Acho justo começar com um agradecimento ao diretor de provas Michael Masi por usar a opção que ele agora tem de fazer uma largada normal após algumas voltas de reconhecimento atrás do Safety Car. A preocupação era com spray, obviamente muito maior grande desde que os pneus traseiros se tornaram mais largos, e também com a falta de experiência de pilotos e equipes com essa construção de pneu de chuva.
Com a largada normal, as Ferrari começaram a tirar o prejuízo da classificação e as Red Bull, com um problema de software que fez com que as rodas girassem em falso na primeira fase da largada, perderam posições.
Mas não demorou muito para percebermos que seria uma longa – e animada – tarde: logo na segunda volta, Sergio Perez causou o primeiro SC, algo que aconteceu bem na frente de Vettel e de Albon, primeiros a entrar para colocar os intermediários. Outros pilotos que seriam personagens da corrida mais à frente – como Magnussen e Stroll – erraram e não pararam naquele momento.
Com os pilotos forçando mais, ia ficando claro que as últimas duas curvas estavam perigosas. Curiosamente, Lando Norris tinha experimentado colocar as rodas no asfalto da saída da última curva na volta da apresentação e quase tinha ficado pelo caminho. E Leclerc também já tinha percebido que a zona era perigosa, quando conseguiu salvar com um drift. Mas o monegasco repetiria o erro algumas voltas depois.
Ele chegou a ensaiar críticas à falta de aderência daquela área de escape, mas não convenceu. “Isso se chama limites de pista”, advertiu Masi. “E é o que todos os pilotos vêm pedindo: que haja algum tipo de consequência para quem sair da pista.”
Ao mesmo tempo, a pista secava e os pilotos eram instruídos a fazer os pneus durarem porque viam mais chuva no radar. Até que Magnussen resolveu arriscar tudo na volta 21 e colocar pneus para pista seca. Ele saiu dos boxes muito mais rápido no segundo setor, mas com dificuldades no primeiro e, principalmente, nas duas últimas curvas. Isso porque, na zona do paddock, voltara a chuviscar.
Leclerc fora, Hamilton no muro e a confusão na Mercedes
A Ferrari decidiu arriscar e colocar pneus macios em Vettel, que estava mais atrás. Ele passou a andar no mesmo ritmo de Leclerc, que tinha intermediários relativamente novos, e foi isso que chamou os outros aos boxes, ainda que com decisões diferentes: Verstappen colocou os pneus médios e logo se arrependeu, já que era difícil colocá-los na temperatura ideal, o que gerou a rodada que poderia ter acabado com sua corrida. Bottas vez o mesmo, também viu um erro e pediu para a equipe colocá-lo de novo nos intermediários e Leclerc colocou os macios durante o VSC causado pelo abandono de Lando Norris, ultrapassando, com isso, Verstappen e Bottas. Assim que o VSC acabou, Leclerc acabou no muro. E mais uma vez ficou se lamentando por uma chance clara de vitória jogada fora.
Pouco antes da batida e no finalzinho do VSC, Hamilton tinha entrado no box. A discussão no rádio do inglês era colocar pneus médios ou macios, e ele escolheu a segunda opção. Logo na primeira volta, encontrou o muro no mesmo ponto de Leclerc e, após a prova, disse que estava vendo a chuva chegar e queria mesmo era outro jogo de intermediários.
Era uma decisão que seu companheiro já tinha tomado mas, quando Hamilton entrou no box (de maneira perigosa, infringindo uma regra que só existe porque ele fez algo parecido ano passado, em manobra pela qual ele não foi punido daquela vez) de surpresa. Isso explica a confusão dos pneus da Mercedes, pois a equipe esperava Bottas.
Não é por acaso que, depois da corrida, Hamilton dizia que não tinha sido uma tarde mentalmente inspirada por parte dele. “Eu me culpo porque deveria ter insistido em colocar os intermediários. Depois disso, foi um efeito dominó.”
Depois de toda essa confusão, na volta 30 o top 5 tinha Verstappen, Hulkenberg (que economizou tempo por não ter colocado slicks, mas logo pararia no muro mesmo assim), Bottas, Albon (que tinha lucrado com aquela primeira parada) e Hamilton (36s atrás).
É justificável da parte da Mercedes ter cometido o erro de colocar os dois pilotos com pneus slick e depois ter tido de voltar atrás, pois havia um trilho e a chuva que estava no radar de todos demorava a cair. De fato, ele tiveram azar da chuva ter chegado justamente quando decidiram parar: segundos separaram a parada de Hamilton do pedido de Bottas de voltar a colocar os intermediários.
Mas talvez o grande erro da equipe – não tirando a responsabilidade dos pilotos por suas escapadas, claro – tenha sido no SC causado por Hulkenberg, no qual a Red Bull chamou Verstappen para colocar um jogo novo de intermediários. Tinha ficado claro no início da corrida que os intermediários perdiam aderência muito rapidamente, mas eles optaram por não parar Hamilton por causa da punição de 5s, e por conseguinte Bottas porque ele voltaria atrás de Hamilton. Acabaram pagando caro por isso, pois os dois escaparam da pista no mesmo ponto – Hamilton tendo de trocar novamente os pneus, e Bottas batendo e abandonando a corrida.
E Kvyat e Vettel?
Repare que ainda não citei os outros dois pilotos que subiram ao pódio até aqui. Neste momento da corrida, na volta 41, Vettel também colocou um jogo novo de intermediários e, com isso, caiu para 11º, logo atrás de Daniil Kvyat. Os dois tinham passado a corrida inteira em posições intermediárias e, no caso do russo, foi por isso que a Toro Rosso o escolheu para fazer a aposta de colocar pneus slick na volta 45, logo depois que a Racing Point tinha feito o mesmo com Stroll, que era o penúltimo quando essa decisão foi tomada. Em ambos os casos, a aposta partiu mais do pitlane do que do cockpit.
Quando a prova foi reiniciada após o SC causado por Hulkenberg e Kvyat estava voando especialmente no segundo setor, todos foram correndo para os boxes, jogando o russo e Stroll para as primeiras posições. Curiosamente, George Russell revelou que estava desesperado no rádio pedindo para a Williams colocá-lo nos slick antes de tudo isso, mas o time não o ouviu. Dificilmente seria um pódio por conta do ritmo do carro, mas certamente ele andaria entre os primeiros por algumas voltas.
O fato da aposta ter sido feita com Kvyat por ele estar mais atrás acabou tirando o destaque da corrida de Albon, que foi muito provavelmente a melhor do grid: com ótimo ritmo e sem erros, ele estava em quarto antes da batida de Bottas, e até por isso a equipe não quis arriscar colocar os slick com ele.
Nesse momento decisivo da troca dos intermediários para os slicks, a Ferrari demorou uma volta para reagir com Vettel, então ele ainda estava em nono com 18 voltas para o fim. Mas foi quando o ritmo forte que era esperado do carro ferrarista finalmente apareceu. Ele era o único que andava no ritmo de 1min17 de Verstappen e foi passando um a um: Gasly, Magnussen, Albon, Sainz, Stroll e, com duas voltas para o fim, Kvyat.
Ou seja, no final das contas, nenhum dos pilotos que foram ao pódio teve uma corrida perfeita. Mas Verstappen estava no lugar certo para aproveitar do que Toto Wolff chamou de Armaggedon da Mercedes, Vettel teve ao seu lado o excelente ritmo da Ferrari com pista seca e Kvyat deu sorte de ser o cara escolhido pela Toro Rosso – equipe que tomou as melhores decisões estratégicas neste GP maluco – para a aposta que deu uma equipe do meio do pelotão seu primeiro pódio em mais de um ano.
7 Comments
Julianne, este texto ficou pequeno, quero mais! 😀
Você notou que dos 6 primeiros pilotos, exceto Stroll, foram formados pela academia Red Bull?
Na verdade Vettel, Verstappen e Albon não foram formados pela Red Bull. Dá para falar que tiveram/têm passagem, mas não em formação
Querida Ju , na minha humilde opinião não foi só o grande erro da Mercedes, em situações assim eles sempre mostram amadorismo, é incompreensível que digam a Lewis que não parasse por causa da punição de 5s , coisa de gente sem cérebro e sem a mínima noção de automobilismo pois ele perderia 5s com os adversários andando devagar na pista
Texto perfeito, concordo totalmente com texto e fiquei muito feliz pois as últimas corridas estão maravilhosas espero que depois das férias tenha essa emoção
Ótima analise como sempre Ju!
Que corrida maluca, e as saídas de Hamiltinho e Lele provam que Sebastião é tetra por méritos também, além daquela excelente RedBull, embora ainda ache que ele não aprendeu a lidar com pressão, pois estava com o mesmo pneumático quando os adversários saíram da pista.
E como fica a situação de LeClerc agora que vem errando? Antes era tido como uma espécie de Verstappen, mas os erros eram da equipe, a situação mudou…
Grande abraço a todos do Blog!
Obviamente fiquei feliz com um pódio tendo um piloto do “meio do pelotão”, mas fiquei um tanto decepcionado por não ter sido o Hulkemberg ou o Albon. Legal que você tenha mencionado o Albon no texto, também fiquei com a sensação de que ele fez tudo certo e não subiu ao pódio justamente por isso.
O Stroll rodou no momento do abandono do Norris, a TV até pegou de relance mas a Globo nao mencionou. Alguns segundos antes dele trocar para slicks eu cheguei a pensar “se eu fosse o Stroll, parava agora”. Era a chance do tudo ou o nada que ele já tinha… e deu muito certo.
Tenho ctz que se fosse Alonso no lugar de Lewis que tivesse dito que queria parar no box e o “estrategista” dissesse que não era hora por conta da punição de 5s , o espanhol diria simplesmente ” eu estou indo idiota “.