É inegável que o ponto crucial do GP de Mônaco aconteceu na volta 32, quando Daniel Ricciardo perdeu 9s a mais que Lewis Hamilton nos boxes e voltou à pista a 0s6 do inglês.
Mas a prova esteve longe a se resumir a isso em termos estratégicos, com várias decisões ousadas mesmo com poucas informações sobre os compostos de molhado e os ultramacios. No final das contas, a tática vencedora foi a de sempre em Mônaco: aquela que privilegiou a todo momento a posição de pista.
Até a tal volta 32, a Mercedes tinha conseguido se recuperar bem de um início de prova desastroso, quando Nico Rosberg falhou em colocar temperatura em seus pneus e fez com que Hamilton perdesse 13s em relação ao líder Ricciardo. A demora de cerca de 10 voltas para o time dar a ordem para que o alemão abrisse caminho – explicada por Toto Wolff pelas chances que o pitwall estava dando para Nico melhorar seu ritmo – fora compensada por uma decisão do próprio Hamilton em permanecer na pista com o pneu de chuva enquanto os demais o trocavam pelos intermediários, ‘ganhando’ um pit stop e contando com a dificuldade em ultrapassar em Mônaco para se manter à frente.
Sem o mesmo raciocínio de priorizar a posição de pista, várias equipes cometeram erros na primeira parte da prova: a Scuderia colocou Vettel no tráfego de Felipe Massa, o que arruinou sua corrida, assim como a Force India fez com Nico Hulkenberg. Já a Red Bull não percebeu, assim que a Williams parou, ainda na volta 20, três antes de Ricciardo, que o ritmo da Ferrari com os intermediários não era tão melhor do que o do líder com os pneus de chuva, e chamou o australiano aos boxes, deixando o caminho livre para Hamilton ditar o ritmo na ponta.
É impossível dizer se Ricciardo aguentaria as 31 voltas que Hamilton fez com os pneus de chuva, mas o bom ritmo do australiano durante todo o final de semana e a facilidade com que o inglês segurou sua Mercedes até a pista secar fazem crer que Daniel não teria problema algum em evitar os intermediários.
Mesmo após este primeiro erro da Red Bull, Ricciardo não demorou a encostar em Hamilton e, a partir da volta 27, teve outra chance de retornar à ponta. A questão agora era determinar qual o momento exato para passar aos pneus de pista seca – e qual o melhor composto utilizar.
Parecia algo mais fácil para a Red Bull, com mais motivos para arriscar do que um Hamilton que luta diretamente pelo título e via uma boa oportunidade com Rosberg fazendo uma corrida pífia. Mas não foi bem assim.
A cartilha da troca dos pneus de chuva para os de pista seca obedece a dois parâmetros: a Pirelli estima o que se chama de ‘tempo de crossover’ (ou seja, tempo que, quando é alcançado com pneus intermediários, significa que a pista já está boa o suficiente para pista seca) e alguém do pelotão intermediário arrisca. No caso de Mônaco, o tempo de crossover era 1min28 – e o próprio Ricciardo tinha chegado bem perto disso antes de colar em Hamilton, na volta 27. Quando Ericsson arriscou parar e saiu andando bem, deu a dica final ao restante.
Nesse momento, vem a segunda cartada, desta vez uma decisão da própria equipe Mercedes: surpreender a Red Bull e colocar os ultramacios em Hamilton, outro pneu do qual se tinha poucas informações. A ideia era maximizar a possibilidade do inglês ter mais aderência para acelerar logo em sua primeira volta para se defender do que seria, fatalmente, um giro rápido de Ricciardo com os intermediários. Além disso, o time contava com um restante de prova acidentado, com paralizações que ajudariam o pneu a durar mais do que as 40 voltas previstas pela Pirelli – ainda que, nos treinos livres, ninguém tenha chegado perto disso – e, principalmente, estava de olho na posição de pista: se Hamilton conseguisse voltar à frente, mesmo se os pneus se desgastassem, seria muito difícil para Ricciardo encontrar um espaço para passar em Mônaco.
O inglês quase jogou a tática fora quando fez uma outlap bastante lenta, mas a Red Bull retribuiu o favor e foi ainda mais devagar com a parada de Ricciardo. A justificativa do time é de que a opção da Mercedes pelos ultramacios gerou uma confusão sobre qual composto escolher, uma vez que a primeira opção seriam os macios – como ocorreu no caso de Max Verstappen – mas a dificuldade de aquecimento comprometeria os primeiros metros da batalha com Hamilton.
Com a escolha tardia, ainda mais em boxes complicados como os de Mônaco, o time entregou de bandeja a vitória ao tricampeão, que a partir daí ditou um ritmo lento para aguentar até com tranquilidade as 47 voltas naquele pneu que, no papel, deveria servir para uma classificação.
4 Comments
Na minha opinião a Red Bull perdeu a corrida ao fazer o primeiro pit stop muito cedo ainda mais que tinham 12 segundos de vantagem para Hamilton. .
A própria Mercedes teve muita dificuldade em colocar os pneus para aquecer rapidamente quando colocou slicks.
A Red Bull foi muito superior nisso qualquer fosse o pneu. E qualquer pneu que colocassem no carro que não fosse de chuva bastaria para conter Hamilton.
O australiano tem motivos para ficar emburrado.
Ano passado a Mercedes ferrou o Hamilton fazendo aquela parada desnecessária. Também esqueceram que o que conta em Mônaco é a posição de pista, citada neste post.
E a Ferrari errou novamente na estratégia. Deixou o Vettel preso atrás do Massa e acabou com sua corrida. E já tinham errado na Espanha.
Essa história de marcar a outra equipe, até para evitar o undercut em alguns casos, está complicando equipes grandes. Ju não tem como fazer uma previsão antes da prova com algumas alternativas e tentar seguir, ou já ter alternativas para as variáveis de corrida? Parece que ficam desesperados tentando fugir de uma armadilha de outra equipe a acabam cometendo erros bobos.
A Willians deve estar feliz, melhoraram o tempo de pit stop e não estão cometendo esses erros grotescos. Só falta um carro melhor.
A única maneira éh ter um carro rápido o suficiente. Acho que a deficiência (e não éh de hoje!) da Ferrari são os pneus. Vejam só que a Mercedes e agora a Red Bull tem a compreensão melhor dos pneus e por isto são as duas equipes dominantes do momento. Ferrari, Mclaren e especialmente a Williams são equipes que tem uma enorme dificuldade com os pneumáticos… E olha que a Williams tem uma poderosa “unidade-de-Potência”. Então, no frigir dos ovos, não basta ter um carro e um motor razoável ou vice-versa! O conjunto tem de ser harmônico & super-competitívo pra rivalizar com o até agora, “obra-prima” da Mercedes.