F1 Liberty mexeu na “perfumaria” até agora. Falta descascar os abacaxis - Julianne Cerasoli Skip to content

Liberty mexeu na “perfumaria” até agora. Falta descascar os abacaxis

De um lado, a Ferrari, por meio de seu presidente Sergio Marchionne, faz ameaças de deixar a F-1. De outro, Bernie Ecclestone diz que os últimos 12 meses foram apenas mais uma prova de que a democracia não tem vez na categoria, pois, em sua visão, a Liberty Media não conquistou nada.

De fato, em termos das grandes mudanças necessárias no esporte, realmente não era possível resolver nada em 2017. Afinal, Chase Carey e companhia não escondem que suas prioridades são mexer em dois vespeiros: a distribuição do dinheiro dos direitos comerciais e a limitação de gastos.

Talvez sabendo que estava vivendo seus últimos anos na F-1, pendurado em um processo pesado na Alemanha e já octogenário, Ecclestone fez de seu último pacto da concórdia o mais desigual deles. Na verdade, como o britânico fez acordos unilaterais, dando muito mais dinheiro aos grandes, hoje sequer existe um pacto, mas sim contratos que terminam todos em sincronia em 2020.

Por estes contratos, a Ferrari está provavelmente mais “mimada” do que nunca: com um top 3, já consegue ser a equipe que leva mais dinheiro, ao passo que, na outra parte da tabela, a Haas esteve fadada a sofrer nas primeiras temporadas e fica com pouco mais de 10% do valor do time italiano.

Não é por acaso, claro, que Marchionne reclama, sempre com a visão obtusa e individualista que marcou a gestão Ecclestone. Mas é óbvio que o futuro da F-1 passa pela revisão destas quantias recebidas pelas grandes independentemente de seu desempenho no campeonato.

Avançar nessas negociações é a primeira lição de casa para a Liberty em 2018.

O segundo vespeiro tem sido tratado de uma maneira inteligente por Ross Brawn: mezzo técnico, mezzo comercial. Há anos a F-1 tenta encontrar soluções para a escalada dos gastos, mas acaba tapando um buraco aqui, e descobrindo outro lá. O projeto de Brawn é atacar o problema criando um teto orçamentário relativamente generoso de um lado – fala-se em 150 milhões de dólares – e uma série de peças padronizadas. Isso inclui o motor, grande fonte de gastos atualmente.

Mais uma vez, a Ferrari se opõe. Seu grande argumento para não aceitar um teto sempre foi o de fabricar o próprio motor “em casa”, e a padronização diminuiria a força deste argumento, ainda que, oficialmente, o time reclame que o DNA da F-1 se perderia com a tal padronização.

O DNA da F-1 é ser uma disputa de construtores, isso é fato. Contudo, não fosse pela recente flexibilização deste conceito, provavelmente a Toro Rosso não teria se mantido por tanto tempo, a Sauber teria falido, a Force India jamais teria tido a ascensão que teve e a Haas sequer existiria.

Este segundo vespeiro precisa de definições já em 2018, uma vez que os novos motores estreiam em 2021. Mas ele também está mais adiantado, com as diretrizes já determinadas. Cabe a Brawn buscar levar esse conceito ao máximo para, desta forma, tornar realidade o tão necessário e polêmico teto orçamentário.

Estes dois vespeiros caminham juntos e não serão desfeitos com o autoritarismo pregado por Ecclestone ou desejado pela Ferrari.

Já a terceira missão da Liberty já começou a tomar forma mais com a mudança dos horários de largada das provas europeias + Brasil do que com o fim das grid girls: aumentar o apelo da F-1 para novos públicos. O primeiro campeonato virtual surpreendeu em termos de números mas, novamente, mudanças mais agudas só serão sentidas quando contratos atuais acabarem ou forem revistos – algo que eles têm tentado fazer. Em 2017, a NBC perdeu o contrato dos EUA porque a ESPN concordou em desenvolver as plataformas digitais que a Liberty poderá em dois ou três anos e a aposta é que todo o esforço de Ecclestone para encher os bolsos por meio de contratos com TVs a cabo perca o sentido, uma vez que a categoria se prepara para o dia em que a TV já não fará mais parte do cotidiano das pessoas.

Olhando assim, Ecclestone até está certo: a Liberty não fez muito até agora, tamanho o abacaxi deixado por ele mesmo. Mas os primeiros meses de total descrédito no paddock do início de 2017 já foram substituídos pelo início de uma relação de confiança com as equipes. E agora é o momento de agir para plantar os frutos que só poderão ser colhidos a partir de 2021.

6 Comments

  1. Um motor padronizado não acredito mas um bloco padronizado, porque não:

  2. Alguem tinha alguma duvida que o self-made billionaire Charles Ecclestone teria vendido barato a F-1 ? Due diligence de um dia!

    Essa turma da Liberty vai ter que comer muita grama e grana antes de conseguirem o respeito dos times. E mesmo depois de obterem o tal respeito ainda assim as negociacoes serao de jacare para pato.

    Fico levemente preocupado da f-1 virar uma f-indy, com carros e mecanica bem padronizados e feios. La se vao muitas decadas acompanhando isso…. e ha decadas esperando uma melhora.

    Ao menos os horarios de largada sao mais favoraveis aos pobres GMT menos muita coisa.

  3. A Liberty tinha que fazer voltar aos primórdios da F1 aonde tinha V8 aspirado, V10 Semi-aspirado e V12 no mesmo grid, taca os motores lá e quem quiser que compre o mais barato.
    Vale lembrar que nem sempre os V12 venciam as corridas, podia voltar também ao tempo do carro-asa, carro de seis rodas, etc…
    Que soluções criativas não conseguiram Adrian Newey na RedBull, com sua genialidade, para economizar grana ou Andrew Green na Force India fazendo valer cada libra esterlina investida?
    A F1 sempre foi vendida como um campeonato de construtores, essa talvez é que faça toda a diferença e magia da competição, os fãs não querem ver apenas os melhores pilotos, mas verdadeiras obras de arte da engenharia! Padronizar as peças é acabar com essa magia, daí o fato de muita gente torcer o nariz para a Haas no início já que o carro é 50% uma Ferrari.
    Torço bastante para haver uma conclusão sem padronização, isso seria retirar metade da magia da categoria.
    Abraços a todos.
    E um grande abraço pra Julliane!

  4. Concordo plenamente com o Artigo. Se fosse para confiar na opinião de alguém hoje na F1 seria apenas da Liberty mesmo (Chase Carey, Sean Bratches e Ross Brown).

    Bernie já deixou bem claro, desde a Época da venda da F1 da CVC para a Liberty, que ele trabalhava apenas para gerar lucros para os investidores e para ele mesmo. A Ferrari historicamente se aproveitou também dessa ganancia do Bernie para fazer contratos extremamente lucrativos (Vejam o caso dos contrato com os promotores das corridas) e nunca pensou no esporte em si. Tanto a Ferrari como o Bernie nunca pensaram em tornar o esporte mais atrativos aos fãs, em melhorar a qualidade das corridas ou em atrair os fãs jovens (Bernie chegou a falar que não se importava com o jovens pq eles não tem dinheiro para comprar um Rolex http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/noticia/2014/11/bernie-diz-que-geracao-jovem-nao-interessa-f-1-eles-nao-tem-dinheiro.html)

    Agora a Liberty vai ter que enfrentar a política e o egoísmo dos grandes do esporte. Evidentemente isso vai gerar muito barulho, pois na F1 cada um vê apenas o proprio nariz. Mas o fato é que se as coisas continuarem como o Bernie e a Ferrari querem, em 5 ou 10 anos a F1 não vai estar na frente nem da Formula E ou talvez nem exista mais. Isso poderia ser causado por colapso dos custos altos ou por desinteresse do público mais jovem ou por não fazer pleno uso da internet, mas o fato é que a Liberty trouxe uma luz no fim do túnel antes que fosse tudo por agua abaixo.

  5. Ao meu ver a F-1 deveria ser um esporte.
    E esporte deve ser divertido.
    E hoje a F-1 é complicada o que se converte em chatisse.
    Portanto a solução é simplificar.
    Ou faz como o DTM padronizando certas partes do carro deixando por conta das equipes apenas motor e aerodinamica.
    Ou oficializa de vez os times satelites.

  6. Se padronizar a categoria perde a essência, perde o DNA de fórmula 1 …e da forma q se fala em custos e tal. Quando os custos num foram altos?
    Sempre foi e sempre será alto….
    Discordo do Neto Velloso no sentido de liberar varios tipos de motores, apesar de adorar o som deles…correriamos o risco de ter uma equipe disparada , mas disparada mesmo tipo uns 4s por volta e a corrida ou temporada perderia a graça…pq com as tecnologias de hoje uma fabricante poderia se sair muito superior tipo uma Mercedes de V12 ser bem mas lenta q uma red bull v8 ou uma Ferrari V10 ….da forma q está agora acho q 2018 será fenomenal a temporada


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