F1 Como explicar a vitória de Max em SP- Julianne Cerasoli Skip to content

Os ingredientes de uma performance épica de Verstappen em Interlagos

O GP de São Paulo se desenhava para ser aquele que colocaria Lando Norris, de fato, na disputa pelo título. Ele largava na pole, Max Verstappen em 17º, após uma série de fatores deixá-lo ser completar a última volta rápida no Q2, somada a uma punição pela troca de motor. Mas a corrida em Interlagos, com classificação e GP no mesmo dia por conta da chuva, Safety Car e bandeira vermelha, acabou se tornando exatamente o inverso.

Verstappen estava mordido. Duas punições no México, mais uma na sprint por uma infração atrás do Safety Car Virtual, o resultado da classificação. Como ele já mostrou no passado, esse tipo de combinação é como mexer no vespeiro interno de Max, e ele entrou no carro decidido a vencer.

Mas não dá para creditar tudo ao piloto na F1. O trabalho dele é maximizar aquilo que o carro pode fazer. E o limite da Red Bull estava mais alto do que nas corridas anteriores, como eles já tinham mostrado na sprint. Verstappen só não lutou pela vitória no sábado de manhã porque Charles Leclerc conseguiu segurá-lo por 18 das 24 voltas, mesmo com as McLaren fechando a primeira fila. No seco, parecia que a McLaren tinha uma vantagem pequena e que Ferrari e Red Bull estavam em um nível semelhante. Cenário diferente do que vinha acontecendo desde Monza.

Rendimento da McLaren cai com a chuva

Eis que vem a chuva no final de semana. A McLaren não era tão eficiente com sua asa de mais carga aerodinâmica e os pilotos passaram a sofrer mais com travadas nos pneus dianteiros – Andrea Stella não quis dar muitos detalhes dos motivos para isso, mas disse que é um problema recorrente em um determinado tipo de situação. 

E Verstappen é sabidamente muito forte nesse tipo de condição de pista, parece que tem o faro para encontrar onde há mais aderência no molhado.

Era para ele fazer a pole e largar em sexto com a punição. Mas a Red Bull liberou os carros depois dos rivais, ocupa a primeira posição nos pits em Interlagos, e ficou para o final da fila, exposta a uma bandeira vermelha, que veio.

Primeiras voltas são decisivas para Verstappen

O líder do campeonato largaria em 16º efetivamente por conta da baixa da classificação no molhado em pleno domingo Alex Albon, que nem correu. Fechou a primeira volta em 11º, já armando o bote para cima de Lewis Hamilton. Na volta 6, chegou na McLaren de Oscar Piastri, na disputa da sétima posição.

Perdeu só três voltas atrás do australiano. Passou Liam Lawson com mais facilidade e chegou em quem foi, de novo, uma muralha: Charles Leclerc, que o segurou por 13 voltas e o fez perder 4s em relação ao líder, que era George Russell a essa altura.

Essa, aliás, tinha sido a primeira chance dara por Noris para Verstappen: na largada, o britânico perdeu a primeira posição para o piloto da Mercedes, claramente mais lento. Mas, com a asa de alto downforce, Norris não conseguia passar e os dois não conseguiam abrir uma distância confortável para pararem e voltarem ainda na frente.

Chega a pancada de chuva: quem pode arriscar mais?

Até que chega a volta 25 e o cenário é o seguinte: tem uma pancada de chuva chegando. Será forte o suficiente para uma bandeira vermelha? Não dá para saber. Quero arriscar ficar na pista com pneu intermediário já bastante gasto? Depende do quanto você tem a perder e o feedback do seu piloto na pista.

Russell queria continuar e a Mercedes tinha pouco a perder, mas a equipe o chamou. 

Norris queria parar e a McLaren tinha muito a perder, lembrando que a principal disputa deles é o mundial de construtores. E eles decidiram parar também.

As RB, quinto e sétimo, também decidem parar na mesma volta, trocando para pneus de chuva extrema. Em retrospecto, um erro.

Essa informação, porém, é importante: sabemos que, quando a situação de pista indica a necessidade de pneu de chuva extrema, isso também é indicativo de que tem tanta água que haverá muito spray. E que muito spray significa que a situação está próxima de uma bandeira vermelha. Perez também tinha parado uma volta antes e colocado o pneu azul.

Esteban Ocon era terceiro quando Russel e Norris pararam a, com nada a perder. Gasly era quinto. Eles ficam na pista esperando a bandeira vermelha ou o Safety Car.

Entre eles estava Verstappen. Primeiro, a Red Bull podia confiar que não seria ele o cara que causaria a bandeira vermelha. Segundo, ele tinha uma ‘gordura’ de 44 pontos no campeonato para queimar. Ele fica na pista esperando a bandeira vermelha ou o Safety Car.

Onde Verstappen sairia sem a bandeira vermelha?

A neutralização viria no final volta seguinte à parada de Russell e Norris. A chuva forte tinha chegado. Se Ocon, Verstappen e Gasly tivessem parado naquele momento, o francês tinha chances de voltar ainda na ponta, com Max em quinto (perdendo posição para Russell, Norris e Tsunoda), e Gasly em sexto. Com o ritmo que Verstappen estava mostrando e mais de metade da corrida pela frente, não é de se duvidar que ele passaria todo mundo.

Mas eles não param. Estão claramente apostando que teremos uma bandeira vermelha. A pista estava para pneu de chuva extrema e sabemos o que isso significa.

Até que a Williams dá uma mãozinha: para Colapinto e o coloca no pneu intermediário, que logo perde temperatura atrás do SC e o argentino acaba no muro. Teríamos a bandeira vermelha sem isso? Não sabemos. Havia elementos para Red Bull e Alpine apostarem que teríamos uma bandeira vermelha mesmo sem isso? Com certeza.

Uma nova corrida: e Verstappen abre quase 20s em 26 voltas

A bandeira vermelha significa que todos podem trocar de pneu livremente. A chuva melhora e todos relargam com o pneu intermediário. Ocon, Verstappen, Gasly, Norris, Russell, Leclerc. 

Verstappen não vai para cima de Ocon logo de cara. Não estava conseguindo ver muita coisa, então ouviu que a corrida era longa e ele poderia esperar as condições melhorarem. 

Mas surge outra oportunidade: um Safety Car causado por Sainz. Na nova relargada, na volta 43 de 69, ele usa sua rota favorita, por dentro na curva 1, e toma a liderança. Mais atrás, Norris bloqueia os freios dianteiros e cai para sétimo, atrás de Piastri e Leclerc.

Nestas 26 voltas, Verstappen abre quase 20s, enquanto Russell não consegue sequer passar Gasly, mesmo ficando por várias voltas logo atrás do francês.

Verstappen foi veloz quando a pista estava para intermediários, se segurou bem quando estava de intermediários usados e a pista estava encharcada, a equipe leu bem a situação e tinha a tal gordurinha para arriscar esperar a bandeira vermelha. A receita perfeita para uma das melhores atuações que Interlagos já viu.

1 Comment

  1. Mamãe do Céu!
    Ler o texto primorosamente escrito pela Julianne, é quase que um oásis, em meio a um deserto de “jornalistas especializados”, que de especializados não tem nada, são apenas mestres em encher linguiça.


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