F1 Para Kubica, rali é treino que a Fórmula 1 não permite - Julianne Cerasoli Skip to content

Para Kubica, rali é treino que a Fórmula 1 não permite

Ver pilotos de F1 competindo em outras categorias foi ficando cada vez menos comum à medida que o esporte foi se profissionalizando e se capitalizando. Tanto, que perder um piloto extraordinário numa categoria menor, como aconteceu com o bicampeão Jim Clark, que morreu num F2 nos anos 1960, hoje seria impensável.

Seria. O acidente de Kubica numa prova de rali acendeu a questão sobre qual o limite dos riscos que um profissional pode assumir fora das pistas de F1 – em contraposição à necessidade driblar a drástica diminuição do tempo de contato com o carro com a limitação dos testes. Num esporte tão ligado à imagem e ao dinheiro, a resposta mais lógica seria: o contrato é o limite. E o acordo firmado pelo polonês e sua equipe permitia sua participação nesses eventos. Quando o piloto assinou com a equipe francesa, que passava por um 2009 deplorável, tinha grande potencial de barganha, e conseguiu uma abertura muito maior do que nos dias de BMW.

Kubica é o símbolo da felicidade a postos dentro de seu carro de rali

Reforçando essa tese, Nelsinho Piquet revelou hoje que a própria Renault era bastante restritiva quando ele pilotava na equipe. “Lembro que eles eram céticos até para me liberar para corridas de kart. Eles não queriam deixar. Sei, porque falo com muita gente de lá, que o Robert é cabeça dura e que deve ter insistido tanto que eles concordaram”, afirmou. “Mas acho que agora todos os contratos vão ficar ainda mais restritos.”

Para o polonês, e ele deixou isso muito claro na entrevista de hoje para a Gazzetta dello Sport, a questão é pragmática: “sou um piloto melhor porque fiz vários ralis ano passado. Eles ajudam na concentração, especialmente agora que quase não há mais testes na F1. Performance na F1 é fruto de uma série de detalhes e o rali permitiu que eu trabalhasse certos aspectos em que ainda tenho que melhorar”.

Em outras palavras, já que não pode treinar em seu próprio esporte, procura outro e, no rali, encontra uma especificidade maior que em outras modalidades. Há pilotos que apostam no triathlon, mais pela questão física, há outros que pegaram gosto pelo xadrez, do lado da concentração. Mas nada é mais específico que guiar.

Webber nem gosta de lembrar dos dias de recuperação

É lógico que sua autoconfiança não permite que sequer imagine a possibilidade de se machucar numa brincadeira dessas. Caso contrário, nem na F1 poderia estar. Na sua cabeça, quanto maior o risco, maior o prazer de sair ileso. E ponto.

É claro que poderia optar pelo kart, e o faria se a equipe não permitisse correr com brinquedos mais sérios, mas o fato é que a Renault achou que disputar ralis era algo razoável e, se, como diz o polonês, isso o faz um piloto melhor, é uma aposta: se meu piloto acredita que estará mais bem preparando correndo determinados riscos, eu permito que ele o faça e assumo as consequências ou tomo uma decisão mais conservadora e fico imaginando o que poderia ter sido? É uma questão difícil.

Mark Webber, que correu as primeiras etapas de 2009 ainda se recuperando de um grave acidente de mountain bike, quando fraturou a perna, fala em equilíbrio. “Precisamos nos sentir vivos fora das pistas. No final das contas, você é adulto e toma as decisões, mas também aceito que há uma grande equipe que trabalha por nós e a qual representamos. Não é fácil encontrar o equilíbrio correto”, disse o australiano, que logo se distanciou da situação de Kubica – “o que aconteceu comigo é como se tivesse quebrado uma unha perto do que aconteceu com ele”.

De qualquer maneira, Kubica só pensa na recuperação. “Quero voltar mais forte que antes, porque depois desses acidentes você não é o mesmo, você melhora.”, acredita. “Aconteceu em 2007, depois da batida do Canadá. Voltei mais forte mentalmente. O piloto não é só acelerador e volante. Há uma diferença entre quem guia a 80% e a 95%.” Confiante na recuperação, disse estar seguro de que volta neste ano. E para o rali? Aí vai ser um pouco mais difícil convencer os chefes.

 

6 Comments

  1. Hoje em dia as categorias do automobilismo são cada vez mais seguras, até mesmo do que as corridas de bicicleta que o Webber gosta. Penso que o rally é até mais seguro que o kart, onde os pilotos ficam muito expostos.

    O que aconteceu com Kubica foi uma fatalidade brutal. Basta ver as fotos e simulações do acidente para verificar o inimaginável acontecendo. Quem imaginaria um guard-rail entrar pela frente do carro, passar pelo motor, habitáculo e sair pelo porta-malas?

    Mas o importante é que o polonês está melhorando e não se sente culpado por fazer algo que tanto gosta que é correr em rallies.

  2. É um assunto complexo. Me lembro de uma entrevista com Barrichello, onde mostrou o estrago feito por uma simples brita no casco de seu capacete. A velocidade que apaixona, é a mesma que levas às lágrimas. Nascer com um dom, ajuda mt, mas o que seria do músico excepcional, sem horas e horas de prática? O que seria do bom escritor, sem horas de leitura e escrita? A f1 destoa do automobilismo em geral, e a maldita falta de testes, influencia consideravelmente na disputa. Não quero dizer, que os caras tenham que testar 24 hs por dia, mas essa conversa de corte de custos, cheira mt mal… A bem da verdade, como é impossível “padronizar” uma pista de rally (imagina, padronizar uma montanha, um despenhadeiro,…), seria mt mais racional, reforçar os carros tipo f1, com kevlar e carbono. Ficaria caro, mas não seria mais seguro? Quem diz que a FIA acerta sempre? Hora, os carros de Rally, são os mesmos de passeio, andando em velocidades absurdas, com apenas reforços tubulares, que deixam lacunas na carroceria, e aí, nasce uma fatalidade. A FIA tem imensa parcela de culpa.

  3. Correr riscos desnecessários é sinal de inconsequencia e imaturidade.

    O argumento de que um piloto corre em provas de Kart ou rali porque é impossível treinar na F1 é absurdo.

    Mesmo na época em que os testes eram liberados a maioria dos pilotos fazia atividades esportivas fora da F1. Isso acontece porque pilotos F1 além de serem pessoas viciadas em adrenalina, precisam muita prática esportiva pra aguentar os rigores de guiar um carro a 300Kms por hora.

    Automobilismo não é esporte. Esporte é o que eles fazem fora da pista pra suportar a tortura física que sofre um piloto profissional de alto nível.

    Já disse aqui que cansei de ver Senna em Angra dos Reis praticando Jet Sky durante horas todos os dias, correndo no píer da Petrobrás debaixo de sol quente…

    O cara era incansável, passava o dia inteiro praticando esportes, principalmente quando não estava em temporada.
    Houve uma vez que ele teve um pequeno acidente no Jet Sky com suspeita de perfuração do tímpano. Tudo isso pra chegar na Europa pronto pra detonar a concorrência.

    Acho uma estupidez o cara participar de uma prova onde o socorro médico demora mais de uma hora pra chegar ao local do acidente. Existem provas de rali onde a estrutura é melhor e mais organizada… É preciso ter um pouco de bom senso na hora de decidir que tipo de prova vc vai disputar.

    Kubica tem 26 anos, é um garoto. Está no auge da sua força e energia física mas ainda é imaturo pra tomar certas decisões. Seus empresários e chefes de equipe é que deveriam ter lhe dado uma orientação melhor no sentido de preservá-lo.

  4. Julianne,

    Muito pontual seu post, e ótimo como sempre! Pilotos são únicos, são indivíduos que não sabem ficar quietos.

    Lembrei-me de outros exemplos como Michael Schumacher que de tanto cair de moto, sua esposa agradeceu a Deus, por ele, voltar a correr na F-1.

    Até mesmo Montoya que, provavelmente, perdeu sua maior oportunidade de ser campeão na F-1 em 2005, quando ainda no início de campeonato foi se aventurar a pilotar MotoCross, caiu, deslocou o ombro, ficou fora de duas corridas, e só voltou a pilotar bem no fim do campeonato… Ainda teve a cara de pau de dizer para a McLaren que foi em uma partida de Tênis.

    Abraço!

  5. Esse assunto foge dos padrões da racionalidade, mas se levarmos em consideração o quanto o automobilismo é um esporte perigoso e insano, ficaríamos discutindo até amanhã. O fato é que há momentos que o racionalismo não pode explicar. O que dizer de Barrichello, Shumacher, Valentino Rossi, homens milionários e bem sucedidos, ainda se exporem aos grandes riscos da velocidade? O que dizer da f1 passada, onde diziam que andar nos carros, “era como entrar em uma banheira fumando um charuto”? A paixão foge ao racional, e podemos ver o quanto é passional a ligação desses caras com suas máquinas! http://3.bp.blogspot.com/_iqek1UNA-ZE/SCnF_oB1MlI/AAAAAAAAHWw/-l635t4U8Xw/s1600-h/1979-Villeneuve-cockpit.jpg http://3.bp.blogspot.com/_iqek1UNA-ZE/SCnF_oB1MlI/AAAAAAAAHWw/-l635t4U8Xw/s1600-h/1979-Villeneuve-cockpit.jpg


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