F1 Estratégia – e sorte – no GP da Coreia - Julianne Cerasoli Skip to content

Estratégia – e sorte – no GP da Coreia

Imagine que você tem o desafio de encontrar o equilíbrio ideal para a classificação e a corrida em apenas uma hora de treino, baseando-se nos dados de uma pista em que só andou com o asfalto sujo e escorregadio do 2010, aposta por um caminho e, no final, a sorte acaba sendo decisiva. É em momentos assim, quando há poucas informações e vai se pisando no escuro durante a prova, que qualquer engenheiro de F-1 é lembrado de que isso ainda é um esporte.

O GP da Coreia deste ano teve muitos desafios dos pontos de vista técnico e estratégico. Com pouco tempo de pista devido à chuva de sexta-feira, todas as equipes foram para a corrida com muitas dúvidas a respeito do acerto e da estratégia.

Com a promessa de um desgaste excessivo de pneus, a Red Bull guardou todos seus jogos de pneus macios na classificação. Numa aposta que não poderia ser mais contrastante, Adrian Sutil largou de macios mesmo no top 10.

A prova tanto foi um tiro no escuro que a McLaren descobriu apenas no meio do primeiro stint de Hamilton que havia algo de errado no acerto do carro do inglês, que saía muito de traseira.

Mas o que a sorte tem a ver com isso? Olhando as variáveis estratégicas da prova, me chamaram a atenção quatro momentos-chave que aumentaram ou diminuíram o potencial resultado de cada um dos pilotos – mesmo tendo pouco a ver com qualquer tática.

Primeiro, Vettel. Percebendo que o pneu supermacio não tinha nem a metade da degradação esperada e rendia bem, a Red Bull decidiu abandonar sua estratégia de priorizar os macios e colocou os vermelhos no carro do bicampeão na primeira parada. Questão de momentos depois, o Safety Car entra na pista.

Onde está a sorte? Quando Vettel parou pela primeira vez, tinha uma distância até confortável em relação a Hamilton, de 4s7, e o ritmo dos pilotos que haviam colocado macios – Barrichello, Rosberg – era muito bom (estranhamente, os pneus macios e supermacios pareciam durar praticamente o mesmo na primeira metade da prova e ter leve flutuação de rendimento, dependendo do carro). Não seria nenhum crime optar pelos macios. Mas a Red Bull dividiu a estratégia de seus pilotos e colocou Vettel no vermelho e Webber no amarelo (talvez pela diferença de desgaste entre ambos). Como o SC anulou o que Vettel havia construído no primeiro stint, a aderência inicial do supermacio foi fundamental para que o alemão não sofresse o ataque de Hamilton na relargada.

Alonso em "como tirar cinco pilotos da sua frente numa questão de segundos"

Neste mesmo momento, Alonso também estava com a sorte a seu lado. Quando dois pilotos da mesma equipe andam próximos, o que vai atrás é extremamente prejudicado em tempos de Pirelli (veremos como isso ocorre em um post futuro). Como teve de esperar Massa fazer sua primeira parada, perdeu 4s em uma volta e 5s na seguinte, quando entrou.

Saiu no meio do tráfego, quase batendo com Schumacher. Na reta seguinte, foi superado por Petrov. Como Rosberg e Button tinham conseguido o undercut nas Ferrari – que esperaram perder muito rendimento para parar – e os pilotos que tentavam um primeiro stint longo (Alguersuari, Perez e Maldonado) não haviam parado, Alonso havia caído de quinto para 12º! Foi então que um erro de cálculo, de certa forma provocado por ele mesmo, tirou cinco carros de sua frente.

Ao dividir a freada com o espanhol, Petrov escorregou nos marbles e encheu a traseira de Schumacher. Menos dois. Isso trouxe o SC para a pista, que abriu a janela para Alguersuari, Perez e Maldonado pararem sem que Alonso perdesse 1s sequer. Na verdade, toda a perda de ser o segundo piloto da vez dentro da Ferrari estava recuperada: ele estava de volta atrás de Massa.

O brasileiro já não pode dizer o mesmo. É difícil cravar se teria voltado à frente de Button e Rosberg após a primeira parada: descontando os 3s que perdeu no box, entraria bem no meio da briga e sabemos que a Ferrari demora mais que os rivais para aquecer os pneus. Ao menos teria uma chance, que lhe foi roubada pelo tráfego de Schumacher no pit lane, que causou o atraso.

Button também não deu sorte – ainda que, nesse caso, seja possível colocar algum débito na conta da McLaren, que fez (como de costume) uma parada mais lenta que a Mercedes e o devolveu atrás de Rosberg. Na briga com o alemão, perdeu o melhor da vida de seus pneus. Mal sabia que teria, no SC, a chance de ir para cima de um Webber vulnerável com pneus macios.

Webber e Alonso poderiam ter chegado mais à frente?

Bem que a imprensa tentou, mas ninguém conseguiu arrancar de Alonso após a corrida nenhuma declaração dando conta de que as 34 voltas que o espanhol passou atrás de Massa arruinaram sua corrida. Afinal, seu ritmo assim que o brasileiro fez a segunda parada melhorou 0s5, mesmo com pneus velhos.

No entanto, não dá para presumir que o ferrarista perdeu 17s atrás de Massa, até porque o brasileiro abriu 1s8 do espanhol com facilidade após ambos superarem Rosberg. Questões como economia de pneus e combustível e até de acerto (envolvendo a interação tipo de pneu x peso do combustível, já que Alonso e Massa correram com asas dianteiras diferentes) podem explicar a flutuação de fases entre os dois. O que provavelmente aconteceu foi um melhor rendimento de Massa com supermacios e muito combustível e uma inversão na parte final da prova.

Se na pista Webber não conseguiu, a Red Bull também não ajudou

No caso de Webber, houve até quem viu a possibilidade de vitória. De fato, houve um momento, por volta do 30º giro, em que o australiano estava colado em Hamilton, claramente mais rápido, e a apenas 2s1 do líder. Será que, tivesse parado antes, conseguiria o undercut em ambos?

Praticamente impossível, visto que os pneus de Vettel ainda tinham rendimento, como provam suas voltas antes de entrar no box (1:42.4, 1:42.2 e 1:42.0). No entanto, seria o suficiente para passar Hamilton, o que explica a frustração do australiano após a prova por ter entrado nos boxes junto do inglês.

É fato que a Red Bull é mais rápida que a McLaren nos pits, mas ainda assim a decisão não se justifica, pois disputar posição com o trabalho de box é a opção que dá menos oportunidade de ultrapassagem. Parando uma volta antes, com a vantagem do melhor rendimento do pneu e, no caso de Webber, melhor ritmo, um segundo lugar era certo. Parar depois, nem tanto, uma vez que Hamilton voltou andando bem logo na outlap.

3 Comments

  1. Olá Julianne!

    O Alonso usou uma nova asa dianteira como teste para 2012 e não ficou muito contente com o desempenho. Talvez isso explique o fato de não ter conseguido superar o Massa na 1ª parte da corrida.

    Surgiu o comentário de que a Mercedes criou um novo duto frontal direcionando o ar para o difusor traseiro com o objetivo de aumentar o downforce e diminuir o desgaste excessivo de pneus, confesso que não prestei muita atenção na corrida deles.

    Você acha que seja possível fazer alguma análise do desempenho nesta última corrida em relação às anteriores para justificar este novo boato?

    Abs.

    • Oi Ricardo, vamos lá:

      A asa da Ferrari: realmente a peça não se mostrou eficiente, uma vez que era clara a diferença entre Massa e Alonso nas retas (o espanhol não conseguia se aproximar) e, mesmo com ar livre e tirando muito mais rápido que a concorrência, suas primeiras parciais eram bem ruins (lembrando que na Coreia o primeiro setor tem 2 grandes retas e uma curva). Porém, a explicação – que, aliás, faz sentido, é de que eles sabiam que o carro não ia interagir bem com a asa e não havia a intenção de melhorar a performance com a novidade, somente comprovar que os dados do túnel de vento estavam certos – ainda mais depois que eles tiveram problemas com isso no começo do ano. Acredito que o Alonso não tenha se importado em sacrificar o final de semana para ganhar alguns décimos ano que vem!
      Uma vez que essa asa parece bastante com o sistema de cascata da Red Bull, foi levantada a questão dela piorar muito o carro no tráfego, o que costuma as travadas de Alonso atrás de Massa, que não são comuns na pilotagem dele. Mas isso pode ser resultado de diversos outros fatores também, então é melhor esperar.

      Duto da Mercedes: o rendimento do carro melhorou sim – Schumacher subiu muito até abandonar e Rosberg acompanhou de perto os líderes até o SC, o que não vinha acontecendo. Na disputa com Massa, chapou o pneu e teve de fazer uma parada cedo demais, o que comprometeu seu final de prova. No entanto, temos de lembrar que a Mercedes também andou bem na Coreia ano passado, então é melhor esperar as próximas provas. Seria uma saída interessante para melhorar o fluxo de ar embaixo do carro lembrando que os difusores soprados serão banidos.

      • Olá Julianne!

        Valeu pela ótima análise.

        Torço que tanto a Ferrari como a Mercedes consigam evoluir muito para o próximo ano.

        Quem sabe assim, poderemos ter um melhor comparativo de Vettel x Alonso x Schumacher.

        Abs.


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