A Mercedes venceu o GP do Bahrein ao agir como desafiante e atacar, por duas vezes, na estratégia. O resultado foi uma daquelas provas que vão se desenhando com dois pilotos buscando caminhos bem diferentes para chegar até as últimas voltas divididos por menos de um segundo. Daquelas que ninguém poderia ter certeza de como terminaria.
No final, a Mercedes colocou Lewis Hamilton para provar por que merece os milhões que ganha, e ele levou. Mas como ele e Max Verstappen chegaram até aquele momento crucial, a quatro voltas do final, quando o holandês atacava o inglês com pneus 11 voltas mais novos?
Primeiro é importante entender algumas questões sobre a pista do Bahrein, a mais abrasiva do campeonato e que pune muito os pneus traseiros por meio de superaquecimento por conta disso e da grande exigência de tração nas curvas de baixa e média. É por isso que trata-se de uma corrida de duas paradas mesmo quando não faz calor, como era o caso no domingo, e também é por isso que parar Hamilton ainda na volta 13 de 56 foi um risco e tanto que a Mercedes correu.
Ele teria pela frente dois stints de 21 ou 22 voltas pela frente, com os pneus duros, depois de usar os médios na primeira parte da prova. Foi um risco corrido por quem não via muito o que perder: sabendo que não tinha o carro mais rápido e estava atrás, o único jeito de ganhar seria colocando Hamilton no ar limpo, para ele tentar imprimir um ritmo melhor e poupar seus pneus. E isso seria feito com um undercut indefensável, ou seja, com uma parada muito antecipada, o que só foi possível porque o inglês conseguiu acompanhar Verstappen de perto, enquanto o holandês relatava problemas com seu diferencial. Quando o espaço para Lewis parar e voltar sem trânsito foi aberto pelas primeiras paradas no meio do pelotão, o inglês estava a menos de dois segundos do holandês.
Ou seja, a partir do momento em que Lewis parou na volta 13, a Red Bull sabia que tinha perdido a liderança. Mas ainda não tinha perdido a corrida. Eles muito provavelmente até esperavam essa jogada, já que Verstappen tinha guardado um jogo de pneus médios e um de duros, enquanto Hamilton tinha dois jogos dos pneus brancos. Após a prova, inclusive, o time reconheceu que isso pode ter sido um erro, cometido ainda nos treinos livres.
De qualquer forma, na corrida, o pensamento da Red Bull para devolver a jogada foi o certo: estender ao máximo os stints de Max para ele chegar com pneus melhores no final. Mas aí a Mercedes jogou com Bottas, usando o fato de estar com 2×1, já que Perez não tinha conseguido extrair rendimento do pneu médio no Q2, e depois tinha tido um apagão elétrico na volta de apresentação. O finlandês diminuiu a diferença para Verstappen e parou, obrigando a Red Bull a responder para não perder, também, o segundo lugar.
Então Max colocou os médios para o segundo stint apenas quatro voltas depois de Hamilton. E voltou 6s6 atrás. Ele tinha que tirar pelo menos parte dessa diferença e fazer os pneus durarem para ter qualquer chance. E foi conseguindo fazer isso. Até que, quando chegou perto demais (1s6 na volta 28), a Mercedes deu outra cartada e chamou Hamilton, que até questionou a parada, já que seus pneus ainda estavam com bom rendimento. Ali, eles estavam se defendendo de levar o undercut da Red Bull, e mantinham seu piloto, tecnicamente, na frente.
Digo tecnicamente porque agora Verstappen tinha que levar esse pneu médio o mais longe possível, para fazer o último stint atacando do começo ao fim. Ele só pararia com 15 voltas pro final, voltando 7s6 atrás de Hamilton.
A diferença era praticamente nula a quatro voltas do fim, quando ele deu o bote, mas acabou saindo da pista e tendo de devolver a posição. Poderia ter atacado depois? Poderia ter devolvido a posição antes da curva 13, para logo ter DRS? Olhando em retrospecto, sim, mas Max explicou depois que avaliou que seus pneus estavam no limite, o que ficou comprovado nas últimas voltas.
E aí deu Hamilton, desta vez no papel de franco-atirador, com um carro que, como descreveu o chefe de engenharia Andrew Shovlin, “não tem vantagens” em relação ao Red Bull.
Largando do pitlane, Sergio Perez foi o nome da prova, fazendo (nas minhas contas) 14 ultrapassagens e andando em um ritmo semelhante ao de Verstappen quando teve pista livre. Um stint impressionante foi o último: ele parou uma volta antes de Max, voltando em oitavo, e passou Stroll, Ricciardo e Leclerc para ser quinto. Só não conseguiu chegar em Lando Norris, que passou Ricciardo na largada e Leclerc nas primeiras voltas, para depois se aproveitar do luxo de ter ar limpo e ser o melhor do resto.
O toque entre o australiano e Pierre Gasly ajudou neste sentido: o francês largava com os médios e poderia ter feito uma bela estratégia, mas teve o assoalho bastante danificado no lance, ainda na primeira volta. E depois a McLaren também descobriu danos no carro de Ricciardo, que ficou em sétimo.
Já na Ferrari, o time respirou aliviado pelos problemas de conservação dos pneus não terem aparecido de forma decisiva na corrida, e gostou do que viu com Carlos Sainz, que pareceu ir ganhando confiança ao longo da prova. Depois de fazer 22 voltas com um jogo de médios no meio da corrida, impressionou com a consistência de seu último stint, com duros, e quase conseguiu roubar pontos da McLaren, que deve ser a rival ferrarista pelo terceiro lugar.
Teve ainda a boa estreia de Yuki Tsunoda, que era 15º no final da primeira volta e terminou em nono com direito a ultrapassagem na última volta, e a decepção da Aston Martin, sofrendo para adaptar-se ao novo assoalho e difusor. A volta de Fernando Alonso acabou com uma embalagem de sanduíche entrando no duto de freio da Alpine, e Sebastian Vettel amargou cinco pontos de punição por dois incidentes isolados, saindo sem pontos após a aposta de fazer apenas uma parada.
1 Comment
Foi uma boa primeira corrida do campeonato que promete…
Confesso que não esperava a vitória do Hamilton, depois de ver o Verstappen a dominar todas as sessões de treinos. Fiquei um pouco desiludido com a Aston Martin.
cumprimentos
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