O GP da Espanha foi daqueles em que o vencedor nos deu pouco assunto para comentar. Ao mesmo tempo, Verstappen dominou e Perez foi quarto em Montmeló, e não dá para ignorar esse abismo. O sucesso do casamento entre Max Verstappen e o RB19 ficou estampado nas curvas rápidas do Circuito da Catalunha, com um comprometimento e velocidade que nem seu companheiro Sergio Perez conseguiu reproduzir. E essa seria uma vantagem ainda maior neste ano, com a mudança do layout da pista e a substituição da chicane pela última curva veloz. Max era bom em todo o circuito mas, ali na curva 14, foi imbatível ao longo do final de semana.
A vantagem, no final, foi de 24s para Lewis Hamilton. Mas ao ver que, por boa parte da prova, eram pilotos do meio do pelotão que faziam as voltas mais rápidas, ficou claro que Verstappen administrou uma vantagem construída aos poucos.
Uma decisão “complicada” para Max no GP da Espanha
Não que Verstappen precisasse disso para vencer, mas dois pontos o ajudaram a ter uma tarde tranquila em Barcelona. O líder do mundial disse que não foi fácil escolher o pneu médio para a largada. Mas acabou sendo uma decisão acertada. E o erro de Hamilton na classificação significou que ele tinha carros com ritmo de corrida ruim largado ao seu redor, o que provavelmente ajudou nessa decisão.
Isso porque, com mais de 600m até a primeira freada, Verstappen ficaria exposto ao ataque de outros carros na largada, o que aconteceu com Carlos Sainz na primeira curva. Mas ele sabia que se livraria com facilidade da Ferrari, ou mesmo da McLaren de Lando Norris, que largava em terceiro.
De qualquer maneira, somente as Red Bull e Logan Sargeant optaram pelo pneu amarelo para a primeira parte da prova, e havia bons motivos para evitá-lo com base no que havia sido observado nos treinos livres. Os médios tinham desgaste semelhante aos macios e rendimento parecido com os duros, então não eram vantajosos.
Porém, quando os carros ainda estavam no grid, nuvens começaram a cobrir o circuito, diminuindo a temperatura do asfalto rapidamente. Aos poucos, a pista ia ficando em condições que ajudavam a duração e performance do pneu médio. Ou pelo menos se você estivesse correndo sozinho, como Verstappen, e pudesse administrar a temperatura dos pneus.
Por que Perez não conseguiu chegar no pódio do GP da Espanha?
Esse não era o caso de Perez, que errou na classificação novamente, largou com os médios em 11º, perdeu posições para Guanyu Zhou e George Russell na largada, e só conseguiu ultrapassar Piastri, Hulkenberg e o chinês antes de começar a ganhar posições de pilotos que pararam antes por terem largado com os macios. Ele sofreu com a falta de aderência nos primeiros metros e, depois, em manter a temperatura certa para fazer os médios funcionarem e durarem.
Essa primeira parte ruim da corrida comprometeu seu resultado. Quando parou pela primeira vez, era apenas o nono. É bem provável que a Red Bull tenha colocado-o no pneu médio pensando em parar uma vez a menos que os rivais. Mas a queda nas temperaturas no domingo facilitou a tarefa de fazer somente dois pit stops e tudo ficou mais igualado.
O que não era igualado é o rendimento da Red Bull, mas apenas em um carro. Como vimos várias vezes no passado, quando se tem um companheiro que anda muito perto do máximo que o carro pode dar, erros aqui e ali vão comprometendo o final de semana de uma maneira que gera um abismo na bandeirada.
A queda da temperatura da pista também ajudou a Mercedes
Depois desse primeiro stint de Perez, ficou claro que ele teria dificuldades para chegar sequer no pódio. Isso porque as Mercedes estavam rendendo bem na corrida (o que é não é novidade neste ano) e especialmente com o tempo nublado e os rivais diretos sofrendo com os pneus.
Hamilton largou em quarto, passou Norris e viu o inglês bater na sua traseira e ter de trocar a asa dianteira, chegou a ser passado por Stroll, recuperou o posto e superou o segundo colocado Sainz em 14 voltas. Neste momento, Perez estava pouco mais de 10s atrás do inglês, o que não seria algo impossível de ser tirado por uma Red Bull.
Perez perdeu tempo atrás de Alonso, Hamilton adotou um ótimo ritmo ao mesmo tempo em que alongava o stint com macios. E, quando ele e Perez pararam pela primeira vez, nas voltas 24 e 27, respectivamente, a diferença tinha aumentado para 16s.
Então a briga mais realista para o mexicano seria com Russell, até porque, por estar mais atrás, ele teria trânsito após sua segunda parada (lembre que Checo voltou para o nono lugar). O britânico sofreu com a falta de temperatura nos pneus dianteiros e o bouncing na classificação, fruto de um acerto diferente de Hamilton. E ficou com o 12º posto no grid. Mas, na corrida, com mais combustível, o carro ficou mais comportado e o ritmo dele era forte.
Corrida com pouco tráfego ajudou Russell
Russell ganhou cinco posições na primeira volta, mesmo saindo da pista na primeira curva (os comissários chegaram a estudar a volta dele à pista para observar se ele levou alguma vantagem, mas não chegaram a investigá-lo). Antes que os pilotos da ponta começassem a parar, estava em quinto, já andando de ar limpo e podendo cuidar mais de seus pneus. Ele também usou bem a vantagem de ter um jogo novo de macios nesta fase.
Russell parou na volta 25. A diferença para Perez era de sete segundos. Quando Perez limpou o trânsito de quatro carros que havia entre os dois, a diferença era de 11s. Era a volta 34 de 66.
A diferença entre os dois se manteve estável nessa fase da prova porque Russell estava com os pneus médios e Perez não vinha muito bem com os duros. Na verdade, lá na frente, Verstappen também reclamava do comportamento do carro com este composto e pedia para o time encurtar o stint.
A Mercedes chamou Russell cedo para a segunda parada, com 21 voltas para o final. Ele voltou só 13s atrás de Perez, e virando mais rápido. Assim, a Red Bull não tinha outra escolha senão chamar o mexicano para a segunda parada. Ele teria seu jogo novo de macios para atacar, um offset de cinco voltas. Com 14 voltas para o fim, estava a 9s do inglês, e não teve ritmo para pressioná-lo.
Onde estavam Ferrari e Aston Martin no GP da Espanha?
A Ferrari vinha com um carro visivelmente modificado, mas sabendo que a atualização serviria para aumentar a carga aerodinâmica da traseira. E não resolveria a questão do desgaste de pneus.
Sainz e Leclerc ainda não conseguem andar com asas traseiras maiores em circuitos mais velozes, já que isso faz com que o carro salte demais. Então a carga tem de ser mais leve e eles também têm de comprometer a altura em relação ao solo. Um ponto aumenta faz o carro se mover mais nas curvas e gera desgaste de pneus. Outro diminui a geração de pressão aerodinâmica.
Leclerc sentiu algo estranho na classificação, que a equipe não teve tempo de identificar, então decidiu trocar a suspensão. O monegasco disse que o carro voltou ao normal no domingo, mas esse normal ainda está longe de ser o ideal. O comportamento muda muito de acordo com o composto usado e, mesmo com Leclerc reclamando do pneu duro, a Ferrari ainda o colocou no pneu de faixa branca duas vezes.
Largando em segundo, Sainz logo percebeu que sua briga era mais atrás. Pressionado por Hamilton, ele parou cedo, na volta 15. Hamilton fez nove voltas a mais e ainda conseguiu manter a vantagem em cerca de 10s. Aí estava claro que seria uma questão de tempo para o espanhol sair da disputa pelo segundo lugar. Na volta 35, sempre com pneus mais desgastados que os rivais diretos por ter parado cedo no começo da prova, ele foi superado na pista por Russell e saiu da disputa pelo pódio. Eventualmente, terminando em quinto.
Sainz só não acabou mais atrás porque Fernando Alonso errou na classificação, danificou seu assoalho, e só largou em oitavo. Mesmo com a peça consertada para o domingo, ele não teve o mesmo ritmo forte de outros domingos.
Classificação ruim e pneus macios “seguraram” Alonso
A Aston Martin deixou Barcelona sem entender muito bem onde seu ritmo foi parar. É claro que largar mais à frente teria ajudado Alonso, mas ele destacou como, mesmo quando tinha pista livre, não mantinha um bom ritmo.
Também é possível que a Aston tenha pago por não ter guardado dois jogos de pneus duros, já que sua opção foi por evitar o médio e, com isso, eles tiveram de fazer dois stints longos com os macios. E a equipe percebeu que o ritmo melhorou só no final, quando Stroll e Alonso estavam com o composto mais duro.
Ainda assim, há muito o que buscar entender. Alonso passou mais de 10 voltas sem conseguir se aproximar de Tsunoda quando o japonês usou um undercut para conseguir entrar na zona de pontuação. Alonso só conseguiu superar Tsunoda na volta 48. Logo depois, ele se livraria de Esteban Ocon, com uma Alpine que funcionou muito melhor na classificação do que na corrida, quando voltou ao seu lugar de quinta força no grid.
A luta pelas últimas posições nos pontos parecia que iria ficar entre Tsunoda e Guanyu Zhou, mas o japonês foi punido com 5s por uma manobra em cima do chinês. Zhou fez uma corrida sólida após uma ótima primeira volta, quando pulou de 13º para nono. Com Leclerc e Pierre Gasly presos no trânsito, ele conseguiu pontuar pela segunda vez no ano.
4 Comments
Excelente texto. Parabéns!
Maravilhosa suas informações sobre a corrida. Dá impressão que, ao mesmo tempo que você anda pelo paddock, também “entra” dentro dos carros e conversa com os pilotos e técnico, direto da pista. Parabéns!
Muito bom seu Ju responde, mas gostaria de saber por quê todos que cobrem a F1 só falam em atualizações da Mercedes, Ferrari, McLaren e Aston Martim e nunca citam as atualizações da Red Bull, claro que elas existem ou virou “segredo de estado”. Ouvi alguém da Red Bull dizer que o Adrian Newey iria projetar um carro com sidepod zero pra ver a galera copiando, claro que é uma piada.
Sim, foi uma piada do Verstappen quando perguntado sobre os outros se inspirarem no carro deles. A Red Bull está colocando coisas bem pontuais no carro, não está fazendo grandes upgrades. E é por isso que chama menos a atenção. O importante, para eles, é que tudo que está sendo colocado tem funcionado. Lembre-se que eles têm uma punição de 10% no desenvolvimento, então precisam dosar bem o que será adicionado a este carro e os estudos para o carro do ano que vem.