F1 Para que temos programas de desenvolvimento de pilotos? - Julianne Cerasoli Skip to content

Para que temos programas de desenvolvimento de pilotos?

Eles não se metem em confusão, já têm o discurso pronto e sabem o que fazer na pista. Não é à tôa que a Fórmula 1 tem assistindo nos últimos anos ao surgimento quase meteórico de jovens talentos que parecem tirar de letra aquela fase de adaptação que, num passado não muito distante, seus pares custavam a superar.

Sebastian Vettel, Lewis Hamilton, Nico Rosberg, Robert Kubica, Sergio Perez, para ficar em alguns exemplos, formam uma geração que já chegou na categoria de diploma na mão. São os frutos dos variados programas de desenvolvimento de pilotos, que se tornaram fundamentais na última década.

Mas o que será que esses programas ensinam, já que os testes pra valer com os carros de Fórmula 1 são tão limitados?

Esse vídeo da recém-criada academia de pilotos da Ferrari mostra bem como é o dia a dia nada leve dos aspirantes a grandes pilotos de Fórmula 1. Absolutamente todas as áreas que o profissional tem que dominar são trabalhadas, desde o trabalho em grupo até a performance na pista em si.

http://youtu.be/3j89F1krER4

Os programas visam não apenas acompanhar e dar suporte para que o, na grande maioria das vezes, adolescente tenha uma base adequada nas categorias menores, como também atuam na formação daquele funcionário dos sonhos de qualquer equipe.

Portanto, os meninos passam por dinâmicas de grupo, para aprenderem a trabalhar em função da equipe, treinamentos físicos e mentais, além de receberem instruções de como devem se portar frente às câmeras. Não é de se estranhar que, quando chegam na Fórmula 1, o discurso já está preparado: “quero aprender com meu companheiro de equipe; claro que quero batê-lo, mas o mais importante é que desenvolvamos o carro juntos”, blá, blá, blá.

À primeira vista, fazer parte de um programa de desenvolvimento de pilotos parece ser a solução de todos os problemas, principalmente daquele piloto que não tem muito patrocínio no bolso. Afinal, quem tem apoio costuma correr pelas melhores equipes em todas as categorias que disputa e uma grande estrutura à disposição.

No entanto, isso não vem de graça. As empresas geralmente admitem que o piloto passe por um ano de adaptação e, no segundo, não há outro resultado esperado a não ser o título. Logo, esses meninos aprendem desde cedo uma lição que vai ser reforçada a cada GP que disputarem: por mais difícil que seja chegar, ficar é pior ainda.

A Renault virou motivo de chacota quando anunciou um sem-número de reservas

Foi o que descobriram alguns que ficaram pelo caminho. Os brasileiros Nelsinho Piquet e Lucas Di Grassi tiveram apoio da Renault depois de remarem bastante nas categorias inferiores. O primeiro não conseguiu se adaptar à Fórmula 1, enquanto o segundo, sem espaço na equipe, decidiu seguir voo solo e acabou fazendo apenas uma temporada completa na categoria. A empresa francesa, que tinha várias cartas na manga – e foi queimando uma a uma – ainda dispensou Romain Grosjean. Vale lembrar que, num passado não muito distante, ninguém menos que Robert Kubica também tinha sido demitido.

O excesso de pilotos em condições de ocupar uma vaga na categoria máxima do automobilismo mundial, a preferência por pagantes e a rapidez com que um jovem talento é dispensado são alguns dos entraves do sucesso das carreiras de alguns.

E, ainda que muita gente boa tenha ficado pelo caminho, tudo isso provoca distorções como o fato da própria Renault, gerida hoje pela Genni – que também tem seu programa, por meio da Gravity, de Eric Boullier, que inclusive colocou d’Ambrosio na Virgin – ter nada menos que cinco pilotos reservas (mesmo sem testes durante a temporada!). A Lotus também não fica muito atrás, com quatro.

De concreto, ainda que seja um trabalho multidisciplinar e bem planejado, não há 100% de garantia de sucesso. Não há nada que possa preparar um piloto para a pressão de um final de semana de Fórmula 1. E as equipes gastam os tubos para não correr riscos, mas sabem que estrear na categoria hoje é uma tarefa inglória. Vide o exemplo da própria Renault, tendo que contratar um oitavo piloto para substituir Robert Kubica.

16 Comments

  1. Me lembro de Piquet em início de carreira, dizer que a f1 era um “hobby”. Não dá para imaginar isso com o nível de profissionalismo que o esporte atingiu hj. As academias buscam maximizar o resultado de uma categoria cada vez mais cara e cruel, que dá-se ao luxo de deixar no banco de reservas, a grata surpresa de 2010, Hulkenberg. E olha que o garoto mostrou serviço! As exigências físicas e de marketing tornaram-se absurdas, e imagino que hj, pilotos mais “relax extra pista”, não teriam vez na categoria. O politicamente correto conta tanto quanto o desempenho em pista. Por mais que pareça imoral, no caso crashgate, Nelsinho estaria ileso na categoria hj, se tivesse fingido “não saber de nada”. As academias podem parecer restritivas (para quem está fora), mas com a mesma velocidade que apoiam, cobram resultados.

  2. Formar um piloto é um projeto de risco que custa milhares de dólares e que deve demorar no mínimo uns 4 ou 5 anos, se não for mais. Devem iniciar uma meia dúzia de aspirantes e se tudo der certo deve sair no máximo uns 2 pilotos com condições de ingressar na F1.

    Mas é um projeto interessante, pois já tivemos 2 campeões recentes ( Hamilton e Vettel ) que foram agenciados desde crianças. E na época que se tornaram campeões, seus salários não eram os maiores da F1.

    Já se a opção da equipe, for contratar apenas pilotos prontos ou já campeões, como fez a Ferrari quando contratou Alonso. Com certeza a conta será muito mais salgada, pois de milhares de dólares passamos a falar em milhões de dólares.

    Não à toa, praticamente todas as equipes que têm projetos de longo prazo, trataram de montar um programa de formação de pilotos. E claro, protegidos por contratos e pesadas multas rescisórias, caso a concorrência decida “roubar” o futuro campeão.

  3. Nelsinho Piquet não conseguiu adaptar-se à categoria?

    • Como esse não era o foco, não quis me estender. Sei que simplifiquei muita coisa aí!

    • Pois é, até peço desculpas pelo “off topic” mas pensando bem você está certa.
      É preciso adaptar-se à categoria realmente, não basta ser um bom piloto mas também ser político e entender os meandros das relações pessoais. Talvez nesse sentido Nelson Piquet Jr. não tenha se adaptado mesmo à F1. 😉

      • A idéia é essa De. Como a Ju bem disse, chegar é difícil, permanecer mais ainda. E vamos ser sinceros, amamos a f1 com suas qualidades e defeitos, kkkkkkkkkkkkkkk. Quantas presepadas não se passaram nesses 50 anos de disputa, quanta espionagem, quanta trapaça, mas nós, fissurados pelos pegas, sabemos que assim como a vida real, a f1 não é um mundo perfeito. Não, isso não é uma apologia ao jogo sujo, mas sabemos que a perfeição em atividades que envolvem seres humanos, hehe, é praticamente impossível! Fiquemos em um exemplo, onde os geniais Dennis/Mclaren se elvolveram em espionagem. Erraram, sim, mas os benefícios dos prateados para a disputa, são incomensuráveis. Nesse ponto da adaptabilidade ao contexto, é adimirável a capacidade de Barrichello em manter-se nessa briga de foice no escuro (mesmo sem ser campeão!). Seria sangue de barata? Sei não, mas dessa forma, colocou sua carreira em destaque. Mt mais que pilotos que possuiam melhor técnica que ele, como Räikkonen, Villeneuve e Montoya. Pilotos que tiveram seu talento subaproveitado por não saberem se adaptar às pedras no caminho.

  4. Interessante a passagem do Piquet Jr pela F1.

    Ele teve toda a carreira agenciada pelo Nelsão, que podemos considerar um dos macacos velhos mais experimentados na categoria, mas se envolveu numa tremenda confusão ao denunciar o crashgate.

    No final, podemos dizer que foi o único realmente punido, pois teve todas as portas fechadas.

    Enquanto isso, Alonso disputa mais um campeonato pela Ferrari, Briatore volta e meia ensaia seu retorno e a Renault ressurge como equipe competitiva.

    • Ah, mas eu acho que o Briatore se queimou muito nesse história também. Claro que ele continua rico e poderoso mas sua imagem vai estar sempre manchada. Não que ele esteja ligando pra isso mas com certeza esse episódio o atrapalhou bastante em certas esferas.

      Quanto ao Nelsinho vamos ver, de repente o cara se dá bem na Nascar e pronto.

      De volta ao tópico.

      • Esse assunto do Nelsinho rende uma bíblia, principalmente falando com gente que compreende que o mundo não é dividido entre moçinhos e bandidos!
        Acompanhei muito de perto a carreira dele na F1. É difícil saber o quanto o episódio de Cingapura pesou, mas é fato que ele tinha muitos problemas na classificação – aliás, é o calcanhar de Aquiles dos novatos. Fora isso, achava fascinante de certa forma a fragilidade que ele demonstrava nas entrevistas. E no último sábado, ao conseguir o melhor resultado de um brasileiro na história da NASCAR, ele falou em alívio. Como esse garoto se cobra!

  5. Lembrei daquele vídeo do Senna quando ele vai testar um F1 (Williams) pela 1º vez. É visível seu nervosismo, e a hora que ele acaricia o spoiler traseiro e diz “é hoje” dá a idéia exata de como aquele momento era especial.
    Hoje, com o programa de pilotos, esse tipo de situação fica impossível de se repetir.
    Tanto pro bem quanto pro mal.
    Sign of times…

    • Acho que isso acontece ainda, mas com meninos cada vez mais novos – acho que Senna era mais velho que Vettel é hoje nesse dia, não?
      Lembro de ter visto um especial na TV, infelizmente não me lembro o nome, de uma espécie de “peneira” na BMW. Eram meninos de 15, 16 anos, campeões de kart, fazendo um cursinho intensivo para ver quem seria escolhido. Pressão pouca é bobagem!

  6. Hehe, nada como o “auto nível” (proposital, rsrsrsrs), para despertar. Ju, quando vc fala de fragilidade/auto cobrança, Nelsinho tinha sua maior barreira em casa. Como superar um monstro sagrado do automobilismo mundial!? O caráter do pai afugenta. Se pensarmos que foi gerenciado em casa, inclusive com a criação da equipe, em seu redor, a pressão é grande. Talvez a estadia em um programa de pilotos seria mais salutar. Sem preconceito, mas pelo caráter introspectivo, pavio curto e sem rodeios, Nelson Piquet não seria o professor ideal, penso eu. Sabe, De, quando vc fala de nervosismo, fico imaginando que por mais que existam “máscaras”, bons-mocismos, algumas atitudes independente de câmeras, são inconfundivelmente humanas e espontâneas, como essa:
    http://www.youtube.com/watch?v=0yCsdnUW2Ww

    • Wagner,

      Fantástico esse vídeo do Hamilton. A alegria de uma pessoa que realiza um sonho de criança, imagino as cenas que se passaram na cabeça dele naquele momento.

      E pelo comentário que ele fez, não há comparação com os carros de hoje. Imagine, 1.200 cv de potência, fazendo curvas em Mônaco com uma mão e com o capacete exposto daquele jeito!

      Por isso, que não é nada fácil a vida de um piloto de F1.

      • Achei uma passagem interessante em seu comentário, Ricardo. Quando Hamilton fala sobre a dificuldade em se andar em Mônaco, com 1200 hp, com câmbio manual, me lembrei de algo. Quando cheguei aqui no Faster, fazia “algumas” comparações, mas a Ju me abriu a mente, sobre as dificuldades apenas mudarem de “rótulo”, ou seja, as dificuldades apenas se modificam. Vendo essa Mclaren de Senna, que era o super carro em 1988, tive a curiosidade de checar os números da pole em Spa 88, e comparei com 2010. Impressiona, pois a pista basicamente é a mesma, mas vejamos os números. Pole/Senna/88: 1′ 53″ 718 Pole/Webber/2010: 1′ 45″ 778. O que os números mostram? Apesar da diferença de tecnologia, são praticamente 8 segundos de diferença, fazendo-nos interpretar o quanto os pilotos hj têm que se moldar para desafiar os circuitos, em maior velocidade. A emoção de Hamilton é normal, mas o que é novidade para o inglês, seria novidade para os pilotos daquela época hj. Se não me engano, Alain Prost andou em um desses carros modernos, e ficou impressionado com a tecnologia da atualidade. Refletindo melhor, cada época com seus malucos, mas as dificuldades estão aí para todos, em diferentes graus, mas os melhores, esses se destacam. Assim como seria difícil para um piloto aguentar uma corrida com câmbio manual, para os pilotos antigos, que não possuiam o preparo físico dos pilotos de hj, seria mt, mt difícil domar os carros de hj, com sua espantosa frenagem, e velocidade em curvas absurda, além é claro da falta de testes. Épocas são singulares.

  7. Excelente Post Ju. Faz poucos dias andei pensando exatamente nisto. Engraçado que estou passando por isso agora. Meu filho que fará 6 anos este ano, ganhou de um amigo, que é preparador de kart (é o preparador do kart campeão das 500 milhas da granja viana 2010 inclusive) um mini teste com um kart na categoria Cadete. E minha grande preocupação é: E se ele gostar? (99,9% de chances de a resposta ser sim). Com um muita luta e dedicação minha e de familiares, até conseguiremos manter ele por algumas temporadas, but…o ponto de inflexão ocorre muito cedo. Um caminho pra se mirar é a formula futuro. Mas isso quando ele tiver 15…16 anos, seriam 10 anos de carreira no kart, ao custo aproximado de pelo menos 400 mil reais neste período de 10 anos, pra garantir condições decentes pra ele disputar títulos. Daí indo pra fórmula futuro, uma temporada custaria em torno de 300 mil. Daí são 2 opções: 1 ganhar o titulo e ir pra escola da ferrari; 2 ficar mais um ano na formula futuro e tentar novamente o título.

    Qualquer situação diferente desta significa tentar outras categorias, como formulas européias (Brasil não existe automobilismo de formação, com excessão da acima citada). Isso significa que pra ir pra europa, além de patrocínio, o “paitrocinio” continua, pois normalmente o patrocínio vai todo para o carro e equipe, e o “paitrocinio” vai para bancar moradia, viagens, alimentação, academia, personal trainer, psicologo (familia longe = ser depressivo), e mais tudo que se gasta pra manter uma vida decente numa europa da vida.

    Eu já fiz minhas contas…e posso dizer que 1 milhão, diluídos aí em 12 ou 13 anos (metade disso vai nos dois últimos) existe uma chance…bem minúscula de ele quem sabe, se for um gênio…chegar a F1.

    Esse é o dilema/desafio de um pai que não está resistindo aos olhos brilhantes de um filho que ta muito empolgado pra sentar no kart e acelerar!

    • Lendo seu comentário, lembrei-me de duas coisas:
      primeiro, uma matéria da Autosport, de quando o Hamilton surgiu, contabilizando quanto foi gasto com ele: o título era algo como “são necessários 10 milhões de libras para a Inglaterra ter o novo Lewis Hamilton”. E olha que é a Meca do automobilismo. Certamente o pai funcionário da empresa estatal de trens não conseguiria tê-lo bancado nem até o final da carreira no kart.
      Segundo, da história de Alonso, não sei se você sabe. Ele ganhou tudo o que podia na Espanha, na época trabalhava como mecânico dos meninos mais jovens para conseguir uns trocados e ajudar o pai, mas a família não aguentou. Aos 13 anos, se não me engano, o pai disse a ele que não dava mais. E ele aceitou, sabia que tinham feito o possível. Na mesma época, surgiu um preparador de karts italiano que o levou para uma corrida para observá-lo. O então menino sabia que era sua única chance, e venceu todas as baterias. A partir daí, Marcó praticamente o adotou e o levou pra correr na Itália.
      Poderia ficar horas contando histórias semelhantes. Do pai carpinteiro do Vettel, da origem humilde do Schumacher. Difícil é achar um grande campeão com um caminho fácil.


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