McLaren: Como complicar uma dobradinha - Julianne Cerasoli Skip to content

Como complicar uma dobradinha e o que faltou a Verstappen no GP da Hungria

Volta 45. A McLaren tem Oscar Piastri em primeiro e Lando Norris em segundo, depois de ter fechado a primeira fila, na ordem inversa. Eles tinham, respectivamente, 26 e 24s de vantagem para Lewis Hamilton, em terceiro. O problema era que o inglês vinha tirando 1s por volta e eles ainda tinham um pit stop para fazer. A perda da parada é de cerca de 21s

Eles já teriam parado para cobrir Hamilton se não fosse outro detalhe: Hamilton antecipou sua parada, cobrindo uma tentativa de undercut de Charles Leclerc, porque tinha pneus duros. A McLaren só tinha um jogo de médios, e fazia muito calor em Hungaroring, dificultando manter os pneus vivos. 

Deve ter passado um filme na cabeça do pessoal do pitwall. As decisões atrapalhadas das últimas corridas, o undercut que Norris levou do próprio Hamilton, com uma parada de 4s5, em Silverstone.

Parar Piastri primeiro e depois Norris, como manda o figurino, poderia ser arriscado. Daria a chance de Hamilton ficar a 22s do inglês, com duas voltas a mais virando 1s mais rápido. E se o pit stop fosse lento novamente e a McLaren perdesse uma dobradinha praticamente garantida?

A cautela pedia que a McLaren chamasse Norris primeiro, para proteger a dobradinha. Mas isso significava que Piastri voltaria atrás dele quando parasse, pois os dois estavam separados por apenas 2s. Seria necessário que eles invertessem, na pista, a posição, para restaurar a ordem original.

Os números x fator humano

Talvez o que o pitwall não calculou bem é que existe um ser humano que vem tendo semanas difíceis, questionando toda decisão que toma, aprendendo a viver no olho do furacão, criticado por ser bonzinho demais. Lando Norris não acatou a ordem logo de cara, quis mostrar que tinha ritmo, chegou a abrir 6s em relação a Piastri, chegou a ficar quieto no rádio, como se fingisse não ouvir as ordens.

“Você já provou o que queria”, dizia seu engenheiro, Will Joseph, deixando claro que a McLaren percebia que ele tinha mais ritmo, mas isso não mudaria nada. A equipe tinha que pensar no todo, nas explicações que daria a Piastri, que o tempo todo ouviu que estava tudo sobre controle, na coesão de uma equipe que está aprendendo junta a lutar por resultados grandes.

Norris disse ter se colocado no lugar de Piastri. A ordem de antes da parada foi reestabelecida, e o australiano vence pela primeira vez na carreira na F1. 

E essa é apenas uma das história do GP da Hungria.

Uma tarde longa para Verstappen

Norris tinha perdido a primeira posição na largada. Focou em tentar fechar Piastri por dentro, deu espaço para Verstappen por fora e os três entraram na curva lado a lado. Não há espaço e Verstappen sai da pista, voltando à frente de Norris, com Piastri na liderança.

A direção de prova entende que Verstappen só está à frente porque não ficou na pista e ele tem de devolver a posição.

Logo vai ficando claro que a corrida de Verstappen é mais com Lewis Hamilton do que com as McLaren. Na volta 15, a diferença entre ele e Piastri já era de 7s, e a Mercedes para Hamilton cedo para conseguir o undercut.

Verstappen já tinha perdido a terceira posição a essa altura, então a saída para a Red Bull é tentar deixá-lo na pista, criar o offset de pneus para que ele tenha borracha mais fresca para atacar no final da prova.

O problema dessa estratégia é que você precisa ultrapassar para que dê certo. Já que os pneus estavam superaquecendo no calor húngaro, não seria uma tarefa fácil.

Verstappen tinha que ser decidido nas manobras. E não foi

As Ferrari também escolhem ficar mais tempo na pista. Eles estavam em quinto e sexto, mas especialmente Leclerc não tinha um ritmo ruim e poderia se beneficiar dos pneus mais novos no final da corrida.

Verstappen para 5 voltas depois de Hamilton, Leclerc ainda espera outras duas. Os três estão com os compostos duros, assim como os pilotos da McLaren à frente.

Com pneus mais novos, Verstappen logo chega em Hamilton, mas não consegue passar. Com pneus mais novos ainda, Leclerc chega nos dois. Até que, com 30 voltas para o final, os três pilotos estão separados por menos de dois segundos. Parar é um risco, especialmente se você só tinha um pneu médio disponível, como era o caso de Leclerc, mas a Ferrari não resiste à tentação de conseguir um undercut em Verstappen e Hamilton ao mesmo tempo, o que só não acontece porque a Mercedes cobre essa tentativa chamando o inglês aos boxes também.

Nesse momento, a Red Bull já levou o undercut novamente, o que é seguido por uma série de reclamações de Verstappen, que estava tendo um dia de fúria desde que teve que ceder a posição a Norris no começo. “Não quero saber dessas bobagens, eu estou aqui tentando salvar uma estratégia de m… que vocês fizeram”, diz ele em um dos vários comentários agressivos via rádio, aos quais o engenheiro Gianpiero Lambiase responde com a dose de ironia natural.

“É criancice no rádio”

Com pneus nove voltas mais rápidos, ele demora 5 voltas para passar Leclerc, uma eternidade quando se trata de Verstappen, que soa descontrolado via rádio e também sofre mais do que a própria equipe antecipava com o superaquecimento dos pneus atrás de outros carros.

Max passa três voltas atrás de Hamilton até mergulhar por dentro, fritando os dianteiros e indo reto. Os dois batem, Hamilton continua, Verstappen levanta voo, perde a posição para Leclerc novamente, e volta à pista com danos no carro.

Termina em quinto, depois de ouvir de Lambiase que reclamar via rádio da manobra de Hamilton era “criancice”. 

O inglês comemora seu 200º pódio na F1, mesmo com a Mercedes sofrendo com as altas temperaturas na Hungria. E Leclerc ficou satisfeito com o ritmo de uma Ferrari que trouxe mudanças para Budapeste na tentativa de controlar o bouncing, embora eles ainda encontrem limitações no acerto do carro para evitar o problema, que voltou com força após a atualização da Espanha.

Perez ganha de Russell disputa das classificações ruins

Pressionado por sua vaga na Red Bull, Perez largou em 16º depois de bater na classificação. Ele estava uma posição à frente de Russell, que não geriu bem o quanto devia forçar no começo de uma classificação com tempo instável.

Russell passou Perez na largada, e a Red Bull conseguiu o undercut na Mercedes quando parou Perez na volta 28. Russell ficou na pista por mais 5 voltas, criando um offset, mas voltando também atrás de Tsunoda, que executava muito bem uma ousada estratégia de uma parada.

Com Russell em sua cola, Perez antecipou a segunda parada para evitar o undercut, e a Mercedes teve que deixar Russell na pista por outras seis voltas para dar a ele pneus mais novos para que ele ultrapassasse na pista. Mas não funcionou. Era o dia de undercut e não de overcut, isso ficou claro. Perez foi sétimo e Russell, oitavo.

Tsunoda ficou com o nono lugar e a Aston Martin ficou com o último ponto, mesmo tendo guardado um jogo de macios para uma corrida que os demais fizeram com os médios e duros. Tiveram sorte que a turma de trás ficou presa em um trenzinho de DRS.

Esse ponto da Aston teve uma ordem de equipe para Alonso deixar Stroll passar para que ele atacasse Tsunoda. Mesmo que ele não tenha conseguido passar, não devolveu a posição, o que seria o normal. Como de praxe na F1, o conflito de interesses individuais com os coletivos sempre dão o que falar. Na luta pela vitória e na luta por um pontinho.

2 Comments

  1. Bela análise.
    Não entendo porque a MacLaren não pode parar os pilitos em voltas seguidas. Redbull e Mercedes fazem Double Stack direto.
    E o Noris parando depois estaria bem mais rápido que o Hamilton.
    Agora que o carro está bom, precisam evoluir nas estratégias e aprimorar a equipe de pit stop.


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