Ontem falava sobre a necessidade da Ferrari ter um líder dentro do cockpit. Mas essa é só uma maneira de vencer. Historicamente a maior rival dos italianos, a McLaren não poderia trabalhar de maneira mais diferente. Ao invés de dar poder aos pilotos, os ingleses preferem tirar ao máximo suas responsabilidades, dando mais ouvidos aos engenheiros e simuladores.
O grande exemplo disso é a completa dependência de Hamilton em relação a seu pitwall. Vimos, especialmente neste ano, em que as estratégias são mais reativas que no passado, o inglês questionar a decisão da equipe, mas depois dela ser tomada – como na Austrália, quando berrava “quem decidiu parar de novo? Foi uma péssima idéia” – ou propor saídas equivocadas – como a de fazer uma 2ª parada em Abu Dhabi.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=enW6n9Dpr4o]
Lembrando que Hamilton é cria da McLaren desde os 13 anos e, se nunca foi estimulado a participar desse tipo de decisão, é porque isso convém ao estilo da equipe.
Outro grande exemplo disso aconteceu na semana passada, quando os ingleses escalaram o reserva Gary Paffett para os testes com os pneus Pirelli, sendo a única equipe a não usar os titulares. A justificaria seria de que o piloto da DTM, tendo andado no teste para pilotos jovens e no simulador no ano todo, estaria em melhores condições de dar informações relevantes.
Por mais que o time de Woking tenha sempre tido grandes pilotos, a hierarquia sempre foi muito clara: quem manda é Ron Dennis, e sua abordagem pragmática faz com que os dados sejam priorizados em detrimento do feeling do piloto. Isso vale, tanto para o desenvolvimento e acerto do carro, quanto para as decisões na pista.
Há quem possa perguntar: e Button, não bancou colocar slicks antes de todo mundo na Austrália e ganhou a corrida por isso? Sim, o inglês entrou no pit indo contra as ordens do pitwall, que lhe afirmara que a pista ainda estava molhada, mas reconheceu que o fez mais porque seus pneus intermediários estavam acabados que por certeza de que era o momento adequado para arriscar. No mais, é outro que mais ouve do que participa das decisões e veste muito bem a camisa do time.
É confiar neles faz sentido. A equipe conta com dois times de estrategistas, um dentro do box e outro na fábrica, na Inglaterra. É o chamado Mission Control, composto por cerca de 15 pessoas, que analisa todos os dados de telemetria, GPS e faz simulações a toda volta do que aconteceria se chovesse, se tivéssemos um Safety Car… A teoria é que, sem a pressão de estar in loco no final de semana de corrida, seja possível tomar melhores decisões.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=vYhl7csZJHw]
É um sistema que, além de eficiente, serve para evitar conflitos internos entre os pilotos e, de fato, na 1ª parte da temporada, a inteligência estratégica da McLaren se sobressaiu em relação à velocidade da Red Bull, enquanto, na 2ª, foi a liderança de Alonso na Ferrari que predominou. Ou seja, são duas formas válidas de se trabalhar. O grande motivo para a queda dos ingleses foi o desenvolvimento e acerto do carro. Mas esse é assunto para um futuro post.
4 Comments
Interessante. Eu sempre achei que um dos pontos em que Lewis ainda precisa crescer é ter um pouco de independência do time na hora de tomar algumas decisões. A Austrália traz dois bons exemplos: essa troca desse ano e o escândalo da mentira do ano passado. Nesse ano, OK, decisão estratégica. Mas ano passado não faria mal algum a Lewis ter se rebelado contra o time para evitar todos os problemas que aquela mentira trouxe para si.
Mas o modelo de dois times estratégicos é muito válido e ganhou o último título de pilotos para a equipe, já naquela época todos afirmaram que tudo estava sob controle e que eles saberiam que seria possível passar Glock antes da linha de chegada…
Eles até defendem que, no futuro, será tudo controlado da fábrica. Não sei se será possível ri tão longe, mas é um caminho que faz sentido.
em todo o texto Ju, por mais que seja louvável o tecnicismo, as vezes o meio termo seria algo mais rentável, penso eu! a impressão que fica, é que a habilidade de hamilton fique subjugada à mclaren! ainda que haja todo envolvimento técnico, o feeling sem dúvida deve ser estimulado! a análise de pista, a leitura do piloto pode ser completada pelos engenheiros mas, nunca substítuida! creio que nem tanto ao mar, nem tanto à terra! as cartas têm que ser colocadas na mesa e estudadas no momento! acredito que a falta de liberdade do piloto, contribua para uma incapacidade de análise momentânea, dificultando em progressos do equipamento! por mais que a equipe especule, o carro terá que ser moldado para quem está na pista, e não para quem está no paddock! por isso vemos pilotos queixando-se que não conseguem entender o carro, dificuldade extrema de acerto,etc
Exatamente.
Talvez se a Ferrari tivesse avisado Alonso da situação de corrida em Abu Dhabi antes, não teria perdido o título.
Mas Alonso já demonstrou que sabe decidir por si próprio algumas vezes este ano.
Faster, deixe seu top 10 dos pilotos da temporada no blog: http://theformula1.wordpress.com/2010/11/22/faca-o-seu-top-10-dos-pilotos-em-2010/
Forte abraço!