F1 Corrida maluca - Julianne Cerasoli Skip to content

Corrida maluca

“Sinto falta das corridas chatas”, dizia um colega quando já passava das 21h na sala de imprensa em Hockenheim. Era brincadeira, claro, estávamos todos trabalhando com um sorriso no rosto mesmo não sabendo muito bem por onde começar com tantas coisas tendo acontecido durante a prova, tantas histórias para contar e tantas marcas quebradas. Hamilton não foi o vencedor de uma corrida com chuva pela primeira vez desde o GP da Hungria de 2014, a Honda não tinha dois pilotos no pódio desde 1992, e a Toro Rosso, claro, não sabia o que era uma festa de champanhe desde 2008.

A receita para tantas variáveis foi uma série de imprevisibilidades, com a primeira corrida sob chuva com pneus cuja construção é diferente – e que se degradaram com muita mais velocidade do que o esperado – depois de toda a preparação para o fim de semana ter sido feita sob muito calor. E, como aconteceu no ano passado, em uma pista com brita, que efetivamente pune quem ousa sair da linha com o asfalto secando. E mais um fator, que era bem típico de Hockenheim na época da pista antiga, mas que voltou a marcar a corrida mesmo com o circuito hoje ocupando uma área muito menor: em nenhuma parte da corrida caiu a mesma quantidade de água em todos os setores da pista.

Foi entendendo isso que Rubens Barrichello venceu aquela prova épica em 2000, assim como numa aposta do mesmo tipo Lance Stroll chegou a liderar por alguns segundos, e Daniil Kvyat chegou ao pódio.

E pensar que ele estava em 11º quando o penúltimo SC foi para a pista e, enquanto pilotos como Verstappen e Vettel colocavam mais um jogo de intermediários para terminar a prova, decidiu, juntamente com a equipe, ir contra a maré e apostar nos pneus de pista seca. Foi a jogada que o colocou em segundo, posição que acabou perdendo para Sebastian Vettel.

O alemão, que sempre costuma lembrar com detalhes a história de sua corrida tão logo sai do carro (enquanto muitos outros só conseguem falar com precisão das últimas voltas), desta vez estava pedindo para fazermos “perguntas objetivas porque aconteceu coisa demais”. Ele também se viu em 11º com 20 voltas para o fim e não entendeu nada, já que tinha passado carros por toda a prova. Com a pista secando no final, no entanto, a Ferrari, que consumiu mais que os demais os pneus intermediários, começou a ganhar vida, e Vettel foi passando uma a um seus adversários. Foram sete em 14 voltas. Tudo o que ele precisava justamente no GP que marcou o início de uma fase muito irregular. Não que seus problemas tenham acabado: o “nervosismo” da traseira da Ferrari nas entradas de curva ainda o incomoda, então até mesmo ao responder as perguntas, todas positivas, ele dizia que preferia esperar as próximas corridas.

Na primeira corrida na chuva em que Hamilton falhou em muito tempo, seu “herdeiro” imediato no quesito pista molhada estava lá para aproveitar. Brincamos com Verstappen que tudo o que ele precisa para vencer é ter uma largada ruim, no que mais uma vez aparentou ser uma falha de embreagem da Red Bull. Ele logo conseguiu se recuperar e estava indo para cima de Bottas já na quinta volta, mas um erro da equipe poderia ter jogado tudo por água abaixo, quando o time colocou os pneus médios e ele, sem aderência, deu um 360º de que depois tiraria sarro após a vitória. Foi o Safety Car causado pela batida de Charles Leclerc que salvou sua pele, pois ele pôde voltar aos pneus intermediários. Mas a distância em relação a Hamilton seria quase impossível de tirar na pista não fosse a auto eliminação do inglês ao bater com pneus de pista seca colocados pela Mercedes logo depois que Leclerc tinha perdido o carro justamente por estar… com pneus de pista seca e com a chuva aumentando.

Depois que Hamilton teve que parar outra vez por sua rodada na curva 1, uma grande oportunidade abriu-se para Valtteri Bottas descontar bons pontos no campeonato, aproveitando uma rara chance em que o inglês errou duas vezes na mesma prova e a Mercedes ainda bateu cabeça na parada dos boxes. Mas ele escapou de maneira semelhante ao companheiro algumas voltas depois, e não teve a mesma sorte de escapar só com os pneus avariados.

Sem as duas Mercedes e uma Ferrari, algo que não acontecia desde a quarta corrida de 2018, aconteceu: sobrou uma vaga no pódio e, como sempre acontece nessas condições, ela ficaria nas mãos de quem tomou a melhor decisão da corrida.

Horas depois da bandeirada, uma punição por um erro na configuração da embreagem da Alfa Romeo, que pode ser entendida como uso de uma espécie de controle de tração na largada, fez do GP da Alemanha, se ainda não restava dúvidas, uma corrida maluca de verdade. Robert Kubica marcou o primeiro ponto da Williams no campeonato. Sem mais.

3 Comments

  1. Depois de uma bela corrida como essa, teremos infelizmente, a insossa corrida da Hungria… acho q em Hungaroring nem a chuva melhora!!!


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