F1 Desvendando as transmissões da F-1: papo com Jacobo Vega, da TV espanhola - Julianne Cerasoli Skip to content

Desvendando as transmissões da F-1: papo com Jacobo Vega, da TV espanhola

Não é uma questão de melhor ou pior. Há um produto complexo e audiências historicamente formadas de maneira diferente. Por conta disso, comparar as transmissões das corridas de F-1 na Grã-Bretanha, na Espanha e no Brasil tem sido um belo exercício desde o GP do Canadá de 2010, quando comecei a me aventurar nestes posts.

De um lado, os britânicos deitam e rolam falando a uma audiência altamente letrada em automobilismo, podendo aprofundar-se em questões técnicas. De outro, os espanhóis buscam formar um público fiel, usando a paixão por Fernando Alonso e já de olho na aposentadoria do bicampeão, e usam a ampla cobertura que a visibilidade gerada pelo bicampeão proporciona para isso. No meio, o Brasil luta para manter o interesse na categoria com um público bem menos atento às questões técnicas que os britânicos e com bem menos motivos para se empolgar com seus pilotos que os espanhóis.

Fazer TV não é para qualquer um. O rádio brinca com a fantasia, o impresso, com a reflexão. Na telinha, o melhor é não brigar com a imagem. E ninguém sabe melhor disso do que aqueles que ‘se atrevem’ a comentar. Hoje e amanhã publico entrevistas com Vega e Luciano Burti que dão a noção exata do desafio de transmitir uma corrida de F-1.

Vega com Gené, Lobato e Nira

TOTALRACE: Há quanto tempo trabalha com F-1?

JACOBO VEGA: Na TV comecei em 2009. Na F-1, como jornalista, comecei em 2004 e trabalhei por muitos anos em meio escrito.

TOTALRACE: E havia, na prática, F-1 na Espanha na época em que começou?

VEGA: Sim, desde que era pequeno havia F-1 na Espanha, mas o grande boom começou em 2003, quando Fernando Alonso foi para a Renault e venceu sua primeira corrida. Era algo que nunca tínhamos visto na Espanha. Foi então que o esporte passou de algo que era visto, na melhor das hipóteses, por 800 mil pessoas, para 7 ou 8 milhões.

TOTALRACE: Como trata-se de um esporte complexo de seguir, vocês se preocupam em educar esse público de certa forma inexperiente a respeito da categoria durante as transmissões e abordar questões mais técnicas?

VEGA: Nas transmissões é mais difícil porque você precisa estar em cima dos pit stops e de tudo o que acontece, mas transmitimos tudo, desde os treinos livres, e ainda temos um programa de duas horas. São nesses momentos que tentamos fazer um pouco disso, de pedagogia. Nas corridas, você tenta analisar mais o que está acontecendo ou o que imagina que possa acontecer.

Acho complicado explicar coisas muito complexas durante a corrida, porque temos de compreender que cerca de 6 milhões de pessoas estão vendo a corrida e não sei se é interessante para eles que se aprofunde muito. Eles querem ver acidentes, querem saber por que um piloto está perdendo tempo. Quem se interessa mais e quer mais profundidade já assistiu ao programa anterior à prova, por isso acredito que seja mais importante fazer isso nesse momento.

TOTALRACE: Há uma preocupação de como serão as transmissões quando Alonso se aposentar?

VEGA: Muita, muita. Nos perguntamos isso todo dia. Será que as pessoas vão continuar assistindo ou ninguém vai se interessar? Está certo que a TV vai perder muita audiência porque é claro que muita gente assiste por causa dele. Vemos isso porque uma corrida em que ele vai bem tem muito mais audiência. Mas o que também é certo é que temos uma boa base e que, se em 2002, havia 800 mil pessoas vendo a F-1, no ano em que Fernando se aposentar, não serão 800 mil – e isso pensando que não haverá nenhum outro espanhol. Acho que as pessoas estão tão acostumadas à F-1 que, se houver uma corrida espetacular, poderemos ter um pico de audiência mesmo sem Alonso, mas é certo que a audiência diminuirá.

TOTALRACE: Como funciona a transmissão? Há sempre um piloto – De la Rosa ou Gené – um narrador e você. Como vocês dividem?

VEGA: Antonio [Lobato] é quem faz a narração principal. É ele quem grita e quem tenta levantar um pouco o público. Marc [Gené] faz os comentários mais técnicos e dos aspectos do ponto de vista do piloto e eu faço comentários, não vou dizer mais curiosos, mas vejo as diferenças entre os pilotos, se está chegando o momento de parar, este tipo de coisa. Também temos Nira [Juanco] como repórter no pitlane.

9 Comments

  1. Muito interessante o bate papo.
    Realmente não é fácil falar para um público que mescla pessoas que entendem muito com outras que não conhecem praticamente nada e estão se acostumando com a categoria.

  2. Em geral, as transmissões européias são muito mais técnicas e empolgantes que as brasileiras. A BBC é a top, o Coulthard é ótimo comentarista. Já assisti F1 na Europa, Ásia e EUA, o que realmente irrita em vários países são os longos breaks comerciais durante a corrida. Algo que a Globo jamais fez e espero que nunca faça por aqui. A era Globo pós Burti melhorou demais, diga-se de passagem…

  3. Tínhamos que arranjar uma foto dessas de macacão, com Galvão, Burti e Reginaldo! Ou não…

  4. Um diferencial positivo que vejo do boom gerado pelo piloto nacional na espanha, comparando-se com o Brasil de Senna, é uma vasta gama de cobertura proporcionada pela internet, entretanto, eles melhor exploram o potencial midiático de Alonso, não como faziam com Senna, colocando o brasileiro como guerreiro contra o mundo, mas recheiam a cobertura com nuances técnicas e, isso, gera uma abertura de entendimento do público em geral. Sendo assim, imagino que mesmo com a aposentadoria de Alonso, será criada uma população cativa da categoria que aprecie a F1 em seu cerne. Ponto para os espanhóis!

  5. Os espanhóis tem um bom terreno para adubar enquanto Alonso não se aposenta. Espero que eles tomem decisões certas para cativar a audiência de Fórmula 1!

  6. Oi Julianne,

    Excelente entrevista, aguardo ansioso pela segunda parte. Está na hora de aqui no Brasil a Globo começar a mudar a mentalidade do público não aficionado pela F-1 em passar a gostar da categoria, e não assistir só porque tem brasileiros, ou para torcer exclusivamente por eles.

    Um abraço, Julianne.

  7. No fim de 2009 eu estive em Roma e assiste o GP de Abu Dhabi pela RAI.
    Não sei se foi o acaso de ser um péssimo ano para Ferrari ou se a empolgação com o Alonso era gigante demais. Mas o que eu assiste foi uma transmissão totalmente focada na Ferrari e pouco se importando com o restante das equipes ou o que se passava na pista. Só havia um assunto na pauta: Fernando Alonso seria o Schumacher dessa década na Ferrari.
    A transmissão não foi das melhores, já a previsão…

    • Infelizmente não consigo baixar com regularidade o material da RAI, que considero muito interessante por representar uma quarta maneira de ver a F-1. Pelo fato de serem “Ferraricentristas”, a transmissão é mais voltada do que as outras aos carros. Eles têm um engenheiro como comentarista, acho que não precisa falar mais nada!


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