O GP de Singapura de 2022 contou com uma quantidade de erros maior do que o normal. E entender a dificuldade apresentada pela união das condições de pista, os novos carros da Fórmula 1 e o clima local é importante para apreciar o quão difícil foi chegar ao final ileso. Principalmente para aqueles que estavam tentando colocar ou que estavam sofrendo pressão por grande parte da prova.
Não foi um clássico em termos de ultrapassagens, e nunca é. Foi uma corrida bastante longa, abrindo por mais um ano a discussão se a prova não deveria ter menos dos 300km regulamentares. Até porque, mais uma vez, ela terminou no limite de 2h e não pelo número de voltas. E também há de se perguntar porque a F1 tem pneus de chuva que simplesmente não consegue usar.
A F1 já viu chuvões como o de domingo acontecerem logo antes da prova. Em 2017, os carros estavam no grid quando a água caiu, mas dessa vez a pista demorou muito mais para secar e fez com que dois terços da prova fossem disputados com pneus intermediários não porque eles eram os melhores, mas simplesmente porque custaria muito caro colocar slicks. Partes da pista foram reasfaltadas com uma mistura que mantinha a umidade no solo, dificultando a secagem.
E os carros de 2022 sempre seriam mais difíceis em Singapura (assim como em outras pistas de rua) simplesmente porque são mais duros e são mais propensos a sair de frente especialmente em curvas de baixa e média. Junte-se isso a um calor muito úmido, e você tem um desafio físico e mental muito grande por duas horas.
Largada foi atrasada em uma hora pela chuva
A pergunta sobre os pneus ajuda a explicar por que a prova demorou tanto para ser iniciada. Sim, a chuva que começou às 18h35 pela hora local, pouco menos de 1h30 antes do horário programado para a largada só foi parar mais de uma hora depois. Mas sabia-se que os azuis teriam muita dificuldade de chegar na temperatura ideal principalmente em um circuito de pouco estresse de pneus e também geraria muito spray. Então era preciso tirar a água da pista.
Quando a corrida finalmente começou, vimos muita variação entre boas e más largadas. O pole Charles Leclerc patinou e perdeu a liderança para Sergio Perez, no que seria um momento decisivo para a disputa pela vitória. Embora a Ferrari conseguisse colocar o pneu na temperatura ideal mais rapidamente, o que foi importante no sábado, também sob condições difíceis, a Red Bull melhorava após algumas voltas.
Junte-se a isso o fato de o DRS só ter sido habilitado na última meia hora de corrida e a inexistência de uma linha seca fora do traçado até o final e ficou difícil para Leclerc tentar a ultrapassagem. Ainda assim, ele ainda teria a chance de vencer, uma vez que Perez cometeu três infrações iguais atrás do Safety Car, diminuindo demais o ritmo, e sendo punido pela última delas com a perda de 5s.
Leclerc perdeu contato no final
Mas Leclerc, que ficou o tempo todo mais perto do que isso, no final deixou o mexicano abrir 7s5. Segundo ele, seus pneus pareceram sofrer com superaquecimento no final após várias voltas seguindo Perez bem de perto, mas ele também admitiu que o cansaço físico e mental o limitou no final. O mesmo acontecendo com seu companheiro, Carlos Sainz, embora ele tenha sofrido muito mais com os intermediários do que com os pneus slick na parte final da prova.
Mesmo assim, Sainz ocupou a última posição no pódio. Isso porque rivais em potencial, Max Verstappen e as duas Mercedes, que andaram bem em Singapura, teriam seus obstáculos.
Russell apostou cedo (e sozinho) nos pneus slick
George Russell sentiu um comportamento estranho de seu motor ainda no primeiro treino livre, se classificou fora do top 10 e teve de trocar o motor, largando do pitlane. Ele não conseguiu progredir muito na corrida até a aposta pelos slicks nada menos que 12 voltas antes do restante do pelotão. Sua experiência com a pouca aderência valeu a pena por uma volta na relargada do Safety Car provocado por Yuki Tsunoda na volta 40, até ele se chocar com Mick Schumacher, o que efetivamente acabou com sua corrida.
E Hamilton em uma noite tumultuada
Seu companheiro, Lewis Hamilton, teve uma noite frustrante. Ele queria pneus intermediários usados no começo da corrida, depois queria pneus macios mais adiante, e não foi ouvido pela equipe, que entendeu que suas duas escolhas (intermediários novos e pneus médios) eram melhores ao longo da corrida.
Preso por um bom tempo atrás de Sainz, Hamilton errou na volta 33, um momento crucial da corrida, em que os pilotos estavam conseguindo forçar mais ao mesmo tempo que já estavam vendo seus pneus intermediários subirem de temperatura. Ele acabou entrando nos boxes para colocar pneus slick duas voltas depois, junto de Leclerc, no momento em que Russell passou a igualar os tempos de quem estava com intermediários. Hamilton era o quarto quando cometeu o erro e caiu para nono depois que tentou passar Sebastian Vettel saindo fora do trilho seco.
E Verstappen também
Ele foi ultrapassado por Verstappen neste momento, outro que teve uma noite atribulada. O holandês se classificou em oitavo depois que a Red Bull lhe pediu que abortasse suas duas últimas voltas (uma por trânsito e outra por falta de combustível). Perdeu posições na largada, recuperou-se até o quinto lugar, foi outro que tentou passar (no caso dele, Lando Norris) pisando no molhado com pneu de pista seca, teve de parar outra vez, e mesmo assim se recuperou até a sétima posição. Mas definitivamente não foi uma performance como a que nos acostumamos ao longo de 2022.
Paciência dá recompensa na McLaren
Não dá para falar do GP de Singapura sem citar a grande corrida para a McLaren. Seus dois pilotos ficaram longe dos erros que marcaram a prova de tantos, e tiveram paciência para esperar um SC para trocar os intermediários pelos slick. Lando Norris já estava largando entre os primeiros após uma ótima classificação, então quem ganhou mais posições com a estratégia foi Daniel Ricciardo, que saiu de 16º para a quinta colocação.
As Aston Martin pararam um pouco antes, mas também se mantiveram longe da confusão e marcaram pontos com ambos os carros. E a AlphaTauri saiu decepcionada com Tsunoda no muro e Gasly apenas em décimo, muito em função de ter sido o segundo a colocar os slicks. Afinal, foi uma noite tão diferente que até o overcut com pneus intermediários usados funcionou melhor que as tentativas de undercut com pneus de pista seca!
No comment yet, add your voice below!