Nem os espanhóis da La Sexta acreditavam no título de Alonso já no GP do Brasil. Tanto, que a La Sexta começa a transmissão da corrida explicando que “o mais lógico é que a decisão vá para Abu Dhabi”. A BBC inglesa segue a mesma linha, torcendo por mais uma reviravolta, como na Coréia. “Se há um circuito que pode dar emoção, é este”, destaca o narrador Jonathan Legard, para logo emendar. “Numa das maiores cidades de mundo, com tantos arranha-céus quanto contrastes, como Jenson Button percebeu ontem”, lembrando da tentativa de assalto. “A torcida brasileira é diferente, os estrangeiros adoram”, garante Galvão Bueno. Para o narrador espanhol Antonio Lobato, contudo, “há alguns setores da arquibancada contrários a Fernando.” Mas ele custou a acreditar, como mostra o vídeo:
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Mas o principal assunto antes da largada é Hulkenberg, que “estava na hora certa e no lugar certo” na classificação, para Lobato, ou “conseguiu aquecer melhor os pneus”, para Luciano Burti. De qualquer maneira, o mais importante é, como frisa Legard, que “ele tem a posição ameaçada na Williams, mas na F1 currículo se escreve na pista e foi o que fez ontem.”
O problema é que, como salienta o comentarista Martin Brundle, “Hulkenberg tem o 6º ou 7º carro mais rápido no seco.” Reginaldo Leme aposta que as duas Red Bull se livrarão do alemão com facilidade. E acerta ambos: o nome da equipe, que sempre tinha sido RBR única e exclusivamente na Globo, e o cenário. Enquanto os espanhóis perdem a manobra de Webber, mais preocupados com o duelo entre Alonso e Hamilton.
Foi só Galvão dizer que o inglês, mesmo com a pressão, “faz a tomada certa do Lago. É outro em relação a 2007”, que Hamilton espalha e cede a posição ao líder do mundial. Na BBC, lembram da cena semelhante na Coréia e Brundle fala em “quase um erro não forçado”; na Espanha, Lobato afirma que Alonso “deixou Hamilton nervoso e provocou” o equívoco.
O espanhol vai para cima de Hulkenberg e o comentarista Marc Gené, da La Sexta, aposta que passar a Williams será mais fácil “porque tem menos motor”. Mas o alemão aprendeu rapidamente a se defender em sua 1ª prova em Interlagos. “Se ele ficar por dentro na 1ª curva, vai ficar difícil alguém passá-lo”, aposta Brundle.
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Dito e feito. Alonso demora 5 voltas para superar Hulkenberg, e o faz arriscando muito mais que com Hamilton. “Agora vamos começar a cantar: ‘a por ellos’ (pra cima deles)”, Lobato se empolga, enquanto Galvão lê o pensamento do espanhol. “Agora ele começa a apostar em problemas nos carros da Red Bull.” Com a teoria de que a ultrapassagem foi uma demonstração de “categoria e experiência”, conclui que a vida de Massa, que também está atrás de uma Williams, só que de Barrichello, será mais difícil “porque Rubinho é mais piloto que Hulkenberg.” Até quando o menino larga da pole com 1s7 de vantagem…
Os ingleses torcem por Hamilton, mas se frustram com as reclamações do inglês, de que não tem aderência. “É algo que ouvimos muito dele, mas não há o que a equipe possa fazer”, aponta Brundle. Quando, mais ao final da prova, Lewis aparece se queixando de que o duto aerodinâmico não está funcionando, o comentarista é ainda mais duro. “Ele parece uma criança frustrada com seu presente de Natal.”
Galvão não para de elogiar Interlagos, o que é justo, mas exagera um pouco quando fala do “engenheiro” (e eu que achava que era arquiteto) Hermann Tilke, que “não mede forças para estragar a F1”. Já ouvi o narrador elogiar Malásia, China, Turquia…
Espanhóis e ingleses lamentam problema no pitstop de Barrichello e destacam a má sorte do brasileiro correndo em casa, enquanto Galvão o ignora, preferindo criticar a parada da Ferrari, “que sempre tem algum probleminha para trocar pneu”. Isso porque a parada havia sido de 3s3. Depois que Massa volta ao pit porque de fato havia um problema, o narrador se adianta. “Eu já tinha visto algo errado no traseiro direito”. Era no dianteiro. E os espanhóis perceberam logo no 1º setor após a volta que o brasileiro tinha problemas.
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O narrador também se atrapalha com a verdadeira posição de Button. Quando vê ele passando Petrov, diz que é Kubica. Logo depois, a imagem mostra o polonês atrás de Hulkenberg (ambos haviam voltado de parada), do russo e do inglês, que “vai passando todo mundo”. Voltas depois, credita à estratégia as 6 posições ganhas pelo campeão de 2009 e destaca que “era para Massa estar junto dele, não fosse a Ferrari.”
Falando no erro do pitstop “rápido demais”, para Burti, os espanhóis respiram aliviado. “Ainda bem que não foi o Fernando que foi antes. Isso aconteceria com o primeiro que parasse”, analisa Gené.
Na La Sexta, aliás, muito se fala em jogo de equipe durante a transmissão, assunto que só aparece na volta 22 na Globo e na 29 na BBC, quando se aproximam as paradas das Red Bull. “O normal é que eles troquem de posição. Afinal, como dissemos na Alemanha, é um esporte de equipe, mas como iriam justificar na mídia depois de tudo o que falaram?”, Lobato questiona, esquecendo-se (e isso só é citado ao final da prova) de que Vettel ainda está na briga. “Mas e o que fizeram na Turquia, em Monza, no Japão?”, o comentarista Jacobo Vega deixa no ar.
De certa forma, os espanhóis torcem para que haja inversão, o que provaria que a Ferrari estava correta. No entanto, como revela Lobato, não é o que seu piloto pensa que vai acontecer. “Pelas contas de Fernando, ele precisa de um 3º aqui e um 4º em Abu Dhabi”. Em outras palavras, acredita que a Red Bull não deixará Webber ganhar.
Até o australiano parece resignado, a julgar pelas palavras de Burti. “Conversei com ele na sexta e ele me contou que a equipe vem prometendo ajudá-lo há umas 5 corridas. Ou seja, não vai.” E Galvão, com seu costume de adivinhar pensamentos, ainda dá um furo mundial. “O chefe da equipe quer fazer a troca, o dono da empresa é que não deixa.”
Na BBC, a palavra de ordem da equipe é que, “enquanto Vettel tiver chance, ele não cederá. De fato, seria difícil justificar a decisão para Sebastian, mas isso coloca o título em risco”, avalia Brundle. “Por um lado, é louvável a atitude, mas, se fosse Vettel à frente no campeonato, o time o privilegiaria”, completa Reginaldo. Ninguém duvida disso.
Mas não parece que foi uma decisão fácil. “Estou vendo muita discussão no pitwall da Red Bull, algo fora do normal e que aconteceu o final de semana todo”, observa o repórter Ted Kravitz. “O clima é de muita tensão.”
Quando os ingleses começam a estudar como Hamilton poderia passar Alonso, a McLaren o chama para o pitstop. Tinha uma preocupação diferente. “Estão parando muito antes do que queriam para que ele volte à frente de Button”, Kravitz apura.
“Temos que observar a diferença entre Vettel e Webber antes do pit”, Lobato não se convence de que não haverá troca no Brasil. Mas logo observa que o alemão voa na pista. “Não vai ter nenhuma história estranha.” Agora o que era natural virou estranho? “A tendência é acontecer nessa 2ª parte o mesmo que na 1ª. A Red Bull vai render mais no início, depois seus pneus vão se degradar mais rápido e Alonso será mais rápido no final”, Gené acerta.
Mas o piloto de testes da Ferrari não contava com uma insistente mensagem de rádio para Webber de que seu carro tinha superaquecimento, o que é recebido com um pé atrás por espanhóis e ingleses, e é ignorado na transmissão brasileira. “Se eles não querem trocar posições, também não podem impedir Webber de ir para cima”, questiona Brundle.
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A briga que a Red Bull quer impedir que aconteça, Galvão quer criar. “Tá pintando Alonso campeão. Tô vendo os dois se enroscando!”, mesmo que a diferença nunca tenha sido inferior a 1s5.
Mesmo o Safety Car que, segundo Galvão, “significa que os dois vão andar colados”, não provoca uma briga direta. Os protagonistas, então, viram os retardatários, numa missão difícil de saber quem é quem no meio das bandeiras azuis. Os espanhóis se revoltam com Sutil, que bloqueia Alonso, e são mais condescendentes com o compatriota Alguersuari, que empurra o líder do mundial no muro. Os brasileiros também veem o asturiano ser prejudicado, mas Galvão considera a manobra do piloto da Toro Rosso normal “porque ele tem o mesmo patrão da Red Bull”. E dane-se a lisura esportiva.
A confusão faz com que o narrador brasileiro veja Massa indo para cima dos rivais, primeiro quando Rosberg, uma volta à frente, se confunde e o deixa passar, e depois, quando Petrov o ultrapassa por fora no S do Senna. “Pelo menos ele está lutando”, se consola. Não é o que veem os colegas estrangeiros. “Massa foi aqui o que Sutil foi na Coreia”, Vega pega pesado. “Ele teve uma corrida movimentada”, Brundle é mais polido.
A mesma briga que Galvão tenta criar entre os Red Bull, Lobato inventa entre Alonso e Webber. Aos berros, diz a 8 voltas de final que falta muita corrida e que dá para chegar.
Não daria e, ao final, enquanto os ingleses falam da genialidade de Newey, Galvão precisa do alerta do repórter Carlos Gil para ser informado de que a Red Bull acabara de vencer o mundial de construtores. “Era óbvio que esse título era deles”, diz Gené, em tom resignado. “O estranho seria perder o de pilotos.”
O engraçado é que ninguém aposta em Webber ganhando a corrida final, todos veem a necessidade de jogo de equipe. “Eles terão que fazer algo que criticaram muito”, Lobato repete, como um mantra.
16 Comments
esses posts comparando as transmissões são o que há de mais legal de ler sobre fórmula 1 na internet.
a propósito, tá num ritmo alucinante com o blog, hem, Julianne!
tambén, com uma final de campeonato dessas… mas confesso que vou precisar descansar – embora eu e o Thiago do Café com F1 tenhamos um projeto ambicioso para as férias.
ah! e provavelmente são os posts que dão mais trabalho sobre f1 na net…
há o jogo de equipe visível e o jogo invisível! ultrapassagem facilitada, visível! preferência, invisível, interno! piloto lidera, e o perseguidor, da mesma equipe, bate no perseguido, e a equipe publicamente fala que o primeiro foi culpado, jogo invisível! asa por direito do líder do campeonato, dada ao companheiro com menos ponto, jogo invisível! é tudo uma questão de ponto de vista! agora ficar ouvindo achismos na hora da corrida, ninguém merece!!!
Comparar as transmissões inglesas, espanholas e brasileiras é muito interessante, principalmente para detectarmos o grau de insanidade existente na mente desses narradores e comentaristas…hehehehe A única coisa que eu acho é que deve dar um trabalho danado para organizar tudo isso no blog…bem, pelo menos ao meu ver…
É isso aí Julianne!
Abraços,
Juliana
Trabalho, dá, mas vale a pena para dar a dimensão de quantas corridas podem existir dentro de uma. É só uma questão de discurso.
Desde o GP da Itália, o Webber vem tomando chocolate do Vettel.
* “Acho” que esse seja o motivo. É engraçado e sensato ao mesmo tempo.
Ao contrário de muita gente, eu sempre disse isso… Que no dia em que o Vettel acertasse a direção, adquirisse maturidade dentro das pistas, o Webber não teria vez.
* Pra mim, o Australiano é um bom piloto, mas não chega nem aos pés do Alemão… É tipo Hamilton x Button.
§
** Deu uma caprichada contra o Galvão, hein!
Gn’R
A Red Bull mudou o carro e isso ajudou o Vettel. Não estou dizendo que isso é errado, é o trabalho deles, só informando o motivo de, sim, o alemão estar andando mais desde a Itália (não coincidentemente, desde os testes mais fortes no assoalho)
o Galvão é que capricha em GP Brasil. Prefiro ele de madrugada, quando ele sabe que está falando com quem entende mais.
Galvão ao Hermann Tilke, “não mede forças para estragar a F1”.
E o Jumento Bueno o que fez nos últimos anos para melhorar a imagem da F1 perante ao torcedor brasileiro? Desde que o macho dele morreu na Tamburello, ele só sabe jogar a F1 para baixo, o cara além de ser arrogante, prepotente, chato e muito burro não tem o mínimo de ÉTICA ao falar no microfone, esse imbecil adora destacar os erros dos pilotos(de fora) mas, e os VÁRIOS ERROS dele ao narrar uma corrida? Troca nome de equipe, erra nome de piloto, fica numa patriotada patológica ABSURDA pensando que a F1 é verde e amarela, DISTORCE os fatos na corrida, faz PRESSÃO em cima do R.Leme e Burt! Já passou da hora desse imbecil cair fora, nem a fama e a fortuna deixa esse imbecil contente, sempre tem que “disparar” em cima de alguém, queria ver se ele tem saco roxo para falar na cara do Schumacher ou do Alonso as besteiras que ele fala COVARDEMENTE pelas “costas”, Schumacher e Alonso em uma frase DERRUBA o Galvão. Detalhe, quando ficava almoçando na mesa da Ferrari como convidado, Galvão pagava o maior PAU para o alemão, Galvão é um baita cara MASCARADO!!! Haja PACIÊNCIA para aguentar o show de BESTEIROL dele até a aposentadoria!!! Hilário ver a torcida DESESPERADA do mala para ver Webber campeão, ele só se esqueceu que se Webber for campeão, vai ficar MUITO FEIO para o Rubinho, Button e Webber chegaram anos depois de Rubens a F1, Button já faturou um título, agora pode ser a vez de Webber! Button e Webber sempre foram considerados pilotos medianos, mas, Button chegou ao título em cima do Rubens, e Webber também pode escrever seu nome entre os campeões!!! Até D.Hill que muitos acham fraco foi campeão(coisa que não concordo), D.Hill que não fez “escola” no automobilismo(veio das corridas de motos)tem uma carreira cheia de vitórias, poles, M.Voltas e pódios…detalhe, D.Hill só participou de 115 largadas! D.Hill perto do Rubinho é “gênio”, basta comparar as estatísticas dos dois…
FORA GALVÃO!!!
Marcelo,
Aprovei seu comentário, mas peço que abaixe o tom. Dá para criticar sem ofender.
Ju foi cruel para os Espanhois esse Lobato é uma versão mais histriónica mais inculta, se possível fôr, mais fanática, dizem-me que em Espanha lhe chamam o Lobotomizado-parece mesmo que o cara foi “cirurgiado por lobotomia”..que um brasileiro que anda por aí..
Bacci
VÍDEO: Fernando Alonso e Felipe Massa na montanha russa
http://www.youtube.com/watch?v=l0oj1OLlyJA&feature=player_embedded
A cara do Alonso no começo do vídeo é sensacional, acho que ele pensou que ia morrer…rs
Ainda não tenho minha opinião formada sobre o Lobato. Acho ele engraçado, não me dá a repulsa do Galvão porque ele não tem aquele ar de soberba. Ele torce e distorce, é fato. Mas a F1 SÓ existe na Espanha por causa do Alonso. As transmissões começaram em 2003 por lá. Por aqui, digamos que a categoria tem mais “vida própria”. Muita gente que torce para pilotos estrangeiros ou assiste simplesmente porque gosta de corrida. Temos mais “cultura de F1”. Por isso acho mais feio o que o Galvão faz.
Como disse, são só divagações, ainda não sei onde situar o Lobato. Só sei que o Legard é péssimo e o Brundle toma o controle da transmissão. Quem sabe Reginaldo e Burti poderiam se espelham – e o Gené tb!
se espelhar
Eu sei que esse post é “velho” já e é um tanto sem sentido comentar nele, mas o Tilke não é arquiteto não, ele é engenheiro civil mesmo…
http://www.tilke.de/en/1_0/1_2/1_1.php
By the way, ótimo blog ^^
Bom saber. Isso até explica algumas coisas!