F1 Estratégia do GP de Mônaco e Raikkonen fora do ‘script’ - Julianne Cerasoli Skip to content

Estratégia do GP de Mônaco e Raikkonen fora do ‘script’

O primeiro objetivo de uma equipe de Fórmula 1 é vencer o campeonato de construtores e, com a dobradinha garantida em Mônaco, a Ferrari estava marcando pontos importantes para isso. Porém, seu segundo objetivo, de ganhar o mundial de pilotos, tinha um entrave: era o piloto errado que estava na ponta.

A intervenção estratégica para se certificar que Vettel tivesse condições de tomar a primeira posição de Raikkonen é totalmente lógica. Mas sempre traz suas consequências e a reação do finlandês após a prova deixou claro que ele não gostou nada de ter perdido o que seria sua primeira vitória desde março de 2013 e a segunda em Mônaco.

Na Red Bull, o mesmo aconteceu: Daniel Ricciardo estava atrás e ganhou a melhor estratégia, lembrando que a equipe errou e lhe tirou uma vitória praticamente certa no Principado ano passado e que, após a classificação no sábado, o australiano cobrou fortemente o time por achar que tinha sido prejudicado. Após a bandeirada, quem estava furioso – a ponto de demorar mais de meia hora para ir às entrevistas, quando normalmente eles fazem isso logo que saem do carro – era Max Verstappen.

Tanto na Ferrari, quanto na Red Bull, o cenário foi o mesmo: o carro que estava na frente na pista – Raikkonen e Verstappen – fez o pitstop primeiro e acabou perdendo a posição por conta disso. E as equipes sabiam que esse seria o caso, uma vez que a diferença de rendimento entre o ultramacio e o supermacio era de 0s5 e não havia diferenças significativas de durabilidade. Além disso, por todo o final de semana os carros tiveram de fazer duas voltas de preparação para aquecer os pneus. Quem parasse primeiro, portanto, tanto não teria a vantagem da aderência superior do pneu novo, quanto sofreria nas primeiras voltas.

Ou seja, havia uma janela muito grande nas 78 voltas em que não o ritmo de pneu, mas a pista estar livre ou não, ditaria o ritmo. Em Mônaco, a posição de pista é fundamental: tudo o que você quer evitar taticamente é ficar preso atrás de carros mais lentos.

Não surpreendentemente, foi este o princípio usado para definir a tática de Hamilton, que conseguiu ganhar posições por ter pista livre quando aqueles que estavam à frente começaram a parar e ele pôde impor seu ritmo normal.

Porém, voltando à Ferrari, depois das paradas de Bottas e de Verstappen, Ricciardo começara a voar e a equipe entendeu que isso colocaria a posição de Vettel e, consequentemente, a dobradinha, em risco. Neste momento da prova, em torno da volta 30, Raikkonen tinha diminuído o ritmo, mas deu a entender nas entrevistas que não tinha nenhuma dificuldade com os pneus ou algo do tipo, estava apenas administrando.

Ao invés de pedir para Kimi acelerar, a decisão foi chamá-lo ao box, mesmo colocando-o no tráfego, atrás de Button e Wehrlein na pista, e liberar Vettel para usar o ritmo superior dos ultramacios. Foi uma jogada que garantiu ao mesmo tempo a dobradinha e que o postulante real ao título de pilotos voltasse em primeiro ao parar cinco voltas depois do companheiro.

Desde a pole de Kimi, começou a especulação de como a Ferrari faria a inversão, uma vez que ela seria necessária para o campeonato, e é provável que os cenários tenham sido apontados para os pilotos no briefing. Tudo deu certo, menos a reação negativa do finlandês após a bandeirada. Por conta dessa ‘falha de script’, causou estranheza essa queda de rendimento de Raikkonen e há quem acredite que ele foi informado de que seria dada a chance de Vettel fazer o overcut e tentou estragar a tática ‘empurrando-o’ para cima dos rivais.

A reação de Kimi após a corrida foi repetir que não era ele quem tinha que explicar o fato de ter parado primeiro e será interessante ver como isso se desenvolve nas próximas corridas, pois até aqui o finlandês não estivera perto o suficiente para ameaçar a pontuação de Vettel.

Do outro lado desta briga, Lewis Hamilton, mesmo tendo sido claramente batido por Valtteri Bottas – que, aliás, fez a melhor volta de classificação do sábado em Mônaco, considerando o carro difícil que tinha em mãos – começou a pressionar sua equipe dizendo que “a Ferrari já escolheu seu primeiro piloto”. Na Mercedes, houve, inclusive neste ano, interferências, mas elas acontecem quando o resultado do time está em perigo. Em uma situação como esta, de dobradinha garantida, eles sempre resistiram em interferir – e há pouco menos de um ano criaram as tais “regras de conduta”, basicamente limitando brigas entre seus pilotos para priorizar totalmente o mundial de construtores. Mas isso foi nos tempos de domínio. E agora?

6 Comments

  1. Ju, a Ferrari deixou um sinal claro para o Kimi de que as chances de ele vencer um prova, quando Vettel estiver em segundo, são praticamente nulas? O finlandes estava com uma “cara” melhor nas entrevistas?

  2. Ju, você diz que Hamilton largou com pneus supermacios, porém, ele largou de ultramacios. Ou eu estou enganado ?

    Agora que escrevi, até eu estou na dúvida hahahaha

    Bom, de toda forma, gostaria de lhe certificar que seus posts são os melhores, e acompanho você desde 2012 ou 2013. Adoro suas análises e sua forma de pensar.

    Existe alguma explicação do porque o Hamilton teve um desempenho tão abaixo do esperado ?

    • Você está certo Gustavo. E comento sobre os programas do Hamilton no podcast Credencial, que vai ao ar na quinta!

  3. Julianne,
    Preciso escrever que adoro os seus comentários? Ops! Agora já foi!
    Cada vez mais me convenço de que a briga Hamilton/Alonso em 2007 foi mais culpa do Hamilton do que do Alonso. E aquela história de “inclusive eu posso vir a trabalhar para o Bottas ser campeão”? Deve ter se esquecido…
    Vai ser muito interessante ver como a Mercedes irá reagir a isso, até pq o Hamilton nunca obedeceu uma ordem pra beneficiar o Rosberg, mas ele sempre se beneficiou de quando a equipe dava ordens para o Rosberg deixar o Hamilton passar.
    E o que o Kimi esperava da Ferrari? Todos conhecem a filosofia deles de ter claramente um segundo piloto e um primeiro no campeonato, quando Vettel assinou, já com a banca de ser um dos três melhores do grid, todos sabiam que ele iria para ser primeiro piloto. Essa decisão não deveria surpreender o Kimi.
    Abraços pros meninos e beijos pras meninas!

  4. Para mim é muito claro que todo piloto, todos mesmo, querem todas as vantagens da equipes. Os já campeões ainda mais. Se o Kimi tivesse vencido acredito que Vettel estaria muito mais emburrado que o próprio Kimi esteve. Questionaria duramente a Ferrari em reunião interna. E acho que já fez isso no próprio sábado sobre em que momento a equipe iria tirar o Kimi da frente para ele vencer. E isso vai acontecer do lado do Hamilton tb cada vez que Bottas tiver imediatamente na frente. Bottas e Kimi sabe disso e não podem fazer nada demais além de ficarem emburrados nas entrevistas pós-corridas.


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