F1 Os 7 atos do hepta de Hamilton - Julianne Cerasoli Skip to content

Os 7 atos do hepta de Hamilton

É comum ouvir os rivais dizerem que Lewis Hamilton é impressionante por ser muito consistente. O diretor técnico da Mercedes, James Allison, é até mais enfático: “Quando temos um dia ruim, não precisamos nos perguntar ‘será que o Lewis teve um dia ruim?’. Sabemos que não fomos competitivos porque não fizemos um trabalho bom o bastante. É isso que trabalhar com um piloto extremamente talentoso nos dá: um grau de certeza a respeito do nosso nível de engenharia, porque podemos ter certeza do nível que o piloto pode dar.”

A corrida do heptacampeonato, que o colocou em pé de igualdade em número de títulos com Michael Schumacher, foi um grande exemplo disso. Mas não foi o único. Os dois grandes erros dele em 2020 na verdade foram mais falhas da equipe do que do piloto – entrar nos boxes com o pitlane fechado em Monza e ensaiar largada na posição errada antes do GP da Rússia.

Porém, o que mais impressionou na temporada do hepta foi a maneira como ele manteve a calma e encontrou saídas para quando as coisas não saíram como planejava. Isso, em uma temporada que tem sido mentalmente muito dura para todos na F1 devido à sequência inédita de provas em um curto espaço de tempo em resposta à covid, e a todos os procedimentos também relacionados à pandemia, que dificultam o trabalho de todos.

Mas Lewis não deixou que isso o abatesse, e construiu o hepta em sete atos:

The emotions spill out, as @LewisHamilton conquers the world for the seventh time ??#TurkishGP #F1 pic.twitter.com/KzqVKysLqL— Formula 1 (@F1) November 15, 2020

1º ato: De duas punições na Áustria à vitória no GP seguinte

A temporada não começou bem para Hamilton: ele foi punido pouco antes de alinhar no grid na Áustria por não ter respeitado bandeiras amarelas na classificação. Na ocasião, ele vinha rápido o suficiente para bater a pole provisória de Bottas, mas teve que tirar o pé porque o companheiro errou, não o fez e foi punido por isso. E, na corrida, levou outra punição, discutível, após briga com Alex Albon. Chegou em quarto. No final de semana seguinte, foi totalmente absoluto.

2º ato: Pole em Silverstone após rodada

O GP da Grã-Bretanha de 2020 vai ficar marcado pelas cenas da última volta, quando Hamilton teve um pneu furado e se arrastou para vencer. Mas ele só estava naquela posição por uma virada (que ele classificou como uma das mais difíceis da carreira) na classificação. O piloto não estava feliz com o equilíbrio do carro e teve uma rodada, “a primeira em muito tempo”, como ele salientou, na segunda parte do classificatório. Teve de se recompor e fazer uma tentativa a mais numa classificação que já se desenhava complicada para ele, já que Bottas é sempre forte em Silverstone. “É difícil porque classificação é uma crescente, e uma rodada corta isso. E foi ainda mais difícil porque o Valtteri estava colocando muita pressão em mim com as voltas rápidas que estava fazendo.” No Q3, Hamilton fez a pole. De quebra, colocou mais de três décimos em cima de Bottas.

3º ato: Mais calmo até que o engenheiro na Rússia

Ele disse que a classificação do GP da Rússia foi “horrível” e “estressante”, mas não foi o que ele deixou transparecer enquanto esteve na pista. Hamilton saiu da pista na última curva e teve a primeira volta no Q2 deletada. Quando estava a poucas curvas de terminar a segunda tentativa, a sessão teve uma bandeira vermelha devido a uma batida de Sebastian Vettel. Faltavam dois minutos para o fim da sessão e Hamilton estaria fora do top 10. Quando a sessão foi reiniciada, ele acabou ficando no final de uma fila de carros que também tentavam abrir a última volta antes de o cronômetro zerar. Hamilton foi dando espaço para o carro que ia à frente enquanto seu engenheiro, o geralmente frio Peter Bonnington, berrava “vai, vai, vai!”. Ele conseguiu abrir a volta, passou para o Q3 e, de quebra, cravou a pole position em uma pista na qual Bottas é especialista.

4º ato: À espera do erro de Bottas na Alemanha

É marcante como a grande arma de Hamilton já há algum tempo é sua adaptação aos pneus, algo que era seu ponto fraco nos primeiros campeonatos. E isso ficou claro no GP de Eifel. Ele largou na pole, mas perdeu a posição para Bottas na segunda curva. Nas voltas seguintes, o finlandês parecia escapar, mas era só Hamilton cuidando dos pneus e esperando para dar o bote. Ele viu que o companheiro começou a derrapar nas curvas e tirou quatro décimos em uma volta. Na seguinte, Bottas errou na volta 13, Hamilton passou e, a partir daí a fatura estava liquidada. Os pneus da F1 são tão sensíveis que tendem a sofrer com superaquecimento, o que acelera o desgaste, se um carro segue o outro até com três ou quatro segundos de diferença. Mas parece que, com Hamilton, isso não acontece.

5º ato: Decifrando os pneus em Portimão

Na primeira vez em que teve a oportunidade de se tornar o maior vencedor da história, Hamilton começou mal, com muitas dificuldades para fazer seus pneus funcionarem no asfalto novo de Portugal. Foi passado por Bottas e até pela McLaren de Carlos Sainz. Porém, mudou a maneira como estava pilotando durante a corrida e passou a andar em um ritmo que só ele encontrou, passando os dois com extrema facilidade e tendo uma de suas vitórias mais dominantes da temporada.

6º ato: Drible em Imola

Os pilotos foram para o GP da Emilia Romagna sabendo que seria muito difícil ultrapassar. E Hamilton não facilitou sua vida quando caiu para terceiro na largada. Mesmo já sendo o maior vencedor da história e tendo enorme folga no campeonato, ele focou no que poderia fazer para vencer a prova. Manteve-se perto de Valtteri Bottas, que liderava, e Max Verstappen, mas ao mesmo tempo estava cuidando de seus pneus para que, depois que os dois parassem, ele pudesse adotar um ritmo mais rápido para voltar à frente quando fizesse seu pit stop. É fato que a perda aerodinâmica do carro de Bottas depois que ele “atropelou” um pedaço da asa dianteira da Ferrari ajudou Hamilton em sua missão, mas a maneira como ele sobrou na prova foi marcante.

7º ato: A vitória do título dando uma volta no próprio companheiro

É bem provável que a vitória do título seja a performance mais impressionante de todas. A Mercedes é um carro projetado para andar bem no calor, para evitar superaquecer os pneus. Mas o asfalto escorregadio da Turquia, as baixas temperaturas e a chuva fizeram com que a vantagem na grande maioria dos cenários virasse contra a equipe, e Hamilton largou em sexto em Istambul, largou mal, chegou a escapar mas, assim como em Portimão, foi entendendo aos poucos como fazer seus pneus funcionarem, não quis parar quando a equipe pensava em copiar o que os rivais diretos faziam e, novamente, estava certo: a pista estava secando, então os pneus intermediários usados começaram a render melhor do que os novos.

No final, a equipe chegou a lhe chamar para uma parada de segurança, mas a lembrança do título que ele perdeu logo na sua primeira temporada, em 2007, quando escorregou na entrada dos boxes e abandonou, falou mais alto. Mais uma decisão correta de um piloto que sempre foi habilidoso, mas que hoje ganha com o braço e também com a cabeça.

10 Comments

  1. Acompanhei a temporada e, li´os seus post, antes e depois das corridas.Queria parabenizá-la, seus comentarios sempre atualizados e pertinentes. Abraços

    Percival Bandeira

    • Muito obrigada, Percival. Não tem sido um ano fácil pra ninguém, então esse tipo de comentário é ainda mais valioso.

  2. Nos últimos dois/três anos o Hamilton tem se mostrado muito forte, mas este ano o piloto inglês foi implacável.
    Hamilton tem banalizado o seu companheiro de equipa e mesmo nas adversidades não atira a toalha ao chão, como aconteceu em Monza.
    É com todo o mérito que vence mais um campeonato porque é o melhor piloto do atual plantel.
    Aproveito, tal como o comentador anterior o Percival Bandeira, para dar os parabéns e agradecer à Julianne Cerasoli pelo excelente trabalho que vem fazendo.

    Cumprimentos

    visitem: https://estrelasf1.blogspot.com/

  3. Esse é, de longe, o campeonato mais importante e dominante da carreira de Hamilton, tanto dentro com fora das pistas.

    E também deixo os meus parabéns a você, Julianne, pelo seu empenho e dedicação neste ano tão complicado como este 2020.

  4. Admiro muito seu trabalho e sua dedicação “Ju”, se me permite o diminutivo, todos falam de pilotos, mas não dos repórteres, principalmente os que não possuem uma grande empresa pagando as despesas, ver sua jornada para realizar o seu sonho, inspira tanto quanto a vontade de vencer de um heptacampeão.

    Quanto a corrida de hoje, foi perfeita, uma ressalva seria o Stroll, correu bem, fez tudo certo até a última parada.

  5. Eu conheci o seu site, através dos vídeos que faz(ia) no canal do Boteco F1 do Youtube. Confesso que foi umas das melhores coisas que me aconteceu desde 2007, o ano que iniciei minha trajetória acompanhando F1. Julianne, os seus comentários, juntamente com o Adaulto, do site Autoracing, são os mais pertinentes e inteligentes que um amante da F1 possa ter acesso. Parabéns. Sou seu fã número 1.

  6. Julianne, acompanho a F1 com afinco há mais de 40 anos e consigo perceber os que se destacam com comentários pertinentes e análises técnicas bem embasadas; com grande satisfação coloco você no rol dos jornalistas que nos encantam com suas análises técnicas e até com reportagens “extra-pista” que acabam complementando e nos dando uma visão do todo no meio.
    Parabéns pela cobertura e pelo destaque de suas análises com textos deliciosos e sempre prazerosos; sou mais um que lhe sigo, apreciando a beleza de seu trabalho.
    Continue assim e vamos em frente.
    Abraços
    Rodney L. Mariano/ Sorocaba-SP


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