O GP de Portugal foi uma prova mais para quem corre por instinto do que baseado em dados. Havia a questão da temperatura da pista, bem mais baixa do que nos treinos livres, combinada com a falta de maturação do asfalto em si, refeito semanas antes da prova e ainda muito liso, o que inclusive surpreendeu a própria Pirelli – a escolha de levar os 3 compostos mais duros e, ainda por cima, adicionar um jogo de pneus duros, tinha sido tomada com base nas informações do asfalto anterior. E teve ainda o vento, que foi mudando de direção e de intensidade ao longo da prova.
Não surpreendeu que tenha sido, portanto, uma vitória maiúscula de Lewis Hamilton.
Quando Mercedes e Ferrari decidiram fazer o Q2 e, consequentemente, largar com os médios, os motivos estavam mais do que claros: o pneu macio sofria com graining forte, ou seja, começava a “descascar” e a perder rendimento logo nas primeiras voltas, e isso complicaria a estratégia de uma parada, que era a mais rápida. O melhor era confiar nos pneus mais duros, embora houvesse um problema: seria mais difícil colocar temperatura nestes pneus do que nos macios na largada, haja vista a pole feita por Hamilton na segunda volta do pneu.
Isso só piorou quando o domingo amanheceu nublado. A temperatura ambiente não se alterou muito, esteve sempre por volta dos 20 graus, mas a temperatura da pista despencou em 10 graus. Para piorar, garoou bem quando os pilotos estavam se preparando para a largada. Junte-se a isso o asfalto já muito liso, que dificulta o trabalho de aquecimento dos pneus e tira a aderência, e tivemos um show de escapadas e muita dificuldade nas primeiras voltas, especialmente de quem estava com o médio (Hamilton, Bottas, Leclerc e todos a partir do 11º, a não ser Kimi Raikkonen, que conseguiu pular de 16º para sexto). Naquele momento, Hamilton parecia sofrer mais que Bottas, e ambos foram passados por Carlos Sainz, que tinha largado em sétimo, com pneus macios.
Aos poucos, os médios foram ganhando temperatura e a ordem foi se restabelecendo, primeiro com Bottas retomando a ponta na volta 6 e Sainz caindo para quinto na volta 15.
Bottas chegou a abrir 2s3 para Hamilton, e aparentava estar se adaptando mais rapidamente às condições. Mas logo depois descobrimos que não era ele quem estava andando bem, era que o ritmo que estava nivelado por baixo: quando Hamilton entendeu o comportamento dos pneus, não apenas passou o companheiro na pista, como começou a adotar um ritmo muito mais forte. Isso tem a ver com a maneira dele pilotar, mas também de acertar o carro, deixando a traseira um pouco mais solta, o que o ajudou a manter a temperatura dos pneus mais estável, a grande chave para ter um bom ritmo.
A corrida foi como uma maratona: quem correu já sabe que a pior coisa que você pode fazer para seu corpo é ficar mudando de ritmo. Troque o corpo pela temperatura dos pneus e você tem o “código secreto” do GP de Portugal. É claro que, se você não está em lutas por posição, é mais fácil fazer isso, mas tivemos no domingo algumas atuações especiais de Hamilton, Leclerc, Gasly e Sainz, que é um caso à parte.
Ele teve um pouco de graining no pneu macio no começo, mas foi controlável a ponto dele poder esperar a fase pior passar e só fazer sua parada na volta 27, colocando os duros e sabendo que era só levar o carro para casa a partir daí. Graining aparece geralmente quando a pista está fria e o piloto força muito logo de cara. Então ele conseguiu ir para a liderança sem superaquecer o pneu a ponto de sofrer muito com graining, teve a paciência para esperar o pouco que surgiu limpar (o que é uma fase muito ruim para o piloto, porque ele perde muita aderência e a tentação de trocar os pneus é grande), e terminou em sexto. Uma corridaça do espanhol, em contraste com a tarde ruim de Lando Norris, que fez tudo ao contrário em relação ao companheiro, sofrendo muito mais com graining e fazendo duas paradas.
A corrida de Sainz só não foi melhor do que a de Pierre Gasly, que fez a pior estratégia funcionar para ir de nono no grid para quinto. Ele controlou muito bem o graining no primeiro stint e parou só na volta 28. Curiosamente, enquanto Sainz atacou lá na frente e ele fez uma largada conservadora, deixando os Landos, Ricciardos e Perez “se matarem” no meio, os dois passaram a maior parte da corrida juntos, com Gasly tendo passado Norris na 20ª volta e terminando, assim, na frente.
Lá na ponta, quem largou com médios teve uma corrida mais tranquila depois das primeiras voltas. Depois de passar Bottas na volta 18, Hamilton passou a ser o único a rodar em 1min20. Conseguiu levar o pneu médio sem problemas até a volta 40, e já tinha quase 10s de vantagem para Bottas naquele momento.
Ao finlandês foi, num primeiro momento, dada a opção de escolher o pneu macio ao invés do duro para o stint final, mas ele começou a ter vibrações em seu composto médio e a decisão foi por não correr riscos. Com qualquer pneu, não chegaria em Hamilton.
Já Verstappen conseguiu minimizar os danos de não ter a melhor estratégia no GP de Portugal, ficando à frente de Leclerc, que teve um quarto posto por puro mérito com a melhor estratégia e uma Ferrari atualizada em doses homeopáticas há quase dois meses, e que finalmente parece ter ganhado vida. Veremos já neste final de semana em Imola se não foi algo que apenas se casou bem com o excelente circuito de Portimão.
1 Comment
Pela primeira vez na minha vida vi uma corrida de F1 ao vivo e tudo correu como eu mais desejava. Não choveu e a vitória foi para o Lewis Hamilton e assim tornou-se no piloto com mais vitórias na F1. Com essa vitória, o Autódromo de Portimão e o Grande Prémio de Portugal entrou na história pois quando se for ver quando Hamilton bateu o recorde de vitórias, vai lá estar Portugal.
Cumprimentos
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