Quanto mais se analisa o GP da Áustria, mais claro fica que a F-1 viveu um “Estado de exceção” no último domingo, mas ao mesmo tempo é interessante avaliar como tantos fatores fazem diferença. Começando pela altitude, de 660m acima do mar, segunda maior do campeonato e perto do encontrado em São Paulo: mesmo sem o calor escaldante do domingo, isso já implica num arrefecimento pior, além de se gerar menos pressão aerodinâmica naturalmente. Trata-se de um combo prejudicial para a Mercedes, que claramente teve que “abrir” mais a carenagem da parte traseira do carro para melhorar o resfriamento do carro. Além disso, o ar quente é menos denso, e isso também prejudica um carro aerodinamicamente mais eficaz.
O traçado com apenas 10 curvas e também a altitude, que diminuía o efeito negativo do maior arrasto, jogavam a favor da Ferrari, algo que se comprovou nos treinos livres, com as Mercedes 6 a 7kmh mais rápida nas curvas, mas engolidas nas retas. Mesmo assim, o ritmo de corrida de Hamilton tinha sido muito forte, quando o calor não era tão intenso, na sexta-feira. Então, a aposta seria a Ferrari apostando na posição de pista, pois tinha grandes chances de fechar a primeira fila, e a Mercedes focando no ritmo. Isso explica, inclusive, as escolhas diferentes de compostos de pneus: largando na ponta, a Ferrari poderia fazer a administração necessária com os macios para vencer.
Mas veio o calor ainda mais forte no domingo e os prateados saíram do páreo, com os pilotos relatando que em nenhum momento usaram os modos mais agressivos do motor e ainda usaram e abusaram do lift and coasting. Em última análise, foi ao não enxergar isso que a Ferrari perdeu a corrida.
Um dos carros italianos já estava comprometido: Vettel teve um problema de pressão no motor na classificação, provavelmente por ter passado por cima de uma zebra, e acabou com a difícil missão de se recuperar ao mesmo tempo em que tentava administrar os pneus macios no começo da prova.
Tudo isso abriu espaço para a Red Bull de Verstappen, que acabou ganhando a prova. Mas seria o suficiente para explicar o ritmo avassalador do holandês no final da prova? O rendimento deles, na verdade, em mesmo Horner e o próprio Max conseguiam dizer de onde veio. Até porque, eles nem faziam ideia do que poderia fazer quando as luzes vermelhas se apagaram.
Voltando um pouco no tempo, na classificação, Hamilton fez uma outlap lenta demais e atrapalhou a preparação do pneu de Bottas, que vinha atrás para pegar o vácuo. Isso deu a primeira chance a Verstappen, que tem aproveitado toda brecha que aparece neste ano. O holandês se classificou em terceiro e herdou o segundo posto com a segunda brecha, a punição de Hamilton.
Com uma configuração de embreagem agressiva demais e uma largada ruim, Max parecia ter saído do jogo, ainda mais com uma fritada no pneu que atrapalhou seu ritmo na primeira metade da corrida. Não coincidentemente, ouvimos o engenheiro de Leclerc administrando seu ritmo com base em Bottas, e chamando o monegasco aos boxes para responder à parada do finlandês. Olhando para trás, foi isso que fez a Ferrari perder a corrida, uma vez que Leclerc poderia ter forçado mais e ficado por mais tempo na pista. Porém, naquele momento, nem a Red Bull acreditava que uma vitória seria possível.
A Mercedes chamou primeiro Bottas para se proteger de Vettel, que estava chegando perto de seus dois carros. O alemão estava instruído a seguir o que o finlandês fizesse e entrou junto, ainda que um problema no rádio dos mecânicos tenha causado confusão e perda de tempo na parada. Mesmo estando fora de perigo para um undercut imediato, com mais de 4s de vantagem, Leclerc foi chamado por precaução, duas ou três voltas antes do que seria o ideal.
É fácil dizer isso agora que a corrida foi perdida mas, naquele momento, fazia sentido: ele teria pneus até mais novos que seu rival mais próximo, e até ali não havia preocupações em termos de ritmo em relação às Mercedes e Verstappen teria que passar Hamilton e Bottas para ameaçar o líder.
Foi então que a corrida passou a virar para Max. Hamilton errou, atacou com muita força uma zebra e teve de trocar a asa dianteira, saindo do caminho de Verstappen, que tinha conseguido levar o pneu médio até a volta 31. Assim, quando ele saiu dos boxes, a 40 voltas do fim, Leclerc tinha 13s de vantagem e em nenhum momento do final de semana a Red Bull tinha mostrado ritmo para reverter esse quadro, mesmo com a diferença de 9 voltas entre os pneus dos dois pilotos.
Mas o que o time dono da casa descobriria é que seu carro – na verdade, seu conjunto carro + Max Verstappen – cuidaria dos pneus de uma maneira que o time jamais poderia antecipar, uma vez que o holandês tinha batido no segundo treino livre e os únicos dados de simulação de corrida que eles tinham eram do carro de Pierre Gasly, que levaria uma volta do próprio companheiro durante a corrida.
“O carro ganhou vida”, contou Verstappen, que passou a ser muito mais rápido que Bottas e Leclerc. Com a chance de um bom resultado se materializando, o holandês ouviu que poderia usar o modo mais poderoso do motor – algo que certamente vai diminuir sua vida útil, mas quem se importa? – até o final da prova.
Decidido nas manobras, algo fundamental para evitar superaquecimento, Verstappen passou por cima de Bottas e, quando a Ferrari viu quem era seu rival de verdade na prova, Leclerc já estava nas cordas. E o resto é história.
4 Comments
Juliani, li por ai que Pat Fry está de saída da McLaren mesmo tendo chegado a pouco tempo. Sabe de alguma coisa? O carro desse ano feito por ele é muito melhor que do ano passado.
Julianne o post onde você mostrava a diferença entre as narrações das tvs mundo afora, pode voltar um dia?
Tomara, adorava aquela coluna
Fico feliz que vocês ainda lembrem daqueles posts. No final das contas, foram eles que me motivaram a fazer o blog, lá em 2010. Mas hoje não tenho tempo de fazer aqueles textos, pois é preciso de 6 a 7h para escrevê-los.