F1 O GP das várias histórias improváveis - Julianne Cerasoli Skip to content

O GP das várias histórias improváveis

O GP do Azerbaijão não foi dos mais memoráveis, mas a classificação complicada por uma combinação de pista com baixa aderência, com os carros andando com pouca asa e mais ariscos e principalmente fortes rajadas de vento, misturou o pelotão e rendeu várias histórias, do pior fim de semana da McLaren no ano ao primeiro pódio de Carlos Sainz pela Williams.

A corrida, na verdade, acabou tendo um resultado muito condicionado pela classificação. As ultrapassagens só aconteceram quando havia uma enorme diferença de pneus entre os carros. E mesmo isso não era garantia, especialmente para quem pegou os trenzinhos de DRS que sempre se formam em Baku. A Pirelli bem que tentou movimentar a prova ao levar ao Azerbaijão seus pneus mais macios, mas talvez o melhor teria sido fazer isso e um salto (levando o C3 ao invés do C4, que provavelmente seria lento demais para ser usado na corrida).

No final das contas, o C4 era tão bom para a corrida que até o pole position Max Verstappen escolheu (na verdade, insistiu) largar com o composto. Afinal, depois de uma classificação com seis bandeiras vermelhas, um recorde, largar com os duros seria a melhor forma de aproveitar um SC, pois dá aos pilotos mais maleabilidade na estratégia.

Classificação maluca bagunçou o grid

Mas havia outro fator para explicar a decisão de Verstappen: ao seu redor estavam carros mais lentos que uma Red Bull que, a exemplo de Monza, tinha se encontrado em um setup de pouca carga na traseira (menos que McLaren e Ferrari) e mais na dianteira (do que qualquer um). Carlos Sainz largava em segundo com a Williams, sabendo que o lado par do grid não tinha nem perto o nível de aderência do ímpar, e Liam Lawson largava em terceiro.

Eles estavam ali por conta da classificação acidentada. Apenas no Q3, foram duas bandeiras vermelhas, causadas por Leclerc e Piastri. Hamilton já tinha ficado pelo caminho no Q2. Norris saiu cedo para a última tentativa e com pneus usados, e não passou do sétimo lugar. Tsunoda levou 1s de Verstappen, Russell não estava 100% por conta de uma infecção, Antonelli não passou do quarto lugar.

Lawson já tinha ido muito bem em uma classificação bem difícil em Interlagos em 2024, e sabe-se que o carro da Racing Bulls é uma plataforma mais estável – tanto é que eles colocaram os dois pilotos no Q3. E a Williams tinha emergido como o quinto melhor carro de Baku desde os treinos livres. Sainz aproveitou muito bem a oportunidade, enquanto Albon foi um dos que causaram bandeiras vermelhas.

As disputas da corrida começam a se desenhar

Então a corrida começa com a grande pergunta: haverá oportunidades para esses pilotos que largavam fora de posição – Norris sétimo, Piastri nono, Leclerc décimo, Hamilton 12º – escalarem o pelotão ou seria mais um trenzinho de DRS de Baku?

O grid tinha uma mistura de compostos na tentativa das equipes abrirem essas oportunidades – lembrando que ultrapassagens, com um grid tão apertado em termos de competitividade, só acontecem quando há grandes diferenças de rendimento de pneu ou erros. Verstappen, Russell e Tsunoda no top 10 com duros. Mais atrás Hamilton, Bortoleto, Bearman, Gasly Hulkenberg e Ocon.

Essa provou ser mesmo a melhor estratégia, especialmente para os pilotos que conseguiram estender bastante seu primeiro stint, escapando dos trenzinhos de DRS. E isso ajudou também Verstappen a abrir ampla vantagem e ainda parar depois de todo mundo, em um dia em que a Red Bull fazia tudo o que ele queria, em suas próprias palavras. Foi como se voltássemos a 2023.

Atrás dele, Sainz logo percebeu que sua corrida seria contra quem estava com os pneus duros, e o rival mais próximo era Russell. Enquanto Lawson sabia que teria uma tarde defensiva, tentando usar a recuperação de energia do motor Honda a seu favor, mas tendo que se defender de outro motor japonês, com uma estratégia melhor e um carro melhor, nas mãos de Tsunoda.

Como tudo deu errado para a McLaren

Na primeira corrida em que podiam se tornar bicampeões de construtores, a McLaren teve o pior fim de semana do ano. O carro parecia muito nervoso nos treinos livres e a preparação do time para fazer a classificação com os médios foi por água abaixo com a sequência de bandeiras vermelhas.

Piastri sentia que estava ganhando confiança com o carro quando bateu no Q3, e Norris forçou demais na última tentativa, pegou a pista um pouco mais úmida que os demais, e não passou do sétimo lugar.

Estranhamente, levando em consideração o ritmo que tinham – ritmo esse que não tinha desaparecido, eles simplesmente não tinham aproveitado-o na classificação – eles optaram por largar com os pneus médios.

Para a corrida de Piastri, foi indiferente: ele viveu simplesmente seu pior minuto da curta carreira na F1. Soltou a embreagem antes das luzes vermelhas se apagarem, o anti-stall entrou em ação e ele caiu para último, e poucas curvas depois julgou mal o nível de aderência por fora e bateu, provocando o que seria o único Safety Car da corrida.

Só não seria um fim de semana desastroso para seu campeonato porque Norris não conseguiu aproveitar essa única oportunidade que se abriu na corrida: na relargada, ele inclusive foi ultrapassado por Charles Leclerc, com uma Ferrari com menos asa do que a sua McLaren.

Ou seja, ele não conseguia passar Leclerc e o foco passou a ser cuidar dos pneus para tentar estender ao máximo stint com médios. Charles parou na volta 19 e Norris continuou até a 37, fazendo algum progresso, que foi jogado no lixo por mais uma parada ruim, que o fez perder posição para Lawson e Leclerc de novo. 

Dessa vez ninguém abriu caminho para ele, e o britânico passou Leclerc, mas ficou no meio de um trenzinho com Lawson e Tsunoda, todos com o DRS aberto, e terminou em sétimo, marcando só seis pontos.

A disputa atrás de Verstappen

A Mercedes chamou Antonelli muito cedo para os boxes, na volta 18, na tentativa de fazer um undercut em Lawson. A Ferrari fez o mesmo com Leclerc no giro seguinte, tentando se antecipar ao undercut que a McLaren não iria tentar. Os dois voltaram sem trânsito e obrigaram a Racing Bulls a chamar Lawson na volta 20.

O neozelandês perdeu a posição para o italiano, enquanto os carros que largaram com os duros iam avançando, mantendo um bom ritmo e, agora, sem o trânsito dos carros com médios. 

Que o diga Russell, que tinha ido parar atrás de Tsunoda na relargada, teve que passar o japonês e estava já a 10s de Verstappen quando a Mercedes parou Antonelli, que estava logo à sua frente. Nas 21 voltas seguintes, ele só perderia mais 4s em relação a Verstappen, então o ritmo não era nada ruim para um carro que parecia ser a quarta força por todo o fim de semana.

Hamilton e Tsunoda sem ritmo nos duros

O mesmo não se pode dizer de Hamilton. Largando em 12º, ele ganhou as posições de Alonso e Piastri logo de cara e depois passou Hadjar, de médios. E chega na traseira de Norris. Após algumas voltas, talvez para cuidar das temperaturas, ele faz uma volta mais lenta, fica a 3s de Norris, e depois essa diferença só vai aumentando lentamente. Ao invés de ir ganhando tempo em cima de um carro com pneus médios, ele vai ficando para trás.

A Ferrari chegou em Baku acreditando que seria sua melhor chance de vitória daqui até o fim do ano. Chegou na classificação mirando na pole. Mas mais uma vez Hamilton mudou o acerto, foi no caminho de Charles e se deu mal.

Tsunoda é outro. Ele é passado por Russell na volta 4 e, com o mesmo pneu do inglês, não consegue seguir o ritmo da Mercedes e já está 8s atrás dele quando para na volta 38. A sua parada, na verdade, é uma resposta à tentativa de undercut de Norris – aquela que não vai funcionar por causa da parada lenta da McLaren.

O japonês volta disputando com Lawson, que agora estava com os pneus duros, já bem aquecidos, e leva a ultrapassagem do neozelandês, ficando preso atrás dele até o final da prova mesmo com uma vantagem considerável de pneu.

Sainz assegura seu pódio

Tsunoda seria a maior ameaça ao pódio de Sainz, mas o ritmo no meio da corrida lhe tirou qualquer chance de ameaçá-lo, e Antonelli parou cedo demais para ter pneu suficiente para conseguir atacar o espanhol (eles estavam na mesma estratégia, mas havia uma diferença de nove voltas entre os pneus deles).

Não foi um segundo lugar porque o ritmo de Russell foi suficiente para ele voltar em segundo após a parada, mas foi o primeiro pódio com a Williams, em uma temporada em que Hulkenberg e Hadjar já tinham provado que uma execução perfeita no meio pelotão aliada a um fim de semana que apresentasse oportunidades abriria a porta do pódio.

1 Comment

  1. Ótima análise, como sempre.
    E Lando perdendo a oportunidade de capitalizar em cima do abandono do Piastri.
    Tirou menos pontos se fosse primeiro e o Piastri segundo.
    O título vai ficando na mão do Australiano


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