Tenho o costume de compilar alguns números aleatoriamente, sem saber onde vou chegar. Deixo que eles me guiem e indiquem algo a que não tinha prestado atenção antes. Dia desses resolvi vasculhar o ‘duelo’ entre Massa e Alonso na Ferrari.
Confesso que acreditava que encontraria uma ladeira: alguns sinais de briga em 2010, uma distância maior em 2011 e o abismo deste início de 2012. Não foi bem isso. Primeiro, salta aos olhos a queda nos resultados da Ferrari como um todo nestes dois anos e cinco GPs. Anos de reestruturação interna, desde a chegada de Pat Fry em meados de 2010, mas que ainda engatinha em termos de resultados.
Massa vs Alonso: de 2010 até o GP da Espanha de 2012
2010 (19 GPs) | 2011 (19 GPs) | 2012 (5 GPs) | |
% pontuação | 36,3% | 31,4% | 3,1% |
Melhor colocação | 2º (2x) vs 1º (5x) | 5º (6x) vs 1º (1x) | 9º (1x) vs 1º (1x) |
Pódios | 5 a 10 | 0 a 10 | 0 a 2 |
Pos. média largada | 7,7 vs 5,7 | 5.79 vs 4.58 | 14 vs 8 |
Pos. média chegada | 7,1 vs 4 | 6.3 vs 3.4 | 13 vs 4.8 |
Placar classificação | 4 a 15 | 4 a 15 | 0 a 5 |
Dif. média | 0.297 | 0.294 | 0.544 |
Placar corrida* | 3 a 13 | 2 a 13 | 0 a 4 |
Abandonos | 1 (acidente) vs 2 (acidente/motor) | 3 (2 acidentes/ 1 quebra) vs 1 (acidente) | 1 (acidente) vs 0 |
*levando em consideração apenas as provas que ambos completaram
O que também impressiona é como Massa tem corrido mal. É lógico que a comparação com Alonso, especialista em crescer aos domingos escolhendo os momentos de aproveitar as oportunidades e dono de uma consistência em ritmo de corrida invejável, sempre seria complicada para o brasileiro, mas vemos desde a Austrália 2011 até aqui uma tendência a cair da classificação – na qual já não vem tendo desempenho brilhante há tempos – para a corrida.
Largando mais atrás com o F2012, a tendência seria um salto grande, como observamos nos números de Alonso. Mas o brasileiro ganha, em média, uma posição nas corridas, mesmo sendo o piloto que mais lucrou em largadas até agora – ultrapassou 21 carros no total, 7 a mais que o segundo colocado no quesito, Timo Glock.
Em 2010, eram os pneus duros demais da Bridgestone. Em 2011, novamente eles, agora Pirelli, mas ainda difíceis para a Ferrari aquecer. Agora, parece uma dificuldade no acerto que leva o piloto a não se sentir confortável para a classificação. E, largando atrás, uma série de implicações estratégias acaba com seus finais de semana. Para piorar, tem de lidar com um carro instável, que tende a consumir mais pneu, e lento de reta, o que dificulta a ultrapassagem.
Como se não bastasse lidar com seus próprios problemas, Massa convive com a sombra de um piloto que vive seu melhor momento na carreira. É impossível falar da queda de Felipe sem valorizar o que Alonso tem feito desde meados de 2010. Livrou-se dos erros das primeiras corridas na Ferrari, que acabaram lhe custando o campeonato, e pontuou em simplesmente 29 dos últimos 30 GPs – teve, desde o GP da Bélgica de 2010, um abandono, por acidente, no Canadá em 2011.
Não há paralelos quanto a esse nível de consistência no grid, e estamos falando de concorrentes fortes. Se ninguém pode com Alonso, não será Massa, um piloto competente, mas não no nível de outros campeões, e que lucrou o quanto pôde dos últimos anos de uma Ferrari dominante entre 2006 e 2008, que fará frente ao espanhol.
A pressão por resultados vinda de Maranello nem é essa: os italianos consideram uma distância de 0s3 entre seus pilotos como normal e realmente foi essa a tendência de 2010 e 2011. Além do que, para eles, não é interessante ter um piloto que roube pontos de Alonso, principalmente em tempos nos quais não conseguem fazer carros dominantes. O que Massa precisa fazer para manter o emprego ao menos até o final do ano é roubar pontos dos rivais; é o mínimo. E isso começa com uma classificação melhor, mas passa por um quesito importante que vem fazendo falta nos últimos anos: consistência.
16 Comments
Nao entendi muito bem essa tabela nao
É sempre ver ver a comparação real entre pilotos da mesma equipe. Assim vemos que o “abismo” tão batido pela mídia sensacionalista não é bem tudo aquilo. Óbvio que Massa não está em um bom momento, mas de que adianta bater e derrubar em quem insiste e precisa levantar para vencer ou dar a volta por cima. Questão de “família”, afinal, o irmão mais velho de Massa, Schumacher, também não anda lá muito bem e desde 2010. Mesmo ano em que Massa começou a se perder.
O que a imprensa europeia anda falando é que eles [a Ferrari] querem é que o Massa pontue por conta do campeonato de construtores (onde correm as apostas pesadas), que passou a ser possível para todos em função do “composto mágico da sorte” da Pirelli… A mesma pressão que começou a correr para cima do Bruno com a “vitória chavista”. Note que a dúvida em relação a Massa é se o substituem no meio da temporada (o que não só estragaria seu final de carreira na Fórmula 1 provavelmente já ao final deste ano [a não ser que leve patrocínio para a HTR, Marusia, Caterham], como também sua possível ida para a Indy, onde até o Jean Alesi – quem se lembra? – foi parar e encara a Indy 500 neste mesmo final de semana… Domingo é um busy day, de manhã F1 e a tarde a Indy ) já que é certo que não estará na próxima temporada… a não ser que, de fato, o impossível aconteça (ou tome uma pílula Pirelli) e passe a pontuar feito um bom mediano piloto. Dizem que nunca se habitou a perda do controle de tração…
O fim do controle de tração ocorreu no início de 2008, então é uma tese difícil de sustentar. Vejo dificuldade nele se adaptar a guiar sem reabastecimento.
Também achei, mas é tese de quem janta com ele… Imagina se não jantasse… ia dizer que o problema do Massa é que depois que a Ferrari ajustou o seu banco e ele passou a finalmente a alcançar o pedal do freio… essa tese, depois da do trauma do acidente é forte também. Outra que você tem razão é dele não se acostumar ao não abastecimento e ainda mais o volante tremendo feito um brinquedo erótico descontrolado, ele não vai se adaptar… O Rubinho está até com medo de ficar com Mau de Parkison.
Difícil entender essa sua tabelinha hehehehe
Me digam o que está confuso e eu arrumo, ok?
A comparação é do Massa em relação ao Alonso, então os primeiros números dos “vs” são do Massa.
coloca o nome da tabela “Massa vs Alonso” no lugar de “Alonso vs Massa” (:
Ju,
estou com algumas duvidas e gostaria de pergunta-la
1- Andei lendo que um dos membros da Mercedes disse que o estilo do Schumacher é tão agressivo que ultrapassa o limite dos pneus,na sua opinião isso implica em perda de velocidade dele ?
2 – o Schumacher tem problema com a falta de controle de tração ?
3 – Qual é o problema principal do Massa ?
É curioso que Massa e Schumacher têm estilos semelhantes, forçando a saída de curva. Já abordei porque isso é prejudicial (http://www.totalrace.com.br/blog/juliannecerasoli/2011/12/09/os-segredos-para-se-domar-os-pirelli). Porém, no caso do alemão, seu ritmo não tem sido de todo ruim neste ano, ano contrário do brasileiro. Foram dois abandonos por motivos técnicos e uma batida, ou seja, acho que é pouco “material” para observar ainda.
“ninguém pode com Alonso…” pode Juliana… claro que pode. E só dar o mesmo equipamento e as mesmas condições de trabalho. Se bem me lembro um estreante já fez isso com ele …
Schumacher faria frente com Alonso,em 2006 ambos terminaram o campeonato com 7 vitórias.
Ju, muito bom o seu post, esclarecedor. De 2010 para cá, os carros da Ferrari vêm piorando! Massa é um piloto de explosão, assim como Hamilton, ao passo que o fim do reabastecimento, onde se podia acelerar, sem se preocupar com dosajem do equipamento, acaba influenciando na pilotagem desses pilotos mais agressivos. A regularidade de Alonso, digna dos fora de série, mostra a adaptabilidade do piloto que dança conforme a música, mesmo que o carro seja uma karroça rampante. Assim como Massa, Hamilton me parece afetado por essa nova F1 mais técnica, afinal contou com bons carros em 2010 e 2011, sendo que em 2011, perdeu a disputa para a regularidade de Button, outro piloto que cresceu muito com os tanques cheios. Sobre o controle de tração/reabastecimento/Bridgestone, penso que deixavam as corridas mais “fáceis”, afinal entre acelerar loucamente e acelerar e dosar o equipamento para não parar no posto de gasolina, há uma grande diferença! Atualmente deve-se guiar com os pés/mãos/e cérebro.
Bela analisis Ju, mas se o decrescimo da Ferrari foi aritmético, o do Massa foi geométrico. E mais 3 resultados ruins, e não terá como se sustentar na Ferrari. A coisa está tão preta pro lado dele, que vou pronosticar batida em Monaco.
Olá Julianne,
São muito interessantes suas análises, além de serem bem técnicas.
Parabéns pelo bom trabalho que vem desenvolvendo.
Espero que se torne frequente sua presença nos Autódromos nos finais de semana de F1.
Grande abraço.
Luis Armando
Quem me dera casar com uma mulher como essa, expert em F1.