O GP da Emilia Romagna parecia uma daquelas histórias de grandes viradas da Red Bull depois de um início ruim, com uma base de acerto que não funcionou, ao mesmo tempo em que mostrava que qualquer tropeço deles agora seria punido de forma mais dura por uma McLaren que realmente deu um salto importante após as mudanças de Miami.
Com 20 voltas para o final, Max Verstappen chegou a ter 7s5 de vantagem em cima de Lando Norris, que até aquele momento parecia mais exposto ao ataque de Charles Leclerc do que próximo de ter qualquer chance de vencer o que tinha começado como a primeira prova que em muito tempo em que a McLaren largava sabendo que tinha feito as melhores simulações de corrida na sexta-feira.
Ao contrário da lógica dos últimos dois anos – lembrando que, no GP em Imola de 2022, a Red Bull fez a dobradinha com Norris 36 segundos atrás – à medida que os pneus duros iam se desgastando, Verstappen ia perdendo rendimento em relação ao inglês.
GP da Emilia Romagna foi marcado por homenagens a Ayrton Senna
Senna Sempre ❤️🇧🇷#F1 #ImolaGP pic.twitter.com/ZUS4CSAiAq
— Formula 1 (@F1) May 19, 2024
Aqui vale o parênteses. Nos últimos anos, mesmo quando a Red Bull não estava tão tranquila em relação ao equilíbrio do carro, eles venciam corridas com aparente tranquilidade porque conseguia manter o ritmo forte mesmo com pneus usados. E isso é algo muito mais forte em Verstappen do que em Perez primeiro porque ele é um piloto muito mais preciso, volta atrás de volta, e também porque ele, na enorme maioria das vezes, está na frente, pilotando com ar limpo.
Pneus da Red Bull perderam temperatura – e não voltaram
Verstappen não perdeu a precisão no GP da Emilia Romagna, e estava andando de cara para o vento o tempo todo. Mesmo assim, desta vez, foi o pneu da Red Bull que sofreu antes dos demais. E isso começou a aparecer com 20 voltas para o final.
Mesmo que o desgaste tenha sido mais acentuado do que os engenheiros esperavam, muito em função do calor, a pista de Imola não é abrasiva. Segundo a Red Bull, o que aconteceu não foi um desgaste por si só. Os pneus saíram da janela de funcionamento em termos de temperatura, ou seja, com menos borracha, eles perderam temperatura. E, quando o pneu perde temperatura, especialmente os duros, é bem difícil recuperar.
Na primeira parte da corrida, era a McLaren de Norris que estava fora da janela. Tanto, que o engenheiro do inglês dizia que seu ritmo era bom pensando no todo da corrida, lembrando que, para preservar os pneus, é normal que o engenheiro dite ao piloto o tempo de volta que ele tem de fazer em cada momento. E Norris respondia que aquilo era o máximo do carro naquele momento, e não um ritmo cômodo para ele. Era porque, naquele momento, era o pneu dele que não estava na temperatura ideal.
Não é de hoje que esse é um grande desafio na F1. E as equipes têm menos controle do que gostariam sobre essa janela.
Verstappen começou a sofrer com 20 voltas para o fim
Voltando à volta 43, quando a corrida começou a mudar, Verstappen tinha uma preocupação extra: nas 20 primeiras voltas, ele saiu da pista três vezes e já estava com uma bandeira branca e preta. Ou seja, se saísse da pista mais uma vez, levaria uma punição que, atendendo a pedidos dos pilotos, seria de 10s.
Então ele estava em uma posição difícil. Tentaria acelerar mesmo com os pneus fora da janela (o que afeta o equilíbrio do carro) e correria o risco de sair da pista de novo? Logo, não teve outra saída, pois Norris foi se aproximando.
Em 10 voltas, ele tirou 3s5. Em mais cinco voltas, com mais cinco para o final, estava a apenas 1s8. E a partir daí a briga pela vitória se tornou um duelo bastante técnico, com Verstappen e Norris jogando com suas baterias e também com o pedal de freio.
Verstappen tentava frear mais forte antes do ponto de detecção para tirar um pouco do controle de Norris, que estava tentando usar toda a sua bateria neste ponto da pista, sabendo que as voltas estavam acabando e que o DRS seria sua única chance de passar Verstappen.
No final das contas, ele não conseguiu ficar a menos de 1s no ponto de detecção em nenhum momento e ficou com a impressão de que poderia atacar com mais duas voltas. Mais uma vitória para Verstappen. Desta vez, suada não por qualquer Safety Car, mas sim pelo ritmo real dos carros.
Soooooooo close 🤌
— Formula 1 (@F1) May 19, 2024
But make no mistake – Lando's up front to stay! #F1 #ImolaGP pic.twitter.com/dR9EtmcOnA
Red Bull sob pressão real
Nesta F1 em que a administração de pneus é fundamental, é comum que o piloto que está na frente consiga cuidar muito melhor da sua borracha e fazer os outros parecerem menos talentosos ou capazes. Mas principalmente as primeiras voltas do pneu vão determinar a “saúde” do pneu no restante do stint.
A Red Bull não chegou a Imola com o melhor acerto, exagerando na carga aerodinâmica. É aí que entrou, como contou Christian Horner, o trabalho de Sebastien Buemi no simulador da equipe. O desafio era encontrar a altura correta para lidar com as ondulações e zebras e e também o nível de downforce para colocar a carga certa nos pneus.
O carro melhorou para o sábado mas, mesmo assim, Verstappen só conseguiu a pole porque fez uma boa volta e pegou um vácuo que lhe valeu mais de 0s1. Na mesma pista em que foi quase 0s8 mais rápido que o rival mais perto dois anos antes. Ou seja, ele quase perdeu a corrida no sábado, e quase perderia a corrida no domingo.
Não coincidentemente, ele teve que forçar o ritmo desde o começo no GP, sofrendo para deixar Norris fora de seu DRS. Até porque um dos pontos positivos para a McLaren com o upgrade de Miami foi a melhora da velocidade de reta.
Com isso, ele saiu da pista três vezes e ficou “pendurado”. E já tinha reclamado dos pneus dianteiros no início do primeiro stint – sem saber o que estava por vir no segundo.
Just can't separate them 😉@Max33Verstappen and @LandoNorris have finished 1-2 for three Grands Prix in a row!#F1 #ImolaGP pic.twitter.com/4CVd1yOmwt
— Formula 1 (@F1) May 20, 2024
Ferrari decepcionou, mas não desanimou
Esperava-se muito do pacote de mudanças que a Ferrari trouxe para Imola, e a equipe jura que os resultados foram os esperados em termos de números de aerodinâmica. A dificuldade foi traduzir isso em tempo de volta em um circuito em que é preciso atacar muito as zebras.
E também, a julgar pelo que disse Charles Leclerc após a corrida, a configuração do motor não foi das melhores, com a energia elétrica acabando antes dos rivais no início da volta. Isso comprometeu a classificação e só deixou as Ferrari entre as McLaren por uma punição a Oscar Piastri (que não foi avisado pela equipe que estava no caminho de Kevin Magnussen na classificação).
A configuração do carro também significou que faltava velocidade de reta durante a corrida, o que travou a estratégia da equipe, que preferiu, como contou Fred Vasseur, não correr o risco de antecipar paradas e acabar no trânsito, sabendo que teria mais dificuldade de ultrapassar.
Com isso, a McLaren acabou conseguindo um undercut com Piastri em Sainz, parando o australiano antes do espanhol, que até seguiu na pista por mais quatro voltas, mas sem ritmo para tirar proveito disso no final da prova.
Leclerc perdeu terreno no final
À frente deles estava Charles Leclerc, que mostrou lampejos de velocidade, ficou um bom tempo a cerca de 2s de Norris, mas depois perdeu contato no final, principalmente depois de escapar da pista e perder temperatura nos pneus.
Mas foi o suficiente para um terceiro lugar, até porque Sergio Perez, mesmo com a estratégia reversa, largando com os duros, não conseguiu se recuperar da 11ª posição no grid. Chegou em oitavo. Impossível, com o crescimento da McLaren, não pensar no que isso pode representar para o título de construtores da Red Bull (principalmente em 2025) se isso voltar a ser comum.
Norris foi o quarto, Sainz foi o quinto. Na Mercedes, Russell antecipou a primeira parada (volta 21) e acabou tendo que parar novamente no final, perdendo a posição para Hamilton, mas fazendo a volta mais rápida – efetivamente, ganhando um ponto a mais para a equipe.
Lance Stroll foi o nono, com Fernando Alonso cometendo erros que custaram principalmente no terceiro treino livre, o que comprometeu sua classificação e corrida, e Yuki Tsunoda, que andou muito bem por todo o final de semana, completou o top 10.
1 Comment
O pessoal da “alta” F1 poderia rever esse monopólio da Pirelli em relação ao fornecimento de pneus. Tirando aquela situação estranha de Indianápolis com 4 carros apenas no grid, uma disputa por compostos de diferentes fábricas de pneus seria algo a mais na variante.