No post da terça-feira, dei um panorama da situação atual do país mais importante para a Liberty poder tirar do papel seu plano de iniciar a temporada e falei dos porquês do plano de começar logo pelo GP da Áustria. São vários os obstáculos até chegar lá, mas não parece uma ideia maluca no momento. Inclusive, como publiquei no UOL, as equipes deram o ontem o ok para aquele plano que mencionei no primeiro post. Ou seja, a F-1 está pronta para iniciar sua temporada, e só depende que o curso da pandemia na Europa corra da maneira que se imagina no momento, sem uma segunda onda assolando os países.
Mas como continuar o campeonato a partir daí?
O segundo caminho óbvio é voltar à Inglaterra, na segunda metade de julho, para correr em um circuito que fica a cerca de meia hora das fábricas de Racing Point, Mercedes, Red Bull, Renault e Haas, a uns 45min da fábrica da Williams e a menos de 1h30 da McLaren e a umas 2h do “quartel general” da F-1, ou seja da sede de broadcasting e logística. Correr em Silverstone significa correr em casa para uns 80% do paddock reduzido ao qual me referi no último post. Não seria um GP tão “hermético” quanto na Áustria, mas ainda assim factível.
Quem paga?
Mas quem paga a conta pelos GPs sem público? Além de todas as questões que apontei no post anterior (regras sanitárias e de deslocamento de pessoas em vigor em cada país, localização e estrutura interna do circuito, rede hoteleira que absorva o “paddock reduzido” o mais próximo possível da pista a fim de minimizar contato com locais) outro fator a ser levado em consideração é quem pagaria a conta por organizar um GP com muito menos receita. Na Áustria, a Red Bull pode fazê-lo. E, como Silverstone sabe de sua posição privilegiada, obviamente quer fazer com que a Liberty pague a conta.
Não por acaso, começou a brotar pista em tudo quanto é canto na Europa querendo receber a F-1 sem público. Algarve, Imola, Barcelona… todos estão de olho mesmo é na preferência que a Liberty vai ter que dar às provas europeias no início, para escapar de restrições de voos, e aproveitar para cobrar alugueis salgados dos norte-americanos. Lembrando que, quanto menos a Liberty arrecadar neste ano, mesmo é repassado ano que vem para as equipes.
O cenário ideal para a Liberty é que a pandemia regrida numa velocidade que a grande maioria dos cientistas não crê ser possível, e que voar para longe se torne uma possibilidade no final de setembro. Isso porque China, Vietnã e Azerbaijão já sinalizaram que querem receber suas etapas.
Xangai não tem restrições no momento, e o país como um todo passará por um grande teste no feriado de sete dias da semana que vem pelo dia do trabalho. E todo mundo que chega por lá passa por teste e, mesmo que dê negativo, fica numa quarentena bastante controlada.
Já o Vietnã passou pelo pior de sua crise no final de março, e o Azerbaijão, cuja maioria dos casos veio importada do Irã, também está vendo a curva diminuir. Como coringas, ficariam “guardadas” para o final da temporada as etapas de Abu Dhabi e Bahrein, já que o inverno por lá não impede a realização de GPs mais para o fim do ano.
O fato destas etapas serem vistas como as mais possíveis de sair do papel não é por acaso. Todas elas são financiadas pelo governo como forma de fomentar o turismo local, e não precisariam que a Liberty colocasse a mão no bolso.
O GP do México também é pago com dinheiro estatal, mas seria difícil, neste momento, convencer as equipes de que seria seguro levar seus profissionais para o meio de uma metrópole (tanto para eles, quanto para os locais). O cenário por lá é bem parecido com o de São Paulo (e sobre a corrida do Brasil explico melhor aqui): não há boas opções de hotéis próximas à pista. Sempre lembrando que tudo, é claro, depende de como a situação evolui daqui em diante em cada um desses países.
No Japão, também é possível hospedar o paddock perto da pista e, em termos de financiamento, a Honda certamente pagaria pelo evento se houvesse a necessidade. E Singapura está sendo castigada por uma segunda onda de infecções no momento. Com a corrida no coração da cidade, a questão de saúde é preponderante.
Na Europa, onde seria mais fácil o deslocamento por terra, o governo da Espanha deu a entender que o país permanecerá fechado a não residentes por todo ano. Os holandeses já disseram que não querem fazer a prova sem público. Na Bélgica, há menos de 100 quartos de hotel nas redondezas, então é difícil manter o padrão “hermético” deseja, enquanto a etapa da França é daquelas que só sairão do papel com um aluguel pago pela Liberty (e, vamos combinar, nem vale a pena!). A Hungria é uma caixinha de surpresas depois do golpe, e ouvi que eles teriam concordado em realizar a prova normalmente.
Já a Itália estuda como realizar uma prova sem público e mesmo assim justificar o gasto estatal, o que geralmente é feito com a comprovação de injeção de dinheiro na economia (que obviamente não aconteceria neste caso). É a mesma situação do contrato de Austin e, de certa forma, também de Montreal. A Liberty, inclusive, vê a realização do GP do Canadá como quase impossível neste ano.
São muitas variáveis que estão completamente fora do controle da F-1. Note que fala-se em Áustria e Inglaterra no momento, e nada mais. E quem chegou até aqui no texto entendeu o porquê. Prever qualquer coisa que signifique obrigatoriamente voar neste momento é um tiro no escuro. E duas etapas, mesmo com corridas duplas, não fazem um campeonato.
3 Comments
Em Abu Dabi e no Barein daria para fazer rodada dupla. Uma corrida de dia e outra noturna.
Pelo jeito, esse ano será correr aonde de, do jeito que for possível.
Eu sou muito pessimista quanto a execução do campeonato desse ano.
No melhor dos cenários, dependendo da evolução da Covid-19 no mundo, ele começará lá em Agosto.
Com tantas incertezas, quem sabe quando acontecer não exista uma chance maior do título sair do eixo Mercedes-Hamilton.