A corrida foi boa no Bahrein, como de costume, e abriu uma série de possibilidades no campeonato, mas o assunto que roubou a cena no final de semana foi a apresentação das diretrizes da Liberty Media. É tudo o que se tem como ponto pacífico que é o melhor para o futuro da categoria, mas isso não quer dizer que todos ficaram contentes. Afinal, há muitos provilégios sendo quebrados, especialmente atingindo a Ferrari, que perde o poder de veto depois de mais de 30 anos e boa parte de seus bônus.
Logo depois da reunião, na sexta-feira, deu para entender qual o caminho que as discussões tomaram, com chefes de Force India e Williams dizendo-se contentes e Toto Wolff falando em detalhes que têm de ser acertados. A grande questão é o teto orçamentário de 150 milhões de dólares, metade do que os grandes estão gastando. Isso significa forte corte de funcionários e toda uma readequação em como a equipe atua. Por isso, ao que tudo indica, é algo que vai demorar anos para ser 100% implantado.
O que deve acontecer é a adoção do teto, mas inicialmente com vários itens ficando de fora da conta e, aos poucos, esses itens vão sendo incluídos. Por outro lado, a ideia de que uma equipe pequena conseguiria fazer a temporada em bom nível com apenas 30 milhões de dólares de patrocínio é um bom indicativo, especialmente em tempos em que não se consegue uma vaga em time de médio para baixo por menos de 10.
Falando em equipes cobrando muito por pilotos, tive alguns papos com Sergio Sette Camara ao longo do final de semana e ele reconheceu que não levou negociações para ser piloto de testes da F-1 nesse ano adiante porque o preço estava um absurdo. Afinal, ele viu exemplos recentes com brasileiros – Luiz Razia levou milhões para a Caterham que acabaram indo para o lixo, pois ficou de fora quando a grana acabou, e Felipe Nasr, mesmo com resultados bem melhores nas categorias de base e tendo feito um bom trabalho na Sauber, viveu algo semelhante quando o valor do patrocínio do BB despencou. Seu plano é lutar pelo título da F-2 mesmo sendo companheiro do grande favorito Lando Norris, que parece já ter toda a equipe de seu lado pelo que observei no Bahrein.
Corre por aí uma história que ilustra bem isso. Quem viu Daytona ficou impressionado pelo fato que Norris foi efetivamente mais rápido que Fernando Alonso. Pois, bem. Analisando os dados da corrida, o espanhol percebeu que o novato sempre fora à pista com pneus novos, quando as condições da pista estavam melhores, com regimes mais potentes de motor… Zak Brown tinha usado a prova como vitrine para o menino. Nem é preciso falar que Alonso ficou furioso.
Existe também uma história que liga Norris a Nasr. Como assim? O brasileiro foi contratado para testar um carro de GP2 junto do inglês, ganhando justamente para forçá-lo ao máximo e prepará-lo para sua estreia.
Voltando ao paddock do Bahrein, uma história para dar risada: não vou citar nomes, mas um colega estava com fome e decidiu procurar algo em seus bolsos. Achou um biscoto e comeu. Só depois percebeu que tinha usado aquela calça pela última vez quando andava com seu cachorro…
O paddock em Sakhir teve algumas caras amarradas ao longo do final de semana. Kimi estava um absoluto limão, e pela primeira vez vi um piloto dar entrevistas de costas para a câmera. Ele não gostou nada de ter ficado no escuro em relação à estratégia em Melbourne e gostou menos ainda de ter sido jogado no trânsito no Q3 no Bahrein. Mas já na quinta foi ríspido na coletiva insistindo que suas ideias sobre como deveria ser o regulamento não importavam porque ele não tinha poder para mudar nada.
Hamilton seguiu linha parecida, e pediu que, seja quem for que faça as regras, que pelo menos tenha pilotado uma vez na vida. Mas há quem diga que pilotos não poderiam se encarregar do regulamento porque… mal sabem escrever. Maldade?
Falando em Hamilton, no sábado sua fotofobia voltou. Fotofobia? Sim, os colegas ingleses juram que ele realmente tem um problemas com luzes na sua cara, mas elas só parecem realmente incomodar quando o resultado não é o que ele espera.
Voltando a Kimi, outra história que circulou após a prova foi que a Ferrari pediu que ele fosse ao hospital visitar o mecânico ferido em seu pit stop. E ele questionou por que deveria fazer isso. Enquanto isso, Vettel se oferecia para pagar um jatinho para que o mecânico voltasse para casa.
Mas não dá para falar de GP do Bahrein sem comentar sobre Pierre Gasly. Quem ouviu a transmissão da BandNews sabe da alegria da Toro Rosso apenas em alinhar em quinto e pode imaginar a festa da equipe com o quarto posto. Perguntei a ele o que ele diria se eu lhe contasse que Alonso nunca conseguiu um resultado tão bom com o motor Honda. “Now we can fight”, respondeu com um sorriso.
19 Comments
Ju, Kimi é um cara querido dentro da equipe, pelos outros pilotos do grid e pelos jornalistas?
Eu sei que esse assunto já aconteceu a quase uma semana e nós que frequentamos esse espaço o fazemos por sermos admiradores do esporte, e esse deveria ser o foco.
Mas acho que podemos usar esse evento como oportunidade para uma certa auto avaliação.
Que as pessoas tenham admiração por alguém é algo aceitável e até humano.
Alguns tem admiração por esportistas (acho que esse é o nosso caso), artistas das mais diversas esferas das artes, lideres politicos, pensadores etc.
Mas negar veementemente que o objeto da nossa admiração possa ter se comportado da maneira A, B ou C… isso me deixa pensativo.
Ainda mais quando esse dado comportamento/ação/atitude nem é tão fora da própria imagem que o objeto da admiração vende de si mesmo.
Pensemos, façamos um breve exercicio de imaginação… Um será?
Porque quando as pessoas radicalmente negam a possibilidade de que o seu herói, idolo, objeto da admiração possa ter feito o que se diz que ele fez… e digo mais, atacam quem passa a informação.
Isso é preocupante.
Isso acaba explicando porque as pessoas cercam um prédio num quase exercicio religioso pra proteger um politico acusado de má conduta e honestidade ou falta dela.
Me desculpem o texto longo e a comparação de coisas talvez fora de contexto…mas não consigo não fazer.
“Outra história que circulou”… Alguém falou abertamente com o Kimi ou com a equipe e confirmou a veracidade da informação? Não é justo com o piloto, que não sabia nada do que estava acontecendo e teve sua corrida arrasada. Os próprios mecânicos da Ferrari fizeram um tuíte respondendo a um seguidor mais exaltado que falou mal do Kimi, durante a transmissão.
Sim
Coisas do tipo, sem citação de fontes, sem informação alguma além de “outra história que circulou no paddock” merecem ser tratadas como boataria barata de imprensa marrom. Nada mais que isso. Desculpe, Julianne, adoro seu trabalho e estou sempre por aqui, mas não se acusa uma pessoa, não se diz algo do tipo sobre ninguém, e “se esconde” atrás de fontes anonimas.
Péssimo isso.
Discordo. O jornalista pode usar essas figuras para proteger suas fontes, não é obrigado a revelá-las.
Não dizendo, claro, que você é “imprensa marrom” nem que inventou a história. Mas, uma informação dessa, que diz respeito sobre o carater de alguém, precisa de mais corpo do que “história que circulou no paddock”.
Ju não dá pra julgar mas tenho amigos que curtem F1 assim como eu e que seguem os pilotos. Todos me dizem que sempre que encontraram Kimi ele não foi muito gentil nem simpático. Parece ser o perfil dele mesmo. Ano passado eu fui até o hotel do Vettel. Tinha umas 10 pessoas lá. Inclusive uma criança de uns 10 anos. Fiquei surpresa com a forma como ele atendeu a todos. Tirou fotos, deu autógrafos e conversou com todos. Inclusive deu um boné e uma jaqueta de presente ao menino. E tudo isso depois de ter perdido a pole para o Bottas. Acho que o perfil deles é muito diferente. Por isso não estou surpresa do Kimi não se dispor a muita coisa.
Muitas vezes o que aparece para o grande público é diferente quando se tem o conviveu mais de perto, Piquet que ganhou vários prêmios limão pela pouca paciência com perguntas imbecís, não sei como os pilotos tem paciência, já vi vários jornalistas da antiga que tiveram uma opinião totalmente diferente.
Ju, algumas perguntas … hahaha
O ritmo de Gasly foi invejável. Já diz o ditado que “Juiz bom é aquele que você nem sabe o nome dele no fim do jogo”. Gasly não teve seu nome mencionado em nenhum momento, quase não apareceu na corrida, mas ficou em um consistente quarto lugar. Seria 5º não fosse a quebra de Riccardo, mas enfim …
O motor Honda com um bom rendimento em uma pista que “exige” do motor chama a atenção. Isso tem a ver com o chassi obviamente também, mas, você sabe até que ponto foi sorte, até que ponto foi motor e até que ponto foi piloto nesse resultado ? hahahaha
A ferrari foi superior a mercedes nesse fim de semana praticamente inteiro, mas, parece que o Bottas disse que a Mercedes não havia trago nenhuma atualização para o deserto. Isso é verdade também ? Esse problema da mercedes é similar ao do ano passado. O halo influencia na questão do centro de gravidade ?
A williams realmente vendeu a alma ao diabo. O carro andou pra trás mesmo ? o que está havendo com ele ?
A disputa da Toro é com a Hass, Renault ,McLaren e Force India e ele sobrou, então não foi sorte.
A briga entre essas equipes foi muito boa, até a Sauber, andou incomodando por ali
Um piloto tem que saber conquistar a equipe, Vettel não abraçou todo mundo na Austrália apenas pela alegria mas também porque sabe que tendo engenheiros e mecânicos ao seu lado a disputa interna fica mais fácil, pode reparar que os mecânicos sempre dão alguns milésimos a mais e erram menos quando trocam pneus do piloto favorito.
Foi uma ótima corrida, que seja uma temporada emocionante! Parabéns pelo trabalho!
Esse menino Gasly tem cara de piloto de Moto GP!
Julianne a Ferrari evoluiu mais o chassis ou o motor? Como conseguiram espremer a Mercedes até aqui?
Ju, andei vendo os top speed do fim de semana. Me parece que os carros com motor Renault estão atrás. Ou pode ser resultado apenas de mais downforce? Imagino o clima na McLaren vendo um motor Honda largando e chegando na frente. E com folga!
Vou repetir o que já havia dito em outro comentário no ano passado. A Williams perdeu a grande chance: perdeu o motor Honda. E olha que a gente nem sabia se essa versão de 2018 seria veloz. Ficou refém da família Stroll. Que lástima! Era pra fechar uma parceria com a Honda e focar no novo carro. O horizonte agora é nebuloso… que triste.
Ótimo início de campeonato! Apenas 6 pilotos e 1 equipe ainda não pontuaram, em apenas 2 corridas.
Muito bom!
E por falar em equipe, Willians é o nome dela… lamentável…