Há muito o que aprendeu com o que aconteceu no último domingo em Silverstone, em prova que acabou com a mesma dobradinha de (quase) sempre, mas com um enredo cheio de emoção. A explicação para as várias disputas que vimos está em parte nos pneus sem a tendência de superaquecimento, devido à combinação de baixas temperaturas – 17ºC de temperatura do ar e 28ºC na pista, em um dia nublado – e no traçado do circuito, formado de curvas de alta velocidade que não são feitas facilmente de pé embaixo apenas pela Mercedes (como tinha sido o caso da França). Então a arma do time mais forte ficou “congelada”, como vimos na classificação, em que Leclerc ficou muito perto da pole e Verstappen saiu falando que tinha um gosto amargo porque sentiu o motor falhar em sua volta. E, na corrida, carros menos punidos pela falta de downforce conseguiram seguir seus rivais mais de perto.
Mesmo assim, o vencedor foi o mesmo da maioria das provas anteriores no ano, e não é por acaso. Infelizmente, por conta do Safety Car, não ficamos sabendo exatamente se iria dar certo na prova que tinha tudo para ser uma das mais técnicas vencidas por Lewis Hamilton.
No sábado, os estrategistas da Mercedes tinham decidido que a estratégia mais rápida era a de duas paradas, mas eles dariam a opção para o piloto que estivesse em segundo perto da primeira parada estender seu stint caso tivesse pneus suficientes para fazê-lo, dando a chance dele ter borracha mais nova nos dois outros stints.
Pois, bem. Hamilton depois contou que sabia exatamente o quanto tinha forçado seus pneus na simulação de corrida da sexta-feira, que tinha sido arrasadora. Julgou que seria possível fazer apenas uma parada e guardou essa informação para si.
A primeira parte do plano era fazer Bottas desgastar mais rapidamente seus pneus na primeira parte da corrida, e por isso ele forçou tanto. Ele jogou com o fato de, em Silverstone, os pneus estarem sofrendo desgaste, e não degradação. Então os tempos de volta não iriam caindo, e sim a borracha que acabaria, algo que o piloto consegue monitorar visualmente do cockpit (ainda mais porque o pneu que estava limitando os stints era o dianteiro esquerdo).
Um pouco mais atrás, Verstappen e Leclerc travavam um duelo de prender a respiração e, quando a Ferrari teve de reagir à parada de Gasly e chamou o monegasco, a recomendação da Red Bull era de que Max seguisse o rival. Afinal, os atuais campeões dos pit stops na F1 e líderes da temporada no quesito tinham motivos para acreditar que ele sairia na frente. Isso aconteceu, mas Leclerc devolveu a manobra na pista. Os dois teriam que parar novamente: Verstappen porque só tinha usado o composto médio, e Leclerc porque tal composto não duraria até o final.
Ao mesmo tempo, havia outro ponto interessante: Gasly tinha colocado o pneu duro, mostrando a intenção de ir até o final sem parar novamente. Ninguém sabia se isso era possível, pois os times têm levado apenas um jogo de duros aos finais de semana, e só sabem quanto eles realmente vão durar na hora da corrida.
Voltando à ponta, a situação de Bottas era a mesma de Max depois de sua primeira parada, algo de que ele se arrependeu tão logo saiu do carro. “Como os médios duraram mais que o esperado, o melhor seria colocar os duros e deixar a estratégia de uma parada aberta”. A diferença entre ele e Hamilton é que seu companheiro já tinha largado pensando em fazer exatamente isso, e avisou, logo depois da parada do finlandês, que ficaria na pista o quanto fosse necessário e que rejeitaria a estratégia do time de colocar novamente os médios e se comprometer com duas paradas.
Ficamos sem saber se a tática seria permitida pela Mercedes e executada por Hamilton para vencer depois que Antonio Giovinazzi provocou um Safety Car que, efetivamente, transformou o GP em uma corrida de uma parada. Foi um presente tanto para Lewis, quanto para Vettel, que também tentava estender seu stint. Na outra Ferrari, como eles sabiam que Verstappen seria instruído a fazer exatamente o oposto de Leclerc – e ele estava logo adiante na pista – o jeito foi esperar para ver se o rival pararia de novo e também colocaria os duros para fazer o mesmo. Isso custou a posição do monegasco.
Quem comeu bola no Safety Car foram McLaren e Toro Rosso. Enquanto Sainz e Kvyat foram beneficiados porque estavam entre os pilotos que ainda não tinham parado, os times optaram por deixar seus companheiros na pista, mesmo sabendo que eles teriam de parar uma segunda vez.
Depois que Verstappen passou Gasly, seria a primeira vez que veríamos seu ritmo real, sem ter Leclerc à frente. E ele estava fazendo os mesmos tempos das Mercedes na frente, aproximando-se facilmente de Vettel. Seria uma manobra fácil se o alemão não tivesse tentando devolver colocando o carro em um espaço que não existia mais, enchendo a traseira de Verstappen e depois assumindo o “erro de cálculo”.
Depois que Leclerc passou Gasly, a terceira posição voltou a suas mãos, no quarto pódio seguido da temporada. Arrastando-se para chegar em quinto com o carro bastante danificado, Verstappen disse que mirava chegar em segundo, algo que não parecia fora de alcance.
Vamos agora para dois circuitos em condições bem diferentes de Silverstone. Tanto na Alemanha, quanto especialmente na Hungria, espera-se muito calor, algo de que a Mercedes já mostrou que não gosta, mas as pistas em si são mais travadas. Depois dos dois últimos thrillers, fica a expectativa do que esses novos combos vão trazer em termos de emoção.
2 Comments
Já achei a estratégia da McLaren bem conservadora, botou cada piloto numa situação, com claro objetivo de cercar os resultados possíveis. Apostas mais arriscadas são bem vindas, tem é que mandar os dois pra cima da turma da frente, os dois gostam e sabem acelerar.
Bela análise.
Acho que a Ferrari comeu bola de novo.
Deveria ter chamado o Leclerc assim que saiu o safety car. Quem parasse ali iria até o fim.
Ficar esperando a estratégia do adversário não é a melhor opção.