F1 Como Norris foi superior em Singapura- Julianne Cerasoli Skip to content

McLaren com seus reais superpoderes em Singapura e o lucro de Verstappen

Como Mônaco, o GP de Singapura é daqueles que começa cadenciado, com o líder ditando um ritmo deliberadamente lento, sabendo que é difícil ultrapassar. Formam-se trenzinhos de DRS, e a corrida só engata quando alguém tem um encontro com o muro. Mas não dessa vez. 

Na volta 3, Lando Norris já tinha aberto quase 2s para Verstappen. Na volta 9, quase 4s. E foi só nessa volta que o engenheiro pediu que ele forçasse o ritmo.

Norris estava tratando Singapura como qualquer outra prova, por dois motivos: tinha uma vantagem de performance considerável para seu oponente mais próximo, que era Max Verstappen após falhas nas classificações de Oscar Piastri e das Ferrari (sofrendo para colocar temperatura no pneu para uma volta lançada), e porque SIngapura não estava sendo tão dura com os pneus como em anos anteriores, com o asfalto mais maduro.

Estratégia de Hamilton não funciona

Isso pegou Lewis Hamilton desprevenido. A Mercedes tinha optado por largar com o pneu macio pensando na possível vantagem na largada, com mais aderência. Depois, ele sofreria para manter as temperaturas, lembrando que, quanto mais macio o pneu, menor o regime de temperatura em que ele funciona de maneira otimizada. Mas era Singapura, o ritmo seria lento no começo, e seria mais fácil administrar isso.

Com a tocada forte de Norris, não foi. Seus pneus se superaqueceram, ele teve de parar cedo, na volta 17, e saiu da disputa pelo pódio. Na verdade, com essa opção de ritmo por parte de Norris, haveria uma real disputa pelo pódio, porque seria uma corrida mais franca. E isso era uma má notícia para a Mercedes, que também tinha lucrado com as classificações ruins de Piastri e as Ferrari e estava largando muito mais à frente do que merecia em termos de ritmo.

Por que Norris conseguiu apertar tanto o ritmo?

Mas por que Norris conseguia ser tão rápido sem superaquecer seus pneus médios? A McLaren já tinha mostrado em Zandvoort que é o carro mais eficiente quando todos estão com uma configuração de mais downforce. Na Hungria tinha sido a mesma coisa. E isso tem a ver não com (agora banida) a asa traseira que cujo flexibilidade foi visível (na pista de baixa pressão aerodinâmica de) Baku, mas que não traz tanta vantagem assim. O grande segredo deles, e a grande briga que existe é focada na flexão da asa dianteira. 

Em baixa velocidade, ela se move de uma maneira que “prende” mais o carro, e volta a uma posição mais normal quando a velocidade aumenta, ou seja, não tem um efeito prejudicial quando um ângulo tão agressivo não é necessário. Em teoria, a asa não poderia ter nenhuma flexão, mas todas têm algum nível. Contando que elas passem nos testes da FIA, elas são consideradas legais.

Isso faz com que o carro seja mais estável ao longo da volta. Ajuda na velocidade, ajuda no controle da temperatura dos pneus.

Ritmo de Norris ajudou Piastri

Essa corrida mais aberta ditada por Norris abriu a possibilidade de carros com melhor ritmo usarem isso com um overcut. Ou seja, ficando mais tempo na pista que seus rivais diretos para criar uma diferença de voltas nos pneus na parte final que permitiria ultrapassar, e aí entra outro elemento da corrida deste ano: a quarta zona de DRS, fazendo com que as ultrapassagens fossem menos raras e menos dependentes de carros estarem completamente fora da posição que mereciam por conta do ritmo.

Foi assim que Piastri entrou na disputa pelo pódio, mesmo largando em quinto. Ele teria que superar as duas Mercedes. A de Hamilton seria mais fácil porque ele tinha tido de parar muito cedo. A de Russell exigia que ele ficasse mais tempo na pista, se segurando com o pneu médio.

Russell foi até onde conseguia, em uma Mercedes que não rendeu bem na corrida. Parou na volta 27.

Piastri foi até a 38 e, mesmo neste momento, a Mercedes já não se preocupava tanto com ele. Sabia que, com o ritmo superior e pneus bem mais novos, ele passaria Hamilton e Russell com facilidade. Dito e feito.

Ferrari tinha o segundo melhor ritmo do dia

A corrida da Mercedes a essa altura era com a Ferrari, que tentava estratégia semelhante com Leclerc. O monegasco, que largou em nono, tinha passado todo o primeiro stint preso atrás de Alonso e Hulkenberg, só vendo a diferença para Russell aumentar. Quando o inglês parou, estava 16s à frente de Leclerc.

Mas o ritmo da Ferrari assim que Leclerc passou Alonso e que Hulkenberg parou foi muito forte e comprovou que ele e Sainz deveriam ser os pilotos brigando pelo pódio em termos de ritmo puro. Só estavam atrás demais para conseguir isso.

Um bom exemplo disso é como a diferença de Russell para Leclerc se manteve estável na fase em que George estava com pneus duros e Charles, com médios bem usados. É por isso que a Mercedes estava monitorando a Ferrari, e não a McLaren de Piastri, que passaria de passagem Hamilton na volta 39 e Russell na 44.

Verstappen no lucro

Piastri não teria tempo para chegar em Verstappen, que teve o benefício de fazer seu ritmo o tempo todo. Quando ele passou Russell, estava a 19s de vantagem. Mesmo sabendo que não teria tempo de chegar no holandês em 18 voltas, ou seja, mesmo sabendo que não precisava forçar tanto o ritmo, chegou 11s atrás.

Ter Piastri ali foi importante para que Verstappen não tivesse uma vantagem grande o suficiente para tentar colocar pneus macios e fazer a melhor volta da prova no final. O que obrigaria a McLaren a tentar o mesmo com Norris (o que implicaria em aumentar o ritmo, já que ele nunca teve folga suficiente para isso). Com os pilotos no limite por conta da desidratação de Singapura, isso é sempre mais arriscado do que em outras pistas, como os dois erros de Norris, que geraram sustos, sem grandes consequências, comprovaram.

O fator Daniel Ricciardo

Quem foi aos boxes com quatro voltas para o final foi Daniel Ricciardo, último colocado, ou seja, alguém que não marcaria pontos se fizesse a volta mais rápida. O piloto da RB, de propriedade da Red Bull, conseguiu o melhor giro e roubou um ponto de Norris, no que, a julgar pela sua emoção e clima de despedida, foi sua última prova na F1.

Um melancólico último lugar para um piloto que tinha tentado uma estratégia de duas paradas (foram três, no final, com a troca para conseguir a volta mais rápida), algo que não costuma trazer dividendos em uma pista em que se perde tanto tempo nos boxes.

Vitória maiúscula de Norris, com Verstappen salvando pontos importantes em segundo, Piastri recuperando parte dos danos de seu Q3 ruim em terceiro, Russell sofrendo para se defender de Leclerc no final em quarto, o monegasco em quinto, Hamilton em sexto, e Sainz, que largou em décimo, em sétimo. Alonso conseguiu um undercut em Hulkenberg para ser oitavo, e o alemão segurou Sergio Perez, que largou fora do top 10 e sofreu com Franco Colapinto no primeiro stint, só conseguindo entrar na zona de pontuação quando fez um undercut no argentino.

1 Comment

  1. Excelente texto sobre o GP de Singapura. 👏👏👏


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