F1 Mais um GP fantasma? - Julianne Cerasoli Skip to content

Mais um GP fantasma?

Esta era a Vila Olímpica de Sochi no final do ano passado
Esta era a Vila Olímpica de Sochi no final do ano passado

Quatro anos e quatro vítimas. Desde 2011, o calendário da Fórmula 1 perdeu – aparentemente, de forma definitiva – as etapas da Turquia, Valência, Coreia do Sul e Índia. Todas elas por problemas parecidos que a Rússia corre sério risco de repetir.

A história de cada um desses GPs que desapareceu após poucas edições é particular, mas podem ser apontados três pontos fundamentais para as provas não terem ‘vingado’: a localização das pistas, a necessidade de retorno financeiro rápido após altas somas investidas e falhas na promoção interna. Qualquer semelhança com que Sochi demonstrou em seu primeiro ano não é mera coincidência.

A questão da localização parece primária, mas é um pré-requisito que não tem sido atendido pelos novos candidatos. O circuito de Istambul, na verdade, fica a 80km da cidade – que é conhecida pelo trânsito difícil por ser cortada pelo Bósforo. O circuito da Coreia do Sul, então, nem se fale: a expectativa era de que uma cidade nascesse ao redor da pista, mas ao que tudo indica, a Fórmula 1 não vai estar presente se um dia isso acontecer.

Na Europa, a categoria passa por vários circuitos ‘no meio do nada’, especialmente Spa e o Red Bull Ring, mas no Velho Continente existe uma tradição popular de aproveitar o verão para acampar ou viajar com trailers, o que casa bem com o clima de interior que a F-1 ganha nesses cenários. Logo, fora essas exceções, o ideal para atrair o público é fazer circuitos pelo menos com fácil acesso – o GP da Espanha, por exemplo, é realizado longe de Barcelona, mas a estação de trem é próxima, o mesmo acontecendo com o metrô em Xangai.

Isso, contando que tal público saiba que vai ter uma corrida.

A segunda falha destas etapas é na divulgação. Em nenhuma delas as cidades ‘compraram’ a Fórmula 1 a ponto de gerar interesse maciço na população e estimular a venda de ingressos. No caso específico de Valência, em que isso teoricamente não era necessário, a questão foi outra: as pessoas simplesmente não queriam a F-1 lá, obra de uma gestão megalomaníaca que visava competir com Barcelona – e enterrou as contas da cidade.

Sem conseguir gerar o interesse público – e, consequentemente, dos investidores locais – ficou difícil cobrir os gastos exorbitantes tanto para a construção dos circuitos – no caso de Turquia, Coreia e Índia, com estruturas feitas absolutamente do zero – quanto para o pagamento das taxas cobradas por Bernie Ecclestone, que sempre viu nestes novos mercados uma forma de compensar as ‘barganhas’ que teve de fazer para manter os contratos dos GPs tradicionais da Europa.

A grande exceção à regra é a etapa norte-americana. Calcula-se que, desde o anúncio da construção do circuito de Austin, em 2010, a pista tenha gerado ganhos na ordem de 2,8bi de dólares. Nada, contudo, é por acaso: o circuito fica a menos de meia hora da cidade, as arquibancadas são famosas pela boa visibilidade e há bastante entretenimento para que vai à corrida. Além disso, o local é usado por todo o ano e recebe desde os X-Games até festivais de música.

Depois de atrair um público relativamente modesto de 65 mil pessoas no ano de estreia, o GP da Rússia – que na verdade não é em Sochi, mas em Adler, a 35km de distância – fica em meio a uma estrutura que está rapidamente tomando ares de cidade fantasma após ter sido construída para as Olimpíadas de Inverno do ano passado. E, hoje, está mais para Coreia, Turquia ou Índia do que para Austin.

6 Comments

  1. Talvez a solução para Socchi seja promover uma… Olimpíada de Verão. O caminho inverso de Pequim.

  2. Os norte-americanos pensaram em tudo quando resolveram construir o circuito de Austin,
    tiveram uma visão além. Construíram um circuito pensando nas necessidades do público, que é assistir a um bom espetáculo ou promover um excelente oba oba antes do evento. Em pleno século XXI, a F1 e os organizadores dos GP’s segue a linha de marketing burocrático que não coloca os torcedores em primeiro lugar e investe pouco em divulgação ou não sabe divulgar de forma correta pra atrair o público. Taí o resultado!

  3. Olá Julianne , você acha que a provável venda da formula 1 poderia mudar este cenário? Aliás você têm alguma informação se de fato a F1 será vendida? Acompanho sempre seu blog seu trabalho é excelente!

    • Obrigada, Pedro.
      Tem que ver como será essa venda. Da última vez, Ecclestone conseguiu se manter no comando mesmo vendendo o negócio para a CVC.

  4. Das três pistas citadas, a que realmente faz falta éh a da Turquia. De média velocidade tinha bons pontos de ultrapassagem e a emocionante “curva 8 “. O fracasso deste GP se deu por aquilo que falta aos turcos más sobra aos americanos: O nosso “big Brother” do norte tem o “business” nas veias! O automobilismo em si, éh um grande evento, más os americanos fazem deste acontecimento um espetáculo. Eles agregam outros – entretenimentos. Talvez faltasse esta visão-de-negócios aos Turcos, junto com a “não-cultura” automobilística dos nativos.

  5. Culpa do Tio Bernie está ganância a qualquer custo. E das grandes equipes que se contentam com a fatia que recebem.
    A F1 deveria se organizar para levar o espetáculo pronto e ser atrativa em qualquer lugar. Seja mantendo as antigas pistas e explorando novos mercados. Espero que a chegada da Haas comece a mudar esta mentalidade.


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