Com toda a discussão sobre qual o limite de corridas do calendário da Fórmula 1, fica a impressão de que ver campeonatos terminando em dezembro é algo da era moderna da categoria. Mas não é bem assim. Foram nada menos que 10 títulos decididos após outubro na história, sendo quatro deles antes da virada do milênio. Aqui tem a lista de campeões em novembro na F1.
Como era de se esperar, Hamilton selou títulos mais vezes no mês 11, mas teve até piloto campeão nos anos 1960 que teve de esperar até que as luzes de natal começassem a dominar as ruas para celebrar seu triunfo. Separei algumas dessas histórias por aqui.
Para quem é mais novo/a e está pensando “e daí ter campeonato terminando em novembro/dezembro, é sempre assim!”, vale lembrar que a primeira vez que o GP Brasil, que fechava a temporada desde 2004, teve uma corrida – dia 2 – em novembro foi em 2008. Kimi foi campeão em outubro e Alonso, em setembro. E não faz taaanto tempo assim!
Os campeões em novembro na F1 quando o calendário era mais curto:
Mika Hakkinen, 1998
Aquela temporada seria um divisor de águas na F1, com a queda da Williams e a ascensão da McLaren-Mercedes projetada por Adrian Newey, ao mesmo tempo em que todo o trabalho de reconstrução da Ferrari começava a dar frutos sólidos, no terceiro ano de Schumacher e sua gangue por lá. Aquele ano teve alguns lances inesquecíveis, como a fúria de Schumi em cima de Coulthard na Bélgica (um dos GPs mais malucos da história).
Tudo isso aconteceu porque foi uma temporada equilibrada, que só podia ter sido decidida na última corrida, no Japão. Foi uma corridaça de Schumacher, que acabou com um pneu furado para o alemão e o título de Hakkinen.
Michael Schumacher, 1994
Schumi já tinha levado a melhor em um título decidido em novembro – de forma bastante polêmica, depois de não fazer esforço nenhum (no mínimo) para evitar o choque com Damon Hill no GP da Austrália, sabendo que tinha um ponto de vantagem.
De certa forma, a temporada não poderia ter terminado de outra maneira. Teve a suspeita de que a Benetton usava o controle de tração, mesmo com ele tendo sido banido (para Senna, uma certeza); obviamente a morte de Ayrton, que levou a uma série de mudanças no regulamento por questões de segurança; as punições a Schumacher – primeiro por ignorar uma bandeira preta, depois pela placa que mede o desgaste do assoalho estar usada demais na Bélgica, o que o excluiu por duas corridas e permitiu que Hill encostasse no campeonato. Poderia ter terminado de outro jeito?
Nelson Piquet, 1987
Foi outro campeonato super polêmico, desta vez pela briga interna na Williams de Nelson Piquet e Nigel Mansell. O inglês fez mais poles e ganhou mais corridas, mas teve um campeonato menos consistente que o brasileiro, e acabou perdendo o título depois de se machucar em um acidente nos treinos livres para o GP do Japão.
Curiosamente, o Leão não foi o único que perdeu uma prova após uma batida naquele ano: o ano de Nelson tinha começado justamente assim, depois da batida na Tamburello após a qual, disse ele várias vezes, nunca foi o mesmo. O título foi uma boa notícia para a Williams, que tinha perdido no ano anterior para Alain Prost e a McLaren muito em função das brigas internas entre Mansell e Piquet.
Em 87, a McLaren sofreria no último ano da parceria com a Porsche, o que seria recuperado com juros e correção monetária (para usar um termo famoso no Brasil na época!) nos anos seguintes de parceria com a Honda.
Graham Hill, 1968
Curiosamente (e tragicamente) 1968 foi um ano parecido com 1994 para o automobilismo. O piloto que muita gente acredita que tinha o potencial para ser o maior de todos os tempos, Jim Clark, morreu numa prova de F2. Ludovico Scarfiotti, Mike Spence e Jo Schlesser também perderam a vida, abrindo uma grande discussão sobre os limites da evolução dos carros – o que daria ainda muito pano pra manga nos anos seguintes, com o número de mortes crescendo ainda mais no início dos anos 1970.
Companheiro de Clark, Hill ganhou um campeonato muito disputado e que marcou o início dos carros patrocinados na categoria. A Lotus começou dominante, com uma vitória de Clark e duas de Hill, mas depois um jovem Jackie Stewart equilibrou o campeonato, levando a decisão para a corrida final, no México, que acabou sendo realizada em novembro para evitar bater com os Jogos Olímpicos. Mais constante ao longo do ano, Hill chegou ao México com vantagem de três pontos, mas o Matra-Ford de Stewart ficou devendo, e o escocês ficou o tempo todo fora dos pontos.
De quebra, Hill ganhou depois de largar em terceiro e conquistou o segundo de seus dois títulos mundiais, numa temporada que ficou marcada ainda por algumas estreias: a primeira vitória da McLaren (com seu fundador, Bruce), a primeira de Jacky Ickx e a estreia de Mario Andretti.
4 Comments
Parabéns por sempre encontrar temas interessantes para suas postagens.
E principalmente pelo conteúdo.
Leio outras postagens que parecem um resumo do assunto. Você lê e pensa: e aí, só isso!
Obrigada, Alexandre. Foi por isso que esse espaço nasceu. Na verdade, estou escrevendo um post para sexta justamente sobre essas origens!
Ju, a rodada do Hakkinen na Itália foi em 99 [em Monza ele rodou e em Imola ele bateu, senão me engano], não?
Foi mesmo, obrigada!