F1 GP da Bélgica por brasileiros, espanhóis e britânicos: “Ele não tem noção de espaço” - Julianne Cerasoli Skip to content

GP da Bélgica por brasileiros, espanhóis e britânicos: “Ele não tem noção de espaço”

Sem querer gorar, mas já gorando, o narrador da Sky David Croft avisa que “Alonso larga à frente da zona de perigo, com Maldonado, Grosjean e Hamilton.” Os espanhóis, na Antena 3, também sabem disso e acreditam que o pitwall da Ferrari deve estar alertando-o.

Mas nada de pensar em acidente na primeira curva, estão todos de olho na estratégia. Na Espanha e no Brasil, com a Globo, a informação é a vinda da Ferrari: “A tendência é a corrida ter dois trechos com pneus duro e um com o médio”, avisa Galvão Bueno. “Falei com o Felipe se ele podia arriscar o composto mais duro no começo, mas ele disse que largaria mal e não vale a pena.” Marc Gené complementa: “Para a Ferrari, o pneu duro é o melhor, então vamos fazer duro/duro e o normal é que Fernando não esteja muito rápido no primeiro stint, mas que seja melhor que os outros depois.”

Como nem só de Ferrari vive a F-1, na Sky a informação é de “a estratégia mais rápida é com uma parada, mas você tem de fazer os pneus durarem nas três ou quatro voltas antes do pit, que seriam o ponto mais delicado”, como explica Croft. “Como é um circuito muito extenso, você tem que parar na volta certa, senão terá de dar mais uma longa volta. Não dá para errar aqui”, destaca o comentarista Martin Brundle.

Para quatro pilotos, no entanto, não haveria tempo de comprovar qual seria a melhor estratégia. Romain Grosjean fecha Lewis Hamilton que, sem controle de sua McLaren, atropela Sergio Perez e Fernando Alonso, enquanto Kamui Kobayashi escapa sabe-se lá como. “A esperança de Alonso pontuar em 24 provas seguidas acabou em menos de 260m. Foi um acidente muito feio”, observa Croft. “Sorte de quem está lutando pelo campeonato, porque Alonso está fora”, destaca Galvão.

Na Antena 3, a primeira reação é de perplexidade, que logo se torna um clima de enterro. “Foi Hamilton que fez confusão”, o narrador Antonio Lobato não se conforma. “Que oportunidade para Vettel”, vê Gené. “Grosjean o fechou, ele teve de ir para a grama e perdeu o controle”, resume o comentarista, enquanto Lobato segue culpando o inglês e sua “largada precipitada” até ver o replay e voltar atrás. “Peço desculpas, pois a culpa foi 100% de Grosjean. Hamilton foi um dos passageiros involuntários do desastre”.

Para Jacobo Vega, “a queimada de Maldonado atrapalhou todos”. O detalhe foi observado rapidamente por Martin Brundle – “a largada foi boa demais, não se ultrapassa duas filas de F-1 apenas com uma boa largada” – e Luciano Burti – “queimou feio”.

Gené se impressiona mais a cada replay. “Além de tudo, deve ter levado um tranco forte nas costas. É por centímetros que não pega suas mãos ou a área do capacete.” Lobato apenas suspira e repete “Madre mia”. Na Sky, Brundle segue a mesma linha. “Grosjean veio cobrir Hamilton, que não pôde e não iria ceder. Tenho de dizer que foi culpa do Grosjean. Que acidente assustador. Fernando deve ter sofrido um impacto muito forte quando aterrissou. Nem quero ver mais vezes. Ele parece não ter noção de espaço dentro de seu carro. Acho que é o quarto acidente de largada de Grosjean. Ele não deixou o espaço suficiente para Lewis.”

Na Globo, o foco é em Grosjean. “Foi uma das maiores lambanças que eu já vi”, diz Galvão. “ele joga para cima do Hamilton, não recolhe, bate no Perez, no Alonso e volta a bater no Perez. Fala-se do Maldonado, mas esse apronta mais ainda. Quero ver o que vai acontecer porque o Grosjean é tratado como francês e com o Maldonado é diferente porque ele é da Venezuela”, o narrador, que pede a suspensão do piloto da Lotus, não se conforma. “Ele já fez várias de bater na primeira volta. Dessa vez passou a um palmo da cabeça do Alonso”, completa Burti.

Mas há muita corrida pela frente, embora os espanhóis não pareçam muito animados. Lobato, inclusive, prevê uma corrida muito complicada para Button e destaca que Alonso, mesmo com o abandono, sai líder da Bélgica. Britânicos e brasileiros, por outro lado, têm outros destaques para dar. “Bruno Senna sai de 17º para oitavo”, comemora Galvão. “Ele está segurando Webber e Vettel assim como fez na Hungria.”

Na Sky, destaque para a Force India, Senna e Kovalainen e certa má vontade com a Red Bull, que “não está funcionando muito bem”, para Brundle. “Há uma diferença de 10km/h mesmo com Webber usando a DRS. Eles estão frustrados porque querem aproveitar a oportunidade com Alonso fora, mas estão em posições intermediárias”, enxerga Croft.

Na luta pelas primeiras posições, Schumacher surpreende ao ultrapassar Raikkonen, em “uma batalha de pesos pesados de Spa, Schumacher com seis vitórias e Raikkonen com quatro”, como destaca Croft. “Grande manobra de Schumacher, espremeu o Kimi, que teve de ceder.” Os brasileiros também se impressionam, com direito a confusão de Galvão. “Schumacher, que parecia fora de qualquer possibilidade, se aproveitou e se colocou na briga. Ele e o Kimi já brigaram aqui, cada um passou de um lado”, lembra, trocando os finlandeses.

Senna, cuja performance à frente das Red Bull era importante para o narrador porque “Maldonado traz um caminhão e meio de dinheiro”, acaba cedendo à pressão, mas o discurso muda e Burti acha que o compatriota foi bem. “Às vezes é melhor deixar passar, senão você começa a perder muito tempo.”

Mas quem merece atenção de espanhóis e de britânicos é a Red Bull. Na Sky, estranham que Webber ganhe a prioridade e pare primeiro. Porém, na volta 14, começam a acreditar que Vettel pode parar apenas uma vez. Na Antena 3, com as possibilidades estratégicas voltadas na informação da Ferrari, demoram até a volta 23 para atentar a isso. Antes, Lobato acha que Vettel perde “segundos muitos importantes” permanecendo na pista e que será “impossível” agüentar até o final. Já Burti começa a acreditar que é possível parar uma vez na volta 19 de um total de 44.

As contas são atrapalhadas pela confusa entrada de box de Schumacher, que parecia disposto a defender sua posição com Vettel até o último instante. “Como Michael se arriscou aqui! Ele nunca deveria ter feito isso. Nunca! Não se tocaram por muito pouco”, exclamou Gené. “Atormentou a vida do Vettel até para entrar no box. Mas imagina se o Elizeo Salazar teria peito para pedir para o Charlie Whiting punir o Schumacher?”, questiona Galvão. “Ele sempre joga pesado. Planejou tudo só para atrapalhar o Vettel”, emenda Burti.

Os britânicos têm outra versão, ajudada pela ordem recebida por Vettel via rádio, de que fizesse ‘o contrário de Michael’. Ou seja, se o alemão parasse, deveria continuar na pista. “A equipe pediu a Vettel que fizesse o contrário de Schumacher, mas parecia que ele estava defendendo a posição e não entraria”, acredita Croft.

Brundle ri da facilidade com que as Red Bull ultrapassam as Toro Rosso, ao contrário dos demais, que tinham dificuldade em superar a velocidade de reta de Ricciardo e Vergne. Enquanto isso, na Espanha, a secada em cima de Vettel continua. “Ele pisou na linha?”, pergunta Lobato quando o alemão sai do pit. Algumas voltas depois, a parada única passara de “impossível” para decisiva. “Vettel e Button são os únicos que podem ir a uma parada. É por isso que Button não pode relaxar”, observa Gené.

Gené foca na corrida de Massa e na possibilidade do brasileiro ajudar Alonso tirando pontos dos rivais. Já Brundle procura substitutos para o piloto da Ferrari. “Se eles precisarem substituir Massa, o que francamente parece bastante provável, devem estar olhando Hulkenberg e Di Resta. Até porque Perez diz que não está interessado e voltou a falar bem da Sauber.” Para Galvão. “Domenicali e Montezemolo estão esperando uma boa performance para renovar. Não é oficial, mas depende disso.”

Se a secada em Vettel não funciona, espanhóis passam a pedir que Webber seja punido por unsafe release com Massa. Quando veem que vai ser investigado depois da corrida, Vega diz que “se é assim é porque vai ser multa”, para revolta de Lobato. “É só ver o que aconteceu. Não faz nenhum sentido julgar depois.” O narrador não melhorou o tom de enterro desde a largada. “Que estranha essa corrida. Parece que faltam nomes.”

Mais uma vez o foco se muda para a briga entre Raikkonen e Schumacher, cuja velocidade de reta dificulta a vida do finlandês. “A Lotus é um dos carros com maior carga aerodinâmica e isso o ajudou na classificação, mas parece que não era o certo para a corrida”, observa o repórter inglês Ted Kravitz. Mas Kimi não se rende e ultrapassa na entrada da Eau Rouge. “Para quem dizia que isso era impossível, é o segundo ano seguido com ultrapassagem na Eau Rouge”, destaca Croft. “Não sei se Michael bateu no limitador, porque ele estava muito lento na saída da La Source”. Brundle não se impressiona muito com a manobra. “Hulkenberg vai passar também porque Michael nem está acreditando no que Kimi fez”, se diverte Lobato. “Quando ele terminar a corrida, terá de agradecer Michael por não ter entrado junto na curva. Há muitos e muitos anos, Stefan Bellof morreu em um acidente justamente desse jeito”, emenda Gené.

A manobra levantou os brasileiros. “Foi uma manobra inteligente porque ele passou depois do ponto de detecção da DRS para poder usar a asa depois de passar”, vê Burti. “É de arrepiar”, emenda Galvão.

Schumacher e Senna, dois dos pilotos que tentavam ir a uma parada, têm de desistir e Burti evita atacar diretamente a Williams. “Eles sabem o que fazem, mas pararam cedo demais para um pit”, ao contrário de Galvão, que diz que a equipe “errou na tática após grande corrida de Bruno”. No final das contas, o brasileiro parou por um furo no pneu.

Todos quase esquecem de Button lá na frente. “Ele vem fazendo um campeonato de altos e baixos, ganhou a primeira corrida, ficou pontuando baixo e agora voltou”, resumiu Reginaldo Leme. Lembrando disso, os britânicos até brincam com sua velocidade atual. “Ele usou o maiô da Jessica [sua namorada] para fazer um triathlon porque tinha esquecido o dele e, desde então, começou a andar rápido. Deve ser seu segredo”, diz Brundle. “Deve ter feito com que entrar no cockpit se tornasse mais fácil”, emenda Croft. Voltando à realidade, o comentarista aponta que foi uma performance “de quem provou que ainda não está pronto para ser segundo piloto na McLaren”, além de destacar “a surpresa do dia, Sebastian Vettel.”

No entanto, Reginaldo lembra que “o resultado é muito bom para Vettel, mas a Red Bull não dá sinais de que pode brigar”, e salienta que o desfecho é “muito bom para o campeonato e coloca o Kimi na briga.”

Para Lobato, “a verdade é que não é ruim que Button ganhe esse GP. O que é ruim é que Vettel esteja em segundo após uma grande corrida e Raikkonen seja terceiro”. O finlandês, inclusive, é destacado por Gené. “Não diria que foi o grande derrotado, mas acredito que Kimi esperava mais.”

Antecipando a próxima etapa, Burti acha que será difícil tirar o doce da McLaren. “É a casa da Ferrari, mas eles devem andar bem. O Hamilton não deve errar novamente o acerto de classificação. O campeonato está aberto.”

5 Comments

  1. Adorei esse post! Muito original! Parabéns!

  2. Esse Antonio Lobato é uma piada. A corrida acabou pro cara na primeira curva. No mais, era só secando o Vettel, hahahahaha

  3. Julianne, alguma das outras TVs chegaram a tocar no assunto da bela disputa entre Glock e Pic?

    • Todos citaram, mas mais narrando a troca de posições. Acabei não colocando no final, mas um momento em que o Lobato deixou o clima de enterro de lado foi quando o De la Rosa estava disputando com o Kovalainen, algo que também foi mostrado.

  4. Ju,
    O Kobayashi foi atingido sim. Os carros desgovernados do Alonso e depois do Hamilton acertam o carro dele.


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