A frase mais repetida das últimas semanas na Inglaterra se tornou quase um cumprimento em Silverstone. Não precisava falar bom dia, obrigado. Era só mandar um “it’s coming home” e vinha o sorriso de volta. A frase vem da música de 1996, feita na época que os ingleses sediaram a Eurocopa, que acabou voltando às paradas no país durante a Copa do Mundo. O sentido original era duplo: com a competição, o futebol voltava para casa, assim como havia a confiança de que um título internacional também voltaria.
É curioso estar no verdadeiro país do futebol na época de Copa, tão diferente do Brasil. Por um lado, tem a ver com um nível de confiança de que a seleção iria bem, absurdamente menor – e por motivos óbvios. E, ao invés da obrigação, a completa surpresa a cada vitória. Mas é fato que toda a “licença poética” que os brasileiros usam para escapar de quaisquer compromissos ou trabalho por um mês não existe, mesmo que a Inglaterra também seja apaixonada pela bola.
Estava contando a um colega dinamarquês como até os bancos e o mercado financeiro param nos jogos do Brasil. Ele se surpreendeu e disse: “com todo o respeito, mas é por coisas desse tipo que vocês são subdesenvolvidos”. Difícil discordar.
Mas na hora que as quartas de final coincidiram com as entrevistas logo após as entrevistas, sobrou para os franceses, que estavam bem na frente da única tela (que estava dividida ainda por cima) em que podíamos ver o jogo no cercadinho. Eles tiveram que esperar os pilotos sentados, caso contrário lá vinha reclamação.
Mas o maior telão era no centro do paddock, e tinha certamente mais de 100 pessoas vendo lá. Melhor para o pessoal da Mercedes, cujo terraço dava bem de frente para a tela. Aliás, é nessa hora que você vê que a F-1 é, na verdade, inglesa, com os “alemães” da Mercedes e os “franceses” da Renault, para ficar em dois exemplos, com os olhos grudados na tela.
Voltando à F-1, Brendon Hartley tem adotado uma tática bastante inteligente, usando a oportunidade que teve para estreitar suas relações com a Honda. O piloto neozelandês tem estado bem próximo dos japoneses, frequentando seu motorhome a todo momento, demonstrando interesse pelo desenvolvimento do motor. É como se soubesse que seu período na F-1 será limitado, mas sabendo que há uma carreira pela frente.
Falando em Honda, não há como não pensar na McLaren e na crise que o time vive. Quem acompanha a coluna já sabia que Gil de Ferran estava sendo preparado para a vaga de diretor esportivo. Conversei com ele na sexta e foi daquelas entrevistas difíceis, quando, apesar do respeito e da simpatia, o entrevistado não quer entregar muito.
Existe a especulação de que Gil não ficará muito tempo no cargo, que seria parte de uma transição que incluiria até mesmo Zak Brown. Isso porque os acionistas não estariam satisfeitos com as promessas do norte-americano que não passaram disso até agora.
Outro time inglês que está em um buraco difícil de sair, a Williams escancarou em Silverstone um problema que vem tirando o sono dos engenheiros desde o início da temporada. Algo na asa dianteira “estola” o assoalho nas curvas para a esquerda. Mas isso não acontece do outro lado, mesmo que tudo seja simétrico. O pessoal que desenha as peças culpa quem as faz e o contrário, enquanto os pilotos perdiam o controle do carro em plenas curvas de alta em Silverstone.
Um GP da Inglaterra não estaria completo sem a visita ao Rice Bowl, restaurante chinês que era o preferido de Senna em Towcester. Os brasileiros têm uma tradição de comer lá pelo menos uma vez durante o GP, mas o quórum atual é tão pequeno que temos nos juntado aos alemães que também batem cartão por lá. Desta vez, fui a primeira a chegar e perguntei pela mesa em nome de Michael Schmidt (aliás, para quem não conhece, um dos jornalistas mais competentes do paddock). A dona do restaurante me corrigiu. “Não, o nome dele não é Michael, é superman 2. Porque o superman 1 está lá em cima”, disse apontando para o céu.
5 Comments
“Estava contando a um colega dinamarquês como até os bancos e o mercado financeiro param nos jogos do Brasil. Ele se surpreendeu e disse: “com todo o respeito, mas é por coisas desse tipo que vocês são subdesenvolvidos”. Difícil discordar.”
Permita-me discordar do dinamarquês e de você, lembrando um comentário de Tom Jobin: “O Brasil não é para principiantes”. E duvido que o colega de profissão tenha alguma idéia que vá além de generalidades. Infelizmente o buraco é bem mais embaixo.
Saudações.
Desculpe a demora em publicar, seu comentário tinha caído no spam e não tinha visto.
Mas cá entre nós o Ton era muito bom não?
Ju, permita-me: Estava contando a um colega dinamarquês como até os bancos e o mercado financeiro param nos jogos do Brasil. Ele se surpreendeu e disse: “com todo o respeito, mas é por coisas desse tipo que vocês são subdesenvolvidos”. Difícil discordar. Falar mais o quê? Além é claro da falta de leitura…
o Superman 1 é o Senna? Não entendi