Reginaldo Leme, na Globo, imagina se, depois de quebrada a marca de 10 anos do pole vencendo na Espanha, Mônaco também não pode ver uma corrida diferente, enquanto Martin Brundle, na BBC, adota um tom poético. “Pode ser apenas pouco mais de 3km, mas Mônaco é o Everest dos pilotos. Os grandes sempre reinaram aqui”. E, neste ano, não há ninguém maior que Sebastian Vettel. “Ele é o favorito, mas devemos ter ultrapassagens”, Luciano Burti prevê.
David Coulthard, não acredita que a classificação mostrou toda a verdade de quem é quem. “Mas Vettel está em grande forma.” Refere-se a Hamilton que, como é destacado na La Sexta, “vai largar com macios porque está fora de posição”, fato que passa despercebido na Globo – apenas na quinta volta Burti se dá conta da estratégia diferente. “A Fia liberou Hamilton para começar com o pneu que quisesse e ele escolheu o macio porque não tinha super macio novo”, explica Brundle.
Na largada, o narrador espanhol Antonio Lobato destaca Rosberg e Alonso – que “quase passou Button”, para o comentarista Marc Gené – e, negativamente, Webber e Schumacher. Brundle confunde as Mercedes, acha que é Michael quem largou bem, enquanto Galvão Bueno se anima com ultrapassagem do heptacampeão sobre Hamilton. “Ninguém nunca ultrapassou ali”, afirma quando aparece o replay da manobra na Loews. Ao explicar porque o inglês estava tão abaixo no grid, o narrador diz que ele “não completou volta” na classificação.
A ultrapassagem de Schumacher também anima os ingleses. “Ele passou Lewis no hairpin!”, exclama Brundle. “Isso é algo que nunca vi. Pegou Hamilton cochilando”, completa Coulthard. “Aí precisa da complacência de quem vai à frente porque não tem espaço”, Pedro de La Rosa parece que estava adivinhando. A dupla britânica percebe que ambos haviam se tocado na primeira curva, o que explica a necessidade de Schumacher trocar o bico voltas depois.
Hamilton daria o troco, também num local de ultrapassagem dos menos convencionais, na Saint Devote – Gené acabara de dizer que o único trecho que acreditava ser possível era na saída do túnel. “Aplausos. É uma curva difícil para se passar”, observa Coulthard. “Ele veio ensaiando isso, Tinha o benefício da asa. Michael não facilitou, mas respeitou o espaço de Lewis”, observa Brundle. “A asa ajudou muito. É uma coisa do temperamento do Hamilton. Ele tomou uma ultrapassagem que todo mundo ia falar, então foi pra cima de qualquer jeito”, Galvão ainda teria um prato cheio naquela manhã. “Faz tempo que eu não via uma manobra aí”, afirma Reginaldo. “Michael foi limpo”, define Lobato. “Conhecendo Michael e o que ele fez com Barrichello, foi limpo dessa vez.”
Falando no brasileiro, ele seria o próximo a ter o gostinho de superar o heptacampeão, em dificuldades com os pneus por ser, junto de Webber, um dos pilotos que mais desgasta os pneus, como é destacado pelos espanhóis. “É uma coisa especial. Já ganhou a corrida dele”, diz Galvão. “Assim como têm sido especiais os briefings. Cada hora um interrompe o outro, sempre discutindo”, emenda Reginaldo. Os estrangeiros também captam o momento. “Ele vai sorrir de orelha a orelha”, acredita Brundle. “Barrichello está descontando nesses últimos dois anos tudo por que passou na Ferrari com Michael.”
Agora é Massa quem parte para cima de Rosberg e perde um pedaço da asa dianteira. “Ele foi muito bobo. Não vai passar na subida do cassino. Por que chegar tão perto? Parece que os pilotos da Ferrari não sabem onde termina a asa”, Coulthard lembra do toque de Alonso em Hamilton na Malásia. Sem maiores problemas de performance, Felipe logo faz a manobra. “Aqui se passa muito na decisão”, diz Reginaldo sobre ultrapassagem classificada de “corajosa” pelos ingleses.
Todos se animam com o primeiro erro da Red Bull nos boxes na temporada. Burti e o repórter inglês Ted Kravitz culpam as mudanças de procedimento que a equipe teve que fazer para despistar a Ferrari. Na La Sexta, imaginam que o problema seja parar ambos os pilotos na mesma volta. “Webber está perdendo um minuto”, conta Gené. “Como o tempo passa rápido para você”, brinca De La Rosa. Foram pouco mais de 30s. “Agora virou bagunça”, diverte-se Galvão.
Na Globo, há uma demora para observar diferenças entre os compostos de pneus dos líderes. Ingleses e espanhóis começam a não entender a estratégia. “Não entendo porque deixar o super macio para o último stint. Isso é Mônaco, eles precisam privilegiar a posição na pista”, diz Coulthard, enquanto De La Rosa vê duas lutas: “uma de três paradas pela vitória e outra de duas para o resto.” Lobato não gosta nada. “O problema é se sair um Safery Car na hora errada.”
Falando em duas paradas, na Globo começam as contas para determinar onde Felipe Massa terminaria, já descontando os 20 e poucos segundos da parada a menos que faria. “Voltaria entre Vettel e Button. A posição de Alonso ganha com certeza.”
Algumas voltas depois, De La Rosa raciocina melhor sobre estratégias. “Vettel e Alonso colocaram pneus macios porque querem fazer duas paradas. Se Button soubesse que Vettel colocaria os macios, também o faria”. Os ingleses acham que só quem parou a partir da volta 25 pode tentar fazer só um pit.
Os cálculos são interrompidos por outra manobra na Loews, desta vez sem final feliz, entre Hamilton e Massa, mesmo que Coulthard tivesse acabado de dizer que o brasileiro seria mais fácil de ser ultrapassado do que Schumacher. Todos acham que o inglês será penalizado. “Di Resta acabou de levar um drive through por algo parecido. Eu já passei carros aí, mas você precisa de um parceiro. É menos que 50/50%. Se você se joga, é 75% de chance que vai bater”, opina Brundle. “Foi uma ultrapassagem um tanto atrapalhada.” Gené acredita que o inglês será punido, mas afirma que, para ele, é acidente de corrida.
Galvão e Reginaldo são mais duros que os ex-pilotos. “Ele me dá a impressão de se achar superior e, quando perde, a culpa é do outro”, diz o narrador. “Parece que enganchou no Felipe e ficou tentando levar ele para fora”, completa o comentarista. “Coisa de corrida”, Burti não para de repetir. “A punição tem que sair antes do Hamilton aprontar outra”, diz Galvão que, quando vê o anúncio do drive through, já se defende. “Não falei antes porque iam dizer que sou contra ele. Mas tinha convicção de que seria punido. Ele toma atitudes antidesportivas e usa as entrevistas para botar pressão. Ele adotou uma postura antiética, acha que estão todos contra ele.”
Isso foi depois que Hamilton acusou Massa de ter batido de propósito. Coulthard achou graça. “Só falta falar que ouviu Massa dando a ré”, brinca Brundle.
Burti prefere focar na disputa pela ponta e é o primeiro, das três transmissões, a ver que Alonso quer ir até o final sem parar. “É o único jeito de Vettel perder essa corrida”, crava. “É difícil, mas não impossível.”
Até o momento, ninguém crê que Vettel possa fazer o mesmo. Quando o alemão segue na pista durante o Safety Car, De La Rosa vê um “erro importante”. E, sobre Fernando, assegura que “não termina nem de brincadeira”. Os ingleses acham que corrida está indo para as mãos de Button, mesmo com Kravitz interrompendo algumas vezes para dizer que Alonso não para mais. Enquanto isso, na Globo, Reginaldo vê que “a McLaren jogou fora chance de vitória quando Button colocou segundo jogo de pneus super macios.”
Quando Button faz a terceira parada, só na Globo estão convencidos de que Vettel e Alonso não param mais. “Agora o pneu de Vettel vai estar um caco, o de Alonso um caco um pouco melhor e o Button vai chegar”, resume Galvão.
Na BBC, não entendem porque Vettel não cobriu a parada de Button. “Será que eles estão pensando em Alonso e defendendo a segunda posição? Se ele não parar, corre o risco de ser terceiro”, Brundle não entende a jogada. “O único jeito de ele ganhar a corrida é não parar”, constata Coulthard.
É a mesma conclusão que os espanhóis têm, ainda que De La Rosa insista que é impossível. “O raciocínio da Red Bull é, vamos ficar com o pneu desgastado, mas ele vai ter que passar na pista. Enquanto a McLaren pensou em ter carro mais rápido. Agora está nas mãos de Button. Vettel e Alonso estão entrando em território desconhecido com os pneus”, afirma. “É impossível, é perigoso”, diz Gené. “A pergunta é, se Alonso conseguir fazer os pneus durarem, ganha a corrida. Vettel vai ter que parar”, acredita De La Rosa. “A Red Bull está tentando algo muito maluco para mim”, admite Brundle.
Com o gran finale se moldando, ingleses e brasileiros lembram do duelo entre Senna e Mansell em 1992, quando Ayrton segurou o ‘Leão’. Em ambas as transmissões, observam como Alonso perde para Vettel por falta de tração. “É o escapamento da Red Bull. Isso pode salvar a corrida de Vettel”, percebe Brundle.
Na volta 69, Kravitz avisa que, na McLaren, esperam que em três ou quatro voltas os pneus de Vettel acabem. Não pudemos comprovar a informação, quando a corrida é interrompida após um verdadeiro strike na piscina. “Sutil quase foi nadar”, brinca Brundle. “Isso beneficia Vettel”, se apressam os espanhóis. “Ele participou de quase todas as confusões, ele joga pesado, mas dessa vez não teve culpa”. Sim, Galvão falava de Hamilton.
A bandeira vermelha traz uma série de dúvidas para todos. Lobato e Brundle vão para o regulamento e tiram a conclusão de que o trabalho para reparar a asa traseira do carro do Hamilton é legal, mas que não se pode trocar pneus. Logo vem Ted Kravitz para salvar os ingleses. “Conversei com alguns engenheiros e eles falaram que pode até colocar carinha feliz no bico do carro. Pode fazer de tudo.” Na Globo, o casamento do Príncipe Albert fica de lado quando Galvão e Burti avistam os pneus novinhos – bom, quase – nos carros de Vettel e Alonso. “Eu fiquei olhando para o Burti e ele para mim.” Tratam do assunto como se a regra tivesse mudado. “É uma vantagem. Discordo totalmente”, diz Burti. Na La Sexta, também observam, mas com tom de resignação. “Permitiram que se trocasse. É uma grande vantagem para Vettel”, diz Gené. “Se fosse para recomeçar a corrida para ver isso, era melhor terminar como estava antes.” Para De La Rosa, “Vettel começa a ter a sorte de campeão.”
A corrida recomeça e Hamilton é protagonista novamente. “É outra penalização. A Williams precisava tanto desses pontos!”, diz Brundle. “Advinha quem estava atrás do Maldonado? Ele se envolveu em 110% dos acidentes!”, exclama Galvão. “Acho que a culpa é de Hamilton, não tinha espaço. Acabou com uma ótima corrida de Maldonado”, diz Lobato, entre risos dos comentaristas.
Não há mais tempo para muita coisa. “Todos os problemas dos outros (Safety Car e bandeira vermelha) ajudaram Vettel e Alonso”, define Brundle. “Acho que a Red Bull jogou no escuro.” Já Galvão encontra outra explicação. Burti havia dito minutos antes que, em Mônaco, a polícia não deixa andar sem sapato e camisa. “Vettel estava descalço antes da bandeira vermelha. Vai ver aqui não pode andar descalço.”
“Foi uma corridaça que poderia ser uma super corridaça. Tudo bem parar a corrida pela lesão de um piloto, mas deixar eles trocarem os pneus interferiu no resultado final”, De La Rosa resume o sentimento dos espanhóis.
Na cerimônia do pódio, é a vez dos comentaristas da BBC falarem do casório. Brundle pergunta ao morador de Mônaco Coulthard se ele foi convidado. “Surpreendentemente, dado o tamanho deste lugar, o convite se perdeu pelo correio.”
15 Comments
Tá de parabéns, muito bom texto.
Ju,
Ótimo trabalho, como sempre!
Essa corrida conseguiu dar o nó na cabeça de todos os comentaristas.
Parabéns à Pirelli e seus pneus malucos.
Abs.
Excelente matéria, continuem assim. É a minha preferida do site.
Essa de poder trocar os pneus e asas, com bandeira vermelha acabou com todas as estratégias . Mais uma burrada na formula 1. Quem parou no pit se prejudicou muito, que foi o caso de Barrichelo. Qual o sentido de um regulamento permitir isto com corrida interrompida? Quem usou a estrategia errada foi beneficiado.
Porque não acabar a corrida naquele momento ao invés de permitir zerar todos os problemas dos carros e termos mais 5 voltas somente?
Essa corrida foi a corrida do “Malha-Hamilton” para o trio de patetas da Globo.
É irritante, chega a dar nojo. Dá vontade de esgoelar esse imbecil desse Galvão Bueno.
Depois das declarações do Hamilton, pode esperar que o Galvão vai falar dele daqui até o fim da temporada!
Sensacional o texto! Parabéns! 🙂
Parabens Ju! Mas que trabalhao!
Agora com os pneus Pirelli e as varias possibilidades nas corridas, o seu trabalho para escrever estes textos das transmissoes deve ter aumentado bastante, nao?
Bjs!
Sim, agora tem mais coisa para anotar, com certeza! Também não sei se vocês têm percebido, mas acho que o fato das corridas estarem mais movimentadas faz com que a quantidade de comentários dispensáveis/torcida diminuam.
Com certeza! Apesar de alguns comentários equivocados, o nível das transmissões melhorou (um pouco) sim. Agora eles não precisam encher tanta linguiça e os narradores (Galvão e Lobato) estão realmente precisando da ajuda dos comentaristas/pilotos para não ficarem tão perdidos.
bjs e parabéns (de novo) pelo excelente trabalho!
O povo fala muito mal da transmissão da globo, mas desta vez sua comparação deu a entender que foi melhor que as estrangeiras, fora a confusão quanto a regulamento. Mas neste caso nem os pilotos sabiam direito o que podia ou não, só a transmissão da band-fm com um tal de Fabio Seixas é que acertou de imediato.
Tenho que deixar um elogio aqui, pq esse post é sempre muito divertido. Parabéns pelo trabalho!
Nossa, parabéns Juliane. Esse quadro é totamente diferente de tudo que já ví e é bem interessante porque vemos as diferentes reações de narradores durante a corrida e até nós com as reações deles, quando lembramos das cenas passamos a ter meio que um sentimento diferente!
Super original, criativo. É interessante e desperta uma “fome” de leitura, ao misturar humor e jornalismo esportivo. Mandou muito bem!!!!
Hehe, tem cada pérola!!! O trocadilho de Brundle foi mt bom: “o Everest dos piltos”
Dos estrangeiros, até que vai, mas esse negócio do Galvão dizer: “É uma coisa especial. Já ganhou a corrida dele”, não é legal… nem para os torcedores e nem para ele próprio (Barrichello).
Da a impressão que o Rubinho só corre com o Alemão. Ganhar?! Só se for do Schumacher! Ultrapassar?! Só se for o Schumacher!
Fora as vezes em que ele comenta que o Rubinho se diverte na F1. (Aff!) Todos competindo, querendo um lugar ao pódio, e só o Brasileiro no parque de diversões?!
Isso é diminuir ainda mais um cansado piloto de F1.
É nessas horas que gosto de ver a entrevista do Nelson Piquet.
* http://www.youtube.com/watch?v=XQD8wJG0wMM
E muito legal a postura do Ferrarista Gené no caso ‘Hamilton x Massa’, mas em minha opinião, o Inglês jogou o carro pra cima do Brasileiro, sem chance… Imaginem se todos fizessem isso…
* Aconteceu algo parecido na MotoGP, entre o Italiano Simoncelli e o Espanhol Dani Pedrosa.
Tem que ultrapassar, mas com cautela, não a qualquer preço.
E essa regra de trocar no grid tem que ser abolida, pois após isso, a emoção acabou. Simplesmente acabou. Foi mais feio do que se terminasse em Safety Car.
Abs.