Ondulações à parte, todos estavam felizes em continuar em Silverstone depois de mais de um ano de incerteza. Com arquibancada lotada e uma parte nova, a “verdinha” para Luis Roberto, na Globo, os ingleses só não esperavam ver a McLaren tão atrás. “A F1 volta à casa do automobilismo britânico. A plateia espera uma ótima performance da McLaren, mas as atualizações que eles trouxeram não funcionaram e eles tiveram que voltar à configuração antiga”, o narrador Jonathan Legard começa a transmissão. “O carro deles é muito baixo e isso não deu certo junto do escapamento que joga os gases no difusor”, explica o comentarista Martin Brundle.
Falando em defender os seus, enquanto a Globo explica vagamente a ausência de Bruno Senna – “a equipe decidiu substituí-lo, mas ele volta na Alemanha”, se limita a dizer Luis Roberto, atitude semelhante à da BBC, ao passo que na La Sexta sequer tocam no assunto – os espanhóis vêem a transmissão focada em De la Rosa – “porque ele fez um milagre nos treinos livres, andou no mesmo décimo de Hamilton e Schumacher”, se anima o narrador Antonio Lobato.
Os ingleses estão até conformados com a mau rendimento de Button e não esperam que ele passe do Q2, mas não admitem que reclamem das ondulações de sua pista. Brundle avisa: “É só acertar o carro direito. Nenhuma pista é uma mesa de bilhar” e o comentarista da Globo, Luciano Burti, também tem sua receita. “O piloto vê onde tem a ondulação e evita virar o carro em cima dela.”
Problema de verdade, para Brundle e Marc Gené, comentarista da La Sexta, seria o vento, mas não o mesmo “ventinho camarada” de Luis Roberto, que Buemi recebe no rosto. É o que, segundo a BBC, atrapalha McLaren e Renault, carros mais sensíveis a mudanças de direção. Nesse ponto da transmissão, os espectadores ingleses já sabem sobre as diferentes asas dos carros da Red Bull, graças ao excelente repórter Ted Kravitz.
Os espanhóis se animam ao ver Alonso a 0.1s da Red Bull e o espanhol é apontado pela BBC como o único que pode enfrentar Webber e Vettel. Com o mesmo carro e, ao contrário do companheiro, de pneus moles no Q2, Massa nem chega perto. Na fase final da 2ª parte da classificação, os ingleses já começam a temer por ambas as McLaren. Enquanto isso, Liuzzi atrapalha Hulkenberg e arruína uma sólida possibilidade da Williams colocar os dois carros no Q3. “Merece punição. Não se faz isso”, acerta Burti.
Chega a hora da verdade e a tabela de tempos já mostra o óbvio: 1º, ninguém segura a Red Bull – “a não ser que se atrapalhem, vão ganhar fácil”, aponta Brundle –, 2º, Button, sem um carro perfeito, toma feio de Hamilton – “ele tem alguma coisa com Silverstone, nunca andou bem aqui”, diz Burti. E De la Rosa surpreende, para deleite espanhol. “Têm acontecido coisas estranhas com ele, mas chegou a hora da virada”, vibra Lobato.
Os ingleses buscam uma explicação para o desempenho de Button. David Coulthard comenta sua volta onboard e não encontra nenhum erro. “É só falta de confiança. Ele não tem aderência na traseira.” A conclusão é de que faltam testes, mas na verdade, o que eles não conseguem entender é como os grandes engenheiros da McLaren não conseguiram fazer o que os da Ferrari fizeram – e ainda por cima em menos tempo.
O Q3 começa e, assim como Cléber Machado na corrida passada, Legard se atrapalha com seu monitor que mostram quem vem fazendo tempo. “Massa está rápido, vem com todos setores roxos (mais rápidos da pista).” Sendo o 1º a fazer a volta, seria estranho se não estivesse. O brasileiro, aliás, continua seu calvário. Burti até tenta animar, torcendo para que ele melhore, sem ver que Massa já fez ambas as tentativas.
Os ingleses dão uma pitada de sua tradicional malhada em Alonso. “Um carro atrapalhou o final da volta dele e ele perdeu a cabeça, como em Valência”, diz Brundle, enquanto Gene revela que o asturiano não gosta da estratégia da Ferrari – que, de fato, pouco faz sentido – de classificar sem reabastecer, o que faz os vermelhos carregarem mais peso que os demais na 1ª tentativa e joga tudo para a 2ª.
Outro que nunca escapa das ironias britânicas é Schumacher, que, dessa vez, não escapa nem dos espanhóis. “Ele perdeu para o companheiro de novo, mas pelo menos ficou entre os 10”, solta Legard. “De la Rosa na frente de Michael! Muito bem! E Massa, com todo o respeito, muito mal”, completa Lobato.
Diferenças diplomáticas à parte, no final, outra vez Red Bull. Na BBC, o clima é de resignação. “Eles têm o controle de Silverstone. Não é a classificação que Button queria, mas vimos Kobayashi começar em 18º e andar em 3º”, lembra Legard, sem contextualizar. Na La Sexta, Lobato tenta a velha conversa ferrarista: “o carro rende mais em corrida”. “Não seria irreal ver Alonso em 2º na largada”, sonha Gené. Assim como na Globo, o telespectador espanhol sequer sonha que a equipe das latinhas está em ebulição interna, mas aqui o narrador acha que é Hamilton que está preocupado quando ele observa os tempos depois da pesagem. “Não teve estar concordando com o peso ou está convertendo de kg para pounds.” Haja coração.
2 Comments
Eu achei bem legal a mudança no traçado – uma reta a mais melhorou um pouco a prova…
Abraços!
Mesmo com algumas corridas chatas, sempre foi meu circuito preferido. Só sendo muito bom mesmo pra arriscar alguma coisa. Lembra de Hamilton e Alonso se pegando ano passado com duas carroças?