No post de ontem, vimos como a Fórmula 1 é um dos esportes mais lucrativos do mundo, mas tem equipes que penam para sobreviver. E não está sozinha. O maior campeonato de futebol do mundo é a Premier League. Seus contratos de direitos televisivos chegam perto de 2 bilhões de dólares, seus jogos são assistidos por 4.7 bilhões de pessoas ao longo de uma temporada (o que representa cerca de 12,3 milhões por jogo), seis de seus clubes estão entre os 20 mais ricos do mundo – mais do que qualquer outra liga – e os 20 times somam uma receita de 3.85 bilhões de dólares.
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O futebol em si está crescendo. A receita anual dos 20 clubes mais ricos é de 6 bilhões de dólares anuais. Nos últimos 20 anos, inclusive, o volume movimentado pelo esporte cresceu bastante: todos os 30 maiores clubes têm receita superior aos 100 milhões, enquanto, em 1997, apenas o Manchester United atingia essa soma.
Mas o mundo da bola também tem seus problemas. A margem operacional na Inglaterra é pequena, de 4%, e o grande bicho-papão são os salários, que consomem 83% do orçamento. É uma questão de difícil solução, pois os diferentes campeonatos teriam de adotar um teto salarial semelhante para que ninguém saia perdendo, mas há países em que existe um protecionismo em relação aos clubes, considerados importantes para seu turismo e imagem. Por isso, mesmo que o dinheiro gire, os grandes clubes convivem com grandes dívidas, em um cenário parecido com o da F-1. Na Premier League, os 20 clubes acumulam perdas na casa de 330 milhões de dólares/ano.
O cenário é bem diferente do outro lado do Atlântico. A liga mais lucrativa do mundo é a NFL, com receita de NOVE bilhões ao ano e lucro perto de um bilhão. Direitos televisivos? Contando só as três emissoras dos EUA, o contrato atual – e que vale até 2022 – é de 3,81 bilhões de dólares/ano. Sim, o dobro do que a F-1 arrecada no total.
Lá também houve muitos problemas com a alta dos salários, mas acordos trabalhistas permitiram que, enquanto a receita total cresceu de 6.5 bi em 2006 para os 9.2 de hoje, a média salarial subisse de 1.7mi para 2mi no mesmo período. E planos de criar a própria rede de celulares, ampliar os serviços do Fantasy Game (incluindo permitir acompanhar os jogadores de seu time em tempo real) e vender os direitos de transmissão via internet de maneira customizada (os direitos já foram adquiridos pela liga, que agora estuda a melhor maneira de usá-los) fazem os comandantes do esporte mirarem uma receita de 25 bilhões em 2027.
A NFL, claro, não é a única liga norte-americana que movimenta muito dinheiro. A receita anual do Major League Baseball é de 7,5 bi e da NBA é na casa dos 5 bilhões.
É difícil uma comparação direta, pois esses esportes têm mais eventos, mais equipes, mais potencial de lucro. Porém, não é segredo que a forma como a Fórmula 1 vem sendo gerida trava seu crescimento.
A regra da pontuação dobrada para a última etapa é um exemplo de como quem manda no esporte está distante do que anseiam seus espectadores, com pesquisas na internet apontando mais de 90% de rejeição. As restrições ao uso das imagens na internet é outra questão complicada, assim como a própria dinâmica do esporte: mesmo que o regulamento deste ano seja uma evolução para a relevância da categoria no mercado automobilístico, ele provavelmente vai dificultar a compreensão das corridas.
10 Comments
Excelente post, Julianne. A F 1 já virou xadrez não é de hoje; deixou de ser instintiva, deixou de ser aferição de habilidade natural dos melhores, deixou de ser demonstração de garra, de velocidade e até mesmo de arrojo, deixou de ser até mesmo demonstração de inteligência do piloto, para se transformar em jogo de estratégias comandadas por um exército de técnicos, engenheiros e chefes de box. Muitos gostam dela assim e eu respeito esse tipo de opinião e esse tipo de visão, mas eu, particularmente, não gosto. Cada aficionado tem a sua visão. Não gosto desse artificialismo todo, dessa excessiva sofisticação que, no fim das contas, leva a custos maiores. A F 1 já foi competitiva e bem mais simples. Não sou contra o progresso, mas desde que ele não desfigure a essência do automobilismo. Não sou saudosista quanto aos pilotos, acho que os de hoje nada ficam a dever aos do passado, embora eu ache que de jeito algum possa haver comparações entre eles, eis que atuam em circunstâncias diferentes em cada época, com dificuldades bem diversas também. Esse regulamento que passa a prevalecer a partir deste ano de 2014, na minha insignificante opinião, vai transformar a F 1 numa F-1 Gincana, cada vez menos merecedora do título “Campeonato Mundial de PILOTOS”. Nesse esporte (?), os competidores sempre dependeram de equipes e de meios para poderem expressar ao máximo seus talentos, é verdade, porém estamos chegando a um paroxismo onde o piloto cada vez mais decide menos, só acelera quando mandarem etc. etc. etc. E aproxima a F 1 – para mim 100 metros rasos, numa comparação a grosso modo – ao WEC, este sim, uma maratona onde muita coisa da F 1 de uns tempos para cá é cabível e desejável.
Caro Aucam,
Nao acho que seja a complexidade das regras e estrategias da F1 que afaste o publico. O “tal de” Futebol Americano eh bem complicado em suas regras e nuances. Porem, elas mudam pouco e os comentaristas sao mais objetivos que o que vemos da TV Espanhola e Brasileira 🙂 Acredito que o espectador medio da Inglaterra, Alemanha e Italia sejam melhor esclarecidos por causa das transmissao mais tecnica que tiete a que eles tem acesso.
Agora, como preferencia pessoal, eu gosto de simplicidade. KERS, e ERS sao OK para mim. DRS, pneus de farinha, e obrigatoriedade de usar os dois tipos de pneu, nao! Se existe um problema aerodinamico que dificulta as ultrapassagens, que o resolva! que tal asas de apenas um plano, como nos anos 70? Sem dutos ou DRS duplo? Buracos, fendas ou apendices no assoalho?
Meus 2c
Meu caro Muguello, eu realmente nada entendo de futebol americano, por isso valho-me de seu conhecimento para a comparação com a F 1, já que você aprecia ambas as competições. Apenas a título de curiosidade, não faz tempo vi o Fareed Zakaria em seu GPS entrevistar um especialista (cujo nome não recordo) que está empenhado em demonstrar os efeitos maléficos a longo prazo, em especial na parte neurológica, do futebol americano. Não tenho opinião formada sobre o assunto, mas creio que os americanos já incorporaram ao seu DNA esse tipo de competição e realmente a amam, quaisquer que sejam suas regras. De resto, eu reclamo das modificações da F 1 mas TAMBÉM continuo viciado nela, quaisquer que sejam suas regras, rsrsrsrsrs. . .
Grande abraço.
Oi Juilanne,
Muito bom post! e concordo 100% com o argumento que a forma com a qual a F1 vem sendo gerida trava o seu crescimento. Moro nos EUA a 14 anos e apenas nos ultimos 2 anos eh possivel ver a F1 (toda a temporada) na TV paga, mas num pacote “basico”. Entre aspas por nao ser o mais basico, eh no segundo mais basico. Ate a quando era a Speed que transmitia as corridas, era necessario ter um dos pacotes mais caros para poder ter a opcao do “extra” de esportes com Speed.
Lembro que em 2007 or 2008, quando me mudei para a Costa Oeste eu consegui ver algumas corridas pela internet, ITV Inglesa se me lembro bem… Eu fui ao extase!
Quanto ao numero de eventos, nao eh so quantidade. Enquanto a MLB tem mais de 130 jogos por time na temporada regular (antes do mata-mata), a NFL tem apenas 16 rodadas + 3 de mata-mata e a grande final. 20 eventos por time, no maximo! Praticamente o mesmo da F1. O problema, no meu ponto de vista, e a falta de visao da gestora da F1. Querem ganhar montanhas de dinheiro de poucas fontes (os promotores de corridas). Veja bem, pelos seus numeros, so de TV, a NFL arrecada *o dobro* do *total* da receita da F1. Eu duvido que *um time* se quer tenha que pagar milhoes todos os anos so para ter jogos na sua cidade. Sim, eles tem que manter um estadio padrao “NFL” (nao padrao FIFA 😛 ), mas a receita que eles tem os permite mater tais estadios.
Outro exemplo: NASCAR, as taxas de corridas nao sao exorbitantes e os promotores tem condicoes de cobrar entradas acessiveis e os autodromos estao sempre cheios!
Ah, detalhes, NFL, NASCAR estao com seus eventos sempre lotados!
Eu sinceramente espero que o controle da F1 mude para maos com mais visao e menos ganancia.
Quanto aa crenca que os chefes de F1 nao conseguem fazer nada junto, eu digo que sao pessoas inteligentes e que amam a F1. Voce acha que sao muito diferentes dos dirigentes da NFL ou Premier League? Acho que nao!
Excelentes os posts, Julianne!
E muito legais os comentários da turma (um bônus nos blogs do Total Race, inclusive).
Só uma observação, que eu sempre cito em conversas de bar:
Enquanto isso, o futebol brasileiro, que é um monopólio em termos de preferência popular, é esse fracasso praticamente criminoso em termos de gestão.
Pra mim chega a ser até tranquilizador minha indiferença ao que acontece no futebol, e minha preferência pelo automobilismo em geral (e F1 em particular), apesar de tudo o que a gente tem observado acontecer nesse meio.
Mas como está a evolução da receita e do lucro dessas ligas?
A F1 perdeu terreno ao longos dos últimos dez, vinte anos, em termos percentuais?
ju,vc ainda tem blog sobre treinamento fisico ?
Nunca tive um blog, mas várias matérias minhas estão nesse site: http://www.multiesportes.com.br/
Vlw juju,sou muito fã do seu trabalho,vc é fera.
Fora do post, Julianne: na torcida por Simona de Silvestro na Sauber F 1, como titular em 2015. Competente e talentosa, que o diga Marco Andretti, depois da sova que levou dela por muitas voltas e a despeito (e desrespeito) dos revoltantes totós que ele deu na traseira do carro da menina, em São Petersburgo, em 2013. Na minha opinião, ela vai se sair bem. Além do mais, bonita, simpática e “tough” (já pilotou com as mãos enfaixadas, quando as teve queimadas). E sem os chiliques da Danica (que eu também queria ver na F 1, competindo contra alguns marmanjos igualmente chiliquentos, rsrs).