Como vimos no post anterior, a relação entre investimento e sucesso na F1 não é direta. Talvez o exemplo mais curioso seja dos alemães da BMW. Tudo bem que sua meta de fazer frente à rival Mercedes, uma marca tradicional na F1, cuja parceria com a McLaren se mostrara vencedora, era um tanto inglória, mas tudo levava a crer que eles estavam no caminho certo. Apesar de terem sido fornecedores de motor no passado, a ligação com a Williams, que teve início em 2000, parecia levá-los a uma incorporação ou, ao menos, a um modelo semelhante ao do concorrente. Os alemães injetaram muito dinheiro na equipe de Grove, que contou com o segundo maior orçamento, ficando atrás apenas da Ferrari, em 2002: os US$ 353.3 milhões resultaram num vice-campeonato de construtores.
Como a incorporação da Williams encontrou uma grande barreira nos chefes da equipe, a solução foi a compra da Sauber, em 2006. Com o total controle do time, a BMW estabeleceu uma meta: pontos no 1º ano, pódios em 2007, vitórias em 2008 e lutar pelo campeonato no ano seguinte. O orçamento foi mantido no mesmo nível dos tempos de Williams – embora os rivais tenham aumentado bastante seus gastos na época, levando a agora BMW Sauber ao 6º lugar entre os mais gastadores – e os planos corriam bem, até que o mal nascido carro de 2009 deixou o time bem longe das pretensões da montadora. Alegando preocupações ambientais, os alemães deixaram a F1 quando viram que, além de investimento e planejamento, era necessário ter paciência para vencer na categoria.
Foi o que não faltou à Red Bull. Como Mark Webber bem disse após vencer em Mônaco ano passado, eles um dia foram a piada do paddock e hoje são o time a ser batido. Investiram bastante e de maneira planejada, assim como a BMW, mas perceberam que a F1 traz algumas surpresas e não é tão engessada quanto as metas alemãs.
Ao final de 2004, a Jaguar vendeu sua estrutura em Milton Keynes para o milionário austríaco do ramo de bebidas energéticas Dietrich Materschitz, pelo preço simbólico de US$ 1 somado à promessa de investir US$ 400 milhões nos 3 anos seguintes. Materschitz passou, então, a recrutar profissionais de outras equipes, como Gerhard Berger, Adrian Newey, Geoff Willis e Neil Martin, ao invés de contratar pilotos caros. Preferiu trazer David Coulthard e Mark Webber já em fim de carreira, para ajudar a desenvolver o carro, e apostou em jovens talentos de seu programa de desenvolvimento. Embora tenham sofrido muitas quebras nos primeiros anos, o time logo deu um salto de produção em relação aos anos de Jaguar, pulando de 10 para 34 pontos já na 1ª temporada.
Mesmo assim, o time ainda era tido pelos concorrentes como apenas uma ferramenta de marketing da Red Bull, e não como uma equipe séria. Mas a genialidade do projetista Adrian Newey finalmente fez a diferença e, aproveitando-se das mudanças no regulamento de 2009, lá estava a “piada do paddock” lutando pelo campeonato até a penúltima etapa. E em 2010, com a evolução do carro, veio o primeiro título de pilotos e de construtores.
O orçamento da Red Bull, pelo menos oficialmente, não é dos maiores, mas os cerca de US$ 200 milhões têm sido suficientes para acompanhar o ritmo de desenvolvimento dos gigantes Ferrari e McLaren. Se as acusações dos rivais, de que o time vem desrespeitando o acordo de restrição de gastos, nosso assunto de amanhã, são choradeira de perdedor ou verdade, é difícil saber. O fato é que eles são um exemplo de como investir corretamente na F1.
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Uma relação que faria da briga BMW x Mercedes, e Honda e Toyota, é que no caso dos japoneses, a briga cega e kamikase, levou ambos nipônicos para o buraco, ao passo que na briga germânica, a BMW foi a parte suicida e burra da história, achando que era só estalar os dedos, e ganhar um campeonato de f1. Vejo na RBR, uma mentalidade onde os meios justificam os fins, pois como querem vender seu produto, têm a exata noção, que vencendo em pista, fora não há melhor propaganda, e cercados de entusiastas do ramo, aliados a gestão empresarial de Mateshitz e Marko, o sucesso é logo ali.
PS: Coulthard deveria ser desclassificado, afinal faltar ao baile de carnaval, hehe. Que coisa bisonha!