O campeonato não foi tão monótono quanto uma decisão de título com três provas de antecipação pode indicar. Ainda que 2015 vá sem deixar tantas saudades assim, alguns personagens roubaram a cena – e houve corridas que nos fizeram lembrar de como é bom ver uma F-1 competitiva.
1.Ferrari
Por mais que todos soubessem que os problemas que a Ferrari teve em sua unidade de potência em 2014 eram relativamente fáceis de resolver e que o carro de 2015 seria, finalmente, feito com um túnel de vento que apresentava boa correlação de dados, era difícil não duvidar de um time que parecia em frangalhos depois de sucessivas trocas de comando em vários setores. Mas não é que a tática deu certo?
Escrevendo estas linhas, lembrei de quando Rob Smedley me disse que certamente a troca de peças importantes daria um resultado positivo na Ferrari. “O que acontece lá é que a pressão só vai aumentando a cada erro. Quando mudam as pessoas, é como se começasse do zero”. E o zero de um dos novos e mais importantes recrutas, Sebastian Vettel, já começou em um nível bastante respeitável. É interessante como, na Itália, dizem que ele não é tão bom quanto Alonso – especialmente em corrida – mas é um pacote melhor, somando dentro e fora da pista. Sendo como for, junto de um motor que encontrou o caminho e sem os problemas aerodinâmicos que assombraram o time na era Alonso, o alemão até agora fez tudo certo para se tornar um dos grandes em Maranello.
Falando na volta da Ferrari, aproveito para destacar as três provas em que Vettel venceu. Malásia e Hungria estiveram entre as melhores provas do ano – lembram das últimas voltas incríveis em Budapeste? – e o final de semana de Cingapura, apesar do GP em si não ter sido tão empolgante, pareceu um oásis no deserto chamado Mercedes.
2. Lewis Hamilton
Quando largou à frente, comandou. Quando largou em segundo – e ainda tinha um campeonato a vencer – deu um jeito de retomar o controle da situação na primeira oportunidade que surgiu. Logo de cara na temporada, ficou claro que só o imponderável poderia parar o inglês, finalmente de bem consigo mesmo após ter passado por uma série de rompimentos sob os olhos sempre críticos do público. E é por isso que Hamilton não foi apenas um dos melhores do ano nas pistas. Há quem possa implicar com sua falta de posicionamento em questões importantes da F-1, algo que seria de se desejar de um tricampeão, mas é bom ver alguém que tentou se encaixar por tanto tempo sair da caixinha – e se tornar um profissional de mais sucesso justamente por isso.
3. Novatos
No automobilismo existe a máxima de que você não pode ensinar alguém consistente a ser rápido, mas pode instruir um piloto rápido a se tornar consistente. E este será o desafio de Verstappen, Sainz e Nasr em 2016. Porque o primeiro quesito eles já demonstraram. No caso do brasileiro, isso ficou mais difícil de avaliar pelos constantes problemas de freios (os quais explicarei em maiores detalhes em uma matéria que será publicada no UOL neste domingo) e o pouco desenvolvimento do carro, mas dá para dizer que o quinto lugar na Austrália e o sexto na Rússia não ficam devendo em nada para as duas quartas colocações de Verstappen com um equipamento superior.
Max, por sua vez, começou cometendo os erros compreenssíveis por sua pouca experiência em automobilismo, mas mostrou que aprende rápido – e que é abusado. Sua segunda metade de campeonato foi impressionante e só nos deixou com uma dúvida: o que esse menino estará fazendo com, sei lá, 24 anos?
Porém, mesmo quando já se mostrava mais adaptado, Verstappen seguiu perdendo em classificações para Sainz, que teve um ano mais complicado que o companheiro em termos de quebras. O espanhol também errou bastante – e, em repetidas vezes nas provas finais do campeonato, quando deveria ter havido uma evolução.
4. Button e Alonso
Das mensagens de rádio irônicas e raivosas às brincadeiras com a própria desgraça, passando pelas incríveis tentativas de defender posições indefensáveis, não consigo lembrar de dois pilotos que tenham protagonizado tanto mesmo estando lutando pelas últimas posições. Eles podem querer esquecer a temporada, mas nos proporcionaram grandes momentos, demonstrando que campeões do mundo não perdem sua majestade tão fácil assim. Ver Alonso brigando com o engenheiro, dizendo que queria lutar por posições (em um circuito de motor como o Canadá), mesmo que ficasse sem combustível no final da prova, ou assistir a Button dando o sangue para superar a Williams de Bottas na última corrida do ano dá a medida do nível de competitividade que não apaga mesmo quando se está lutando, efetivamente, por nada.
5. México
As previsões já era promissoras antes mesmo da F-1 desembarcar na Cidade do México, com os desafios causados pela altitude. Mas ninguém estava esperado para viver o que experimentamos por lá. GP com organização impecável, uma grande ideia de cortar o estádio e trazer o pódio para perto do público – e que público!. Ainda na sexta-feira, as arquibancadas já tremiam instantes antes de Sergio Perez passar, nem que fosse em uma volta de aquecimento de pneus. Foi uma bela surpresa – e também uma lição, pois não há nada melhor do que levar o espetáculo para onde seu público está – para uma categoria que anda tão carente de carinho.
6. Chuva
Quando ela deu as caras, tivemos corridas melhores. Ela trouxe alternativas, como no GP da Inglaterra – em um circuito em que, no papel, as Mercedes tinham tudo para sumir na frente mas no qual, após uma largada ruim, tiveram que suar para voltar à ponta – e nos Estados Unidos – quando a água foi tanta que os carros nem estavam devidamente preparados para correr, vide o problema bizarro das duas Williams. E também abriu possibilidades, como no GP da Rússia, em que o pouco tempo de pista nos treinos livres em um circuito sobre o qual os engenheiros têm pouco conhecimento acabou gerando um final incrível.
9 Comments
Nestes 06 pontos altos (ou positivos) da F1, eu destaco dois:
01-A Scuderia: das chuvas & trovoadas da era-Alonso para o quase “céu de brigadeiro” da era-Vettel. Eu, que não sou fã percebo que a atmosfera esta mais leve e otimista neste momento. A Ferrari dispondo de um excelente material humano e uma mega-estrutura, então se entende que éh uma questão de tempo (ou 2016) para que ela emparelhe com a Mercedes.
E outro ponto são os novatos. Neste trio jovem que estreou na F1, pelo menos um deles eu vislumbro como candidato a estrela da categoria. Vejo grande potencial no Sainz (que foi muitíssimo prejudicado pelo deficitário equipamento) e também acho que o Narz tem condições de mostrar muito mais serviço. Más sem dúvida, o Verstappen Jr éh o kra a ser observado! Sem muito esforço o vejo ou numa Ferrari, Mercedes ou Red Bull em 2017. Como diz o grande-AUCAM, “este nasceu pra ser estrela”! Tenho grandes expectativas para 2016!
Os melhores: Vettel, Kvyat e Max.
Os piores: Choradeira da Red Bull, vergonha da McLaren e o Rosberg.
Eu acho que o Vettel é o piloto mais completo do grid levando-se em consideração o trabalho na pista e fora dela. Pra mim ele e Hamilton são os melhore. Alonso já ficou pra trás e a tendência é entrar em decadência.
Boa análise Julianne. Não digo excelente porque discordo (com todo o respeito, dou-me a essa petulância) de sua avaliação dos novatos. Max Verstappen foi QUASE UNANIMEMENTE a sensação da temporada e nem de longe dá para comparar o talento de Nasr com o do holandês. Ouso imaginar que se tivesse corrido pela Toro Rosso ao lado de Carlos Sainz, Felipe Nasr teria sido engolido pelo espanhol, que é excelente, embora não excepcional como Max Verstappen. As habilidades que Verstappen demonstrou com tanta precocidade (e tão pouco tempo de automobilismo) têm todos os indícios de um piloto fora-de-série, enquanto Nasr, com tantos anos de anos de automobilismo esboçou apenas um talento mediano (só na GP 2 foram 3 anos sem conseguir sequer um vice-campeonato, e perdendo inclusive para o mediano Jolyon Palmer como companheiro de equipe e como adversário em outro time – Nasr só logrou vencer na GP 2 após 50 corridas!). Nem vou ficar repetindo aqui, mas já tivemos muitos brasileiros com muito mais talento que Nasr, que este ano também não se mostrou assim tão superior ao fracote Ericsson. Será que Ericsson corria com freios MELHORES que os de Felipe ou COM OS MESMOS e se adaptou a eles mais efetivamente que o brasileiro? Não tenho essa informação. Mas eu torço para que Nasr se consolide na F 1, pois é o que o Brasil tem pra hoje na categoria, quando Massa se retirar. E sem um brasileiro, do jeito que as coisas caminham, não sei se teremos um GP do Brasil por muito mais tempo, ou transmissões na TV aberta (e talvez até na fechada).
Max Verstappen em sua primeira temporada COMPLETA no automobilismo mostrou a consistência de Alonso, o arrojo de Hamilton e a frieza de Vettel, embora até tenha sido menos veloz que Sainz Jr. nas classificações (o que demonstra a qualidade do jovem espanhol).
Não consigo imaginar Nasr sendo cobiçado pela Ferrari, pela McLaren, pela Mercedes ou pela Red Bull na frente de Max Verstappen, na frente de Carlos Sainz Jr., na frente de Vandoorne (quebrou todos os recordes da GP 2), na frente de Kvyat (que se impôs a Ricciardo) ou de Pascal Wehrlein (com apenas 20 anos, e que derrubou os cobras do DTM). Nasr talvez possa ser cobiçado pela Williams, com um robusto patrocínio. Aliás, a Williams, inglesa, já tem o mediano inglês (pra não dizer fracote) Alex Lynn como reserva.
PS: na Blanchimont (por fora), CURVA DE ALTÍSSIMA, Verstappen era empurrado por uma ANÊMICA, SUBNUTRIDA PU Renault, e Nasr por uma PU Ferrari. . . (mesmo que não fosse igual à de fábrica).
Eu acho que as pessoas sentiram um alivio pelo Nasr sair melhor que a encomenda. Os anos na GP2 com transmissao televisa mostraram que nao era nenhum genio.
Menino maduro, consciente, fala bem… mas nao tem tooooda aquela velocidade e well…talento.
Por isso ao fazer uma quantidade quase nula de besteiras para um rookie e andar razoavelmente bem, ele ganhou esse trofeu “ok, esse da para conduzir um carro e conquistar alguns bons resultados”.
Um alivio para os acionistas do time, para patrocinadores. Um bom negocio, mas nao um campeao.
Ju,
Aqui no blog, não se coloca muita fé no Nasr. E no Padock, fala-se alguma coisa dele? Ele é respeitado, ou apenas “mais um”? Alguém “reclama” dele? Não da mesma forma que reclamam do Maldonado ou reclamavam do Grosjean. Da forma que reclamaram do Verstappen… Do Senna… Do Schumacher…
Gostaria, também, de saber o que credencia o Nasr, na sua perspectiva, para coloca-lo “no mesmo saco” que Verstappen a Sainz. Só o fato dele ser novato, ou tem mais alguma coisa?
Acho que muito da ‘bronca’ dos brasileiros com ele tem a ver com as expectativas – que, por sinal, ele não alimenta. Da mesma forma, as pessoas no geral se impressionaram muito com Verstappen porque achavam que ele era novo demais e faria muita besteira. Também, um embate entre expectativa x realidade.
O trabalho do Felipe tem sido respeitado sim, afinal, foram 27 pontos com uma Sauber e poucos erros. Sobre reclamações, ouvi uma ou outra coisa sobre agressividade excessiva em largadas no início do ano, mas depois isso esfriou. Acredito que as estreias dos três tenham tido seu valor, os três chegaram prontos e demonstraram também capacidade de evolução, e isso é positivo para a F1.
Também achei que faltou o Nasr engolir o Ericsson, que é o mais fraco do grid. Mas vou dar um desconto pelo problema dos freios.
Além da chuva, o safety car também agitou algumas corridas, como na Rússia.
Hahaha acertou a idade, Ju!
Com 24 anos o Max estaria sendo campeão mundial! Boa!