórias reais para melhorar a emoção do filme, nada extremamente exagerado ou algo do tipo, tudo muito bem conduzido. A emoção é construída de uma forma honesta, assistir a esse filme conhecendo, ou não, a história real é uma experiência incrível.
Rush é, com certeza, um dos meus filmes de automobilismo favoritos, e que eu recomendo para todo mundo, até a quem nunca viu uma corrida de Formula 1 na vida.
Ferrari (2023)
Este tem, talvez, o melhor diretor da lista, Michael Mann, do sensacional Fogo contra Fogo (1995). Ferrari conta a história de Enzo Ferrari – interpretado pelo ótimo Adam Driver – em 1957, momento em que a empresa beirava a falência, bem como seu casamento após a morte do filho Dino.
Ferrari é o filme da lista que mais foge da temática Formula 1, mas como eu gosto desse longa. Ele foca bastante em Enzo Ferrari e como ele lidava com as adversidades. Sua personalidade fria, mas ainda assim, humana, é muito bem exibida pelo diretor e interpretada pelo ator.
Outro filme que não cai nas armadilhas de escolher heróis e vilões, ele reconhece os defeitos do commendatore, sua teimosia é tanto parte essencial, como detalhe, da trama. “O boi deve puxar o carro” diz ele sobre construir carros com motor na traseira, algo que Enzo realmente acreditava ser um erro. Os pilotos, por sua vez, são tratados como os profissionais que são – no caso, eram -, e um toque legal é que, ao apresentar pilotos que seriam campeões da Formula 1, Enzo diz: “futuro campeão do mundo”.
O longa não teve a atenção que era esperada para um novo longa de Michael Mann com Adam Driver e Penélope Cruz, não foi reconhecido pela Academia e tem algumas falhas na computação gráfica, principalmente quando o diretor escolhe utilizar bonecos digitais para representar acidentes, ainda assim, é o meu favorito da lista. É um filme honesto com o automobilismo, principalmente com como o esporte funcionava na época. Ele mostra a banalidade da vida sem tirar o peso dos acontecimentos, sem deixar de chocar o espectador. Os carros e as cenas de ação também não deixam a desejar.
No geral, é um filme que mostra o que teve de acontecer para termos um esporte bem mais seguro como temos hoje, mesmo que estejamos longe da perfeição, a coisa já foi bem pior.
Deixo aqui uma recomendação extra, um curta animado chamado Le Mans 1955 (2018), que está disponível no YouTube. Ele conta o dia do terrível acidente nas 24 horas de Le Mans de 1955.
Os 3 filmes que eu gostaria de citar foram esses, tenho uma lista no Letterboxd com mais filmes, documentários e séries sobre automobilismo para quem quiser dar uma olhada.
Muito obrigado pela leitura!!!
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